Marcadores

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Virando a casaca

Levantou-se.
Em seguida subiu na mesa.
Paulão suava frio. Teria ele ensaiado um discurso há dias, mas na hora não saía nada.
- Escutem!!! Tenho algo importante a dizer.
Todos se calaram.
Paulão olhava os rostos afoitos que esperavam os seus dizeres e ficava ainda mais nervoso. Mas enfim soltou:
- Eu sou homem!
O silêncio foi sendo quebrado por “ó”, “meu deus” e todos os tipos de interjeições que demonstrassem pavor.
Aliás, pavor é pouco para expressar o que todos sentiam, incluindo o Paulão.
Peraí!!!
Você deve estar se perguntando: o que há de errado nisto?
O que há de errado nesta declaração?
Paulão era o ícone da pederastia no clube. Clube este do qual era presidente há doze anos. Um gay de carteirinha.
Desses com certificado, diplomas e tudo.
- É o fim do mundo - Diziam os (as) que ainda não tinham desmaiado(a).
Não era possível. Não mesmo.
Paulão foi corajoso, apesar de demorar anos para demonstrar sua masculinidade. Sempre foi cobiçado entre o seu meio. E agora traía sua irmandade.
Em uma cerimônia triste, Paulão entregava sua coroa rosa e partia para casa. Digno de um enterro. Ao invés de seu corpo, foram enterrados sua honra e moral.
Ainda assim, havia pessoas que continuaram respeitando o Paulão, mas a grande maioria agora cochichava pelas saunas e sala de massagens:
- nunca imaginei uma coisa destas, o Paulão um homem!
- que pouca vergonha, que horror!!!

Lucas Loch Moreira

Um comentário:

  1. Excelente!!!

    Um humor sutil e inteligente, realmente surpreendente!!!

    Parabéns!!!!

    Felipe Cereser Umpierre

    ResponderExcluir