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terça-feira, 9 de março de 2010

Romance de um boleiro

Quando eu vi aquele distintivo nela, pensei: ela é do jogo! Vestia um belo uniforme. Short branco, camisa alvinegra e meiões brancos, que lhe acariciavam as panturrilhas. O short, é bom dizer, deixava seu bom preparo físico exposto aos olhos de qualquer torcedor.Tinha o andar de uma bailarina, o olhar feroz de uma zagueiro de segundona gaúcha, as pernas do garrincha.

Como por acaso sentei à mesa ao lado. Ela recém tinha escolhido a dela.

_Uma Polar, por favor!

Aproveitando a atenção do garçom para aquele lado ela o chamou e pediu uma Brahma extra.

Olhei para ela novamente e pensei: o que uma mulher faz num bar. Sozinha. E pedindo cerveja extra? Rapidamente me veio a resposta. Ela queria era conversar sobre futebol com o cara da mesa ao lado, que no (a) caso naquele dia era eu.

Em alguns minutos a gente já estava na mesma mesa. Na dela, é claro. Falamos das nossas preferências táticas, das nossas escalações, plantéis... discutimos jogadas ensaiadas, a linha burra... Enfim... Aquele papo boleiro estava bom. Continuaria ali até que apagassem os refletores.

Marcamos um horário para nos conhecermos melhor.

Propus que fosse sábado. Ela aceitou.

Chegamos no horário combinado. O estádio não estava tão cheio, mas o clima era favorável. Tocava Funk, Hino, Pagode... De tudo. Na hora do hino era mãozinha no peito. Nisso eu pude notar melhor. Atrás dela tinha uma charanga. Redondinha, numa variação perfeita de agudos, médios e graves. Afinadinha. Uma bela charanga. E grande. E a charanga a seguia por onde ela fosse. Sempre. Gostei da charanga.

Começamos a trocar alguns passes. Tabelávamos bem. Dali a pouco já estávamos batendo pênaltis. Às vezes eu batia. Outras ela, aí eu quem defendia. Mas nada de jogo ainda. Não demoraria muito.

Quando tocou um Zeca Pagodinho nós corremos para a bandeirinha para ensaiar uma comemoração no caso de sair algum gol. E ouvimos um apito. Enfim o juiz autorizou. Rolou a bola na arena. A partir dali era onze contra onze.

Eu já estava louco que chegasse aos noventa e até cantarolava: “ Aí, aí, aí, aí, aí... tá chegando a hora... o dia já vem/ raiando, me bem/ e nós temos que ir embora...”

O arbitro sinalizou e subiu a plaquinha. 3 minutos de acréscimos. Tempo para mais umas firulas ali na linha de fundo. Uns cruzamentos aqui, uma cabeceada ali. Nada mais. Afinal era amistoso. E no amistoso a missão é não ser substituído, e eu fiquei o jogo inteiro. E ainda ganhei confiança do professor. Apita o árbitro. Fim de jogo.

Depois marcamos outros tantos. Eles foram ficando cada vez mais pegados, mais quentes. Começamos a treinar juntos. Não demorou muito recebi a faixa de capitão. Referência.

E os jogos seguiam cada vez mais ousados. Umas jogadas de fundo, outras de meia cancha e outras de Muuita cancha. E os lançamentos em profundidade que confundiam a zaga. Sem falar naquela jogada do Ronaldinho: olha pra um lado toca no outro. Desse jeito acabamos com a pintura da casa inteira. Era marca de boladas em todo canto.

Mas até o que é bom cansa. Um dia estava muito entediado com tudo isso. Não queria mais concentrações. Dei um balão.Chutei pra fora do estádio. E ela mandou que eu buscasse a bola. E eu fui. Mas na volta dei um chapéu. Ela não viu. Mas a imprensa estava ali e registrou tudo.

No dia seguinte acordei, ela já tinha levantado. Fui até a porta, o jornal também não estava ali. No seu lugar uma carta do STJD. Nela dizia: “Suspensão por tempo indeterminado... Fora dos gramados por pelo menos 30 dias.” Metade desse eu tempo treinei apenas em campos suplementares e sozinho. Na outra metade freqüentei outros clubes, rodas de pagode e me acostumei fácil com isso. Até que a punição acabou. Mas tinha uma ressalva: se voltasse a acontecer era rescisão de contrato.

Fizemos novamente a pré temporada e iniciamos com uma ótima campanha. Uma goleada atrás da outra. Até que fiz uma jogada perigosa. O juiz tava longe do lance e mandou seguir. Deu vantagem. A imprensa batia em cima. Era toda a favor dela. Contra mim. Piorou tudo quandorecebi uma proposta do exterior. Meus empresários diziam que eu tinha que ir. Eu refutava essa idéia. Gostava da charanga veia. Por culpa dessa dúvida já não jogava todo meu futebol. Ela até já reclamava. E os empresários insistiam que a charanga era mais nova, mais ritmada, o distintivo mais vibrante, maior e melhor desenhado. Além do que, eu ainda poderia treinar lá antes mesmo de assinar o contrato.

Não pude recusar. Dei outro chapéu. Aí veio ela e me deu um amarelo. Fui reclamar, ela puxou o vermelho e na mesma hora me tomou a braçadeira.

Agora ando sem clube. Treinando num estádio aqui, noutro campinho ali... De vez em quando fico meio tarado, digo, parado. Mas o que me dói mesmo é que a braçadeira que ela me tomou não coube no braço do atual capitão do time dela.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ela Engana

Ela não falava palavrão. Creio que a última vez que arrotou foi lá pelos seus dois ou três anos. Bebe pouco. Enfim, uma mulher perfeita pra se casar por uns seis meses. É. Porque mais que esse tempo ninguém agüenta.Festa ela faz, mas assim... discreta. Não arrisca passinhos ousados, por isso jamais fez fiasco em baile nenhum.Mulher pra casar - sentenciaria minha mãe se a ouvisse falando suave em sua voz de doce de leite na mesinha do Cassino’s Bar, com suas caras e trijeitos.Uma baita gostosa – foi o que pensei quando ela foi se levantando pra fazer sei “xixizinho”, como ela disse - sem jeito, faces róseas.Não sei por que ela disse que faria um “xixizinho”. Quem, afinal, se interessaria em saber o que ela vai fazer no banheiro. Que fosse cagar, retocar o gloss ou até mesmo trocar o modes. Ainda mais uma lôra daquelas, que só de começar a falar, faz todos calarem para ouvir sua voz de mumu.Ela sempre falava: “vou fazer um xixizinho”. Sempre. Não podia sair sem ir fazer seu “xixizinho”. Ô mulher que mija, essa.Mulher pra ver no que dá - diria meu pai, ao me olhar pensando em acrescentar: “vai meu filho, arrebenta ela pelo meio”.Dizem que o pai sabe das coisas. Por isso fui ver até onde vai.Conversa vai, conversa vem. Beijinhos aqui, beijinhos ali. Carinhos e carícias cada vez mais quentes e a coisa ia se concretizando. Feitooooo. Gol do Brasil.Namoramos como planejara. Com o passar do tempo fui me angustiando em conviver com uma mulher que não fala palavrão, não arrota nem peida. E que mal eu largo o copo de refri e ela já pega pra lavar. Não entende piadas e quando conta alguma é do tipo: “sabe a piada do não e nem eu?”. Nem Jó agüentaria.Lá por meados do quarto mês eu estava pronto pra terminar o namoro na aurora, mas o que aconteceu naquela madrugada lhe rendeu mais um mês de crédito comigo.Ela peidou. Eu peidava também, mas não era aquilo. O peido dela foi maravilhoso. Cheiro da flor da maçanilha. Parecia um balão sendo esvaziado pelo ventil, o som ecoado por suas nádegas de algodão e ferro.Verdade que não aprecio peidos, mas aquele foi simbólico. Devia ter filmado. Maria Clara peidando na frente de alguém era inédito. Mostraria o vídeo pros meus netinhos.Ela ficou envergonhada por uma semana, o que me deu nos nervos. Devia ter terminado, com peido ou sem peido. Mas só terminamos depois de mais algumas semanas e ela ficou tão chateada comigo que nem me olha mais nos olhos e nem vai aos lugares aonde íamos.Quais banheiros ela anda freqüentando será?Um dia alguém vai ter que me explicar porque diabos ela diz que vai fazer um “xixizinho”.Peraí!Vai ver ela não fazia “xixizinho” nenhum, aquela peidorreira...
Elder Nunes Junior

sábado, 15 de março de 2008

AMANDA

Como faço pra escrever um poema sem usar seu nome?
Como falar nas belezas da vida sem você?
Falar nas flores sem sentir seu perfume
Falar em cores sem ver seus olhos
Falar de doces sem desejar sua boca
Falar nas estrelas sem mais enxergar a que lhe dei
Falar no passado sem ter passado contigo
Falar de tristeza sem lembrar seu choro em meu ombro
Falar em mulher... Falar de amor... Sem pensar em você AMANDA

Elder Nunes Corrêa Junior

Esses Egos

Por esses dias até nem sei, mas esses tempos conferi uma discussão ferrenha na internet. “Pessoal de São Gabriel”, o nome da comunidade do Orkut, onde passava as discórdias as quais me refiro.Quando fui olhar mais atentamente os motivos da tal discussão (que a priori era uma enquete sobre qual seria o melhor jornal da cidade) percebi que, não bastasse os moderadores excluírem os comentários de seus colegas de imprensa, posteriormente excluíram, também, a dita enquete com suas postagens, impondo, assim, um ponto final no assunto.Tudo bem, já que o assunto estava se desvirtuando, mas que eles - que eram os principais alvos e os que mais se contradiziam e depois se justificavam - apenas se reservassem em simplesmente não postar mais.Um moderador levou uma “surra”. Tudo o que ele dizia se voltava contra ele e os demais participantes aproveitavam pra chicotear um pouco mais.Não foi por vergonha ou por medo ou porque seu jornal não estava na frente da enquete, foi pelo EGO que retiraram a enquete da comunidade. Ego, e só.O ego do cara ficou ferido. Não tenho nada contra a dita pessoa, até me dou com ele, mas realmente, é muito ego pra pouca prosa.Foi por culpa desse tal de ego que o Inter perdeu os dois últimos gauchões. É por ego que alguns jogadores inventam jogadinhas como o chute falso do Valdívia ou o da foca, do Kerlon, e o que alguns mudam toda hora de cabelo ou buscam o gol mil (e não é o da wolksvagem). Contando fogueirão, pelada de rua, três-dentro-três-fora, super chance, joguinhos de final de semana e no pátio de casa com certeza eu já tenho muito mais de mil gols. Dez, vinte mil. Sei lá.É por esse mesmo ego que o Brasil inteiro está nesse chororô.é por isso também que jogadores como Roger e Rada casam com atrizes, ou vão pra Europa e voltam só no carnaval pra desfilar na Sapucaí.É o ego que não deixa alguns jogadores enriquecerem e virarem craques.Ego. Ego. Ego... O mal ou o bem do mundo?Admito, é, também, pelo ego que eu sou centroavante e uso a camisa 9.

Elder Nunes Corrêa Junior

Texto Publicado em 15/03/2008 no Cenário de Notícias.

sábado, 8 de setembro de 2007

Amor de Rodoviária

Fui levar minha tia na rodoviária. Ela ia... Sei lá pra qual cidade; cada vez ela está numa cidade que já nem sei onde ela realmente mora. Enquanto ela comprava sua passagem fiquei na porta do ônibus junto a suas bagagens.
Eu estava escutando Moacyr Franco no meu MP3, acho que era seu amor ainda é tudo. Tem gente que faz cada cara quando digo que escuto Moacyr. Aposto que não sabem nenhuma música dele nem ouviram suas histórias, mesmo assim tem preconceito. Eu mesmo fui virar fã dele quando descobri que ele conheceu sua esposa ele tinha 54 anos, ela 15. Pouco tempo depois casaram. Poxa... Ele era mais feio que agora. E ela... Lin-dís-si-ma. Mas isso nem vem tanto ao caso.
Pois bem. Sabe aquela mulher maravilhosa, estonteante, exuberante, linda, elegante, charmosa, carismática, pernas longas, coxas grossas e bem torneadas, seios rijos que caberiam na concha da mão, pele que uma seda, os olhos brilhavam como as estrelas, a boca com um sorriso de 300 dentes, e um narizinho que lembrava a Ana-do-Véu, da novela Sinhá-Moça- seus cabelos negros com algumas discretas mechas coloridas, sua altura, aquela calça que vestia, nem vou falar em suas nádegas, um conjunto que combinava em tudo. Se já não bastasse isso, ela ainda me atraia pelo perfume do seu creme de pentear. Sou louco por cheiro de cabelo. Ela estava a alguns passos de mim, mas parecia que eu estava ali do seu lado, cheirando seu pescoço e seus cabelos. Uooooooooooooollllllllll...
Nos dois ali. Numa rodoviária, suja. Em instantes ela iria embarcar e tomar seu rumo. Eu teria de voltar pra casa. Eu devia traçar um plano. Uma cantada dessas baratas, quem sabe. O primeiro passo foi nomear a operação. Moleza. Operação Amor de Rodoviária. Um nome criativo assim não poderia falhar. Comecei a lembrar de algumas cantadas do tipo:
_Oi. Tu ta de aniversário? É... Mas ta de parabéns.
Mas e depois? Falar o quê? Pensei noutra:
_Oi. Ta esperando o ônibus? É... Mas ta no ponto hein. - só que ela realmente estava esperando o ônibus, seria muita idiotice.
Me veio na cabeça uma melhor, que de quebra ainda desdenharia daquela bela moça. É assim:
_Oi. Tu é garçonete? Mas já me serve! - A pior cantada. Cantada de quem quer se afastar ou ainda levar um tapa.
Não me atrevi a usar nenhuma dessas “cantadas” nela. Ela parecia tão educada que seria até judiaria. Ela não mereceria ouvir essas bobagens. Acabei adotando outra tática. As mulheres que são lindas acham que todos os homens têm que dar bola pra elas. Elas percebem quando um homem não repara nelas e começam a dar bola pra estes, pros outros elas nem ligam.
A tática é o seguinte: Faço de conta que não estou “afim” dela, ela vai ficar furiosa com isso e começar a me cortejar. Eu me faço um pouco de difícil e antes que seu ônibus saia fico com ela, convido-a pra ir até minha casa e que pegue o próximo ônibus. Mas pra que isso aconteça sequer poderia olhar pra ela, no máximo e discretamente sentir o perfume de seus cabelos.
Foi exatamente o que fiz. Claro que não iria dar certo. Nunca vai dar certo, mas esta é a tática. Pior é ficar mudando de tática, feito o Alexandre Gallo que nunca conseguiu repetir a escalação do Inter no Brasileirão.
Minha tia tomou seu ônibus e ao me despedir dela a moça havia sumido. Perdi a mulher que poderia vir a ser a mãe dos meus filhos. O pior é que não sei nem seu nome, será que ela iria aceitar batizarmos um filho de Fernandão e outro de Clemer?
Uma lástima. Fui embora, desolado. Daquele dia em diante coloquei uma meta em meu cotidiano, me perguntar freqüentemente: Se o mundo acabar amanha... Eu já fui feliz hoje? Essa é a tática. Pode não dar certo, ou talvez dê. Posso não me perguntar com tanta freqüência assim. Posso até não ter sido feliz por uma, duas semanas, mas a tática é esta. E tu... Já foi feliz hoje?


Elder Corrêa Jr

domingo, 12 de agosto de 2007

O feitiço contra a FEITICEIRA

Estávamos vivendo nas mil maravilhas. Ela me jurava amor eterno. Que eu era tudo para ela, a melhor coisa que já havia acontecido em seus 20 anos de vida.
Eu no começo nem gostava tanto dela, mas como não iria me apaixonar por aquela moça, loira, olhos verdes, um metro e setenta - bem minha altura-terna, cheirosa, carinhosa, companheira, inteligente, quente. E era colorada, apesar de não acompanhar o futebol. Até sua mãe me adorava.
Dela eu só não gostava duas coisas: Uma era seu péssimo costume de repreender as pessoas quando falavam errado, chegava a ser constrangedor. Ela não perdoava nenhum erro. Outra eram suas amigas, em especial a Claudinha, ninguém me tira da cabeça que ela tentava aproximar seu irmão da minha namorada. Ela dizia que não, que essa história era sem-pé-nem-cabeça. E eu nem insistia tanto no assunto para que não despertasse nela sequer a intenção de reparar no sujeito. Até porque ela repetia para quem quisesse ouvir, que eu era sua alma-gêmea e declarava seu amor a todo instante.
Ela também era tudo para mim, só o que me fazia parar de pensar nela era o futebol, não exatamente o futebol, o INTER. E ela tinha um certo ciúmes disto, embora não reclamasse.
E este sentimento foi colocado à prova. O meu time do coração iria disputar cinco jogos consecutivos no Beira-Rio. Quatro deles pelo Brasileirão e um pela Libertadores. Definitivamente não iria perder esta oportunidade ímpar. Ainda mais que o Inter estava com um time impecável, uma máquina. Com o argumento de que “para afastar é só aproximar e para aproximar é só afastar” palavras ditas por Paulo Santana, parti à capital, deixando-a em São Gabriel aos olhos de todos meus amigos.
Passávamos o dia intero nos falando, ora por telefone, ora pela internet. No dia do segundo jogo do Colorado ela me ligou, uma hora antes da partida. Por medo de ser assaltado deixei meu celular, desligado, na casa do tio Adolfo, onde eu estava hospedado.
No outro dia estranhei que ainda não tinha me ligado. Mas tudo bem. Até que o Júnior me ligou, apavorado, não sabia nem por onde começar, gaguejando mesmo me contou que viu a Natália com outro cara, o Tiago, aquele irmão de sua amiga. Passei o dia abatido. Eu tinha razão. Aquela vadia.
Na noite seguinte vesti minha melhor roupa e fui pro centro. Todo pimpão, cai na gandaia. E porto Alegre é um paraíso particular da esbórnea. Me vinguei.
Para minha surpresa dois dias depois chegou uma carta, pra mim. Era dela, é claro. Me xingando, falando que eu era um traste, que seu novo amante era melhor do que eu em TUDO (assim com letras graúdas), que nunca sentiu prazer em estar comigo, que nunca me amou, que sempre me enganou e que era gremista.
Era tudo mentira. Ela era muito orgulhosa e vaidosa, na certa esperava que eu retornasse um poema com as palavras mais lindas declarando meu amor e implorando que voltasse atrás. Só para mostrar para suas amigas o quanto era idolatrada, a Natália é exibida.
Comprei um envelope, o mais bonito que encontrei, peguei uma caneta vermelha e comecei a corrigir os erros ortográficos da carta. No final coloquei: NOTA 35, e acrescentei um “PRECISA MELHORAR”, em letras garrafais também.
Eu vi o INTERNACIONAL vencer as cinco partidas, cada jogo foi um espetáculo, um massacre sobre cada um dos adversários. Passei uma inesquecível noite de prazer. Mas trocaria tudo isso por ver a cara dela quando, junto com suas amigas, abriu a carta que lhe enviei.

Elder Corrêa Jr

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Mais uma noite no barzinho

Divorciado, bem sucedido profissionalmente, 40 anos, sem muito o que fazer durante a semana, mas hoje é sábado. Tenho freqüentado um barzinho, no centro, ultimamente. Não é qualquer barzinho, é o mesmo bar. Um bar elegante, não tão badalado, é verdade. E badalação é tudo o que um solteirão deveria buscar, ao menos nos sábados. Porem ele tem algo fascinante, um ar de sensualidade que, talvez apenas eu sinta, não sei.
O que tem me levado lá é a música. Ela canta. E canta muito bem. Parece que escuto a voz dela como um cochicho em meu ouvido, e a luz baixa deixa-a ainda mais bela. Sempre peço ao garçom que ela cante a musica Sozinho, só para ouvir “... às vezes no silencio da noite, eu fico imaginando nos dois...”, clássico. Fico olhando-a incansavelmente, e tenho a impressão que ela canta pra mim.
Desta vez estava confiante, quando percebi que ela estava com os olhos em mim, toquei discretamente em minha garganta, sinalizando que gostaria de falar com ela. Ela piscou lentamente os olhos.
Ao término do show, ela levantou-se, agradeceu, poucas pessoas, solteiros, casais, amigos, amantes, desconhecidos, desceu do palco que comportava um banco, um microfone, ela. Vestia um lindo vestido azul com uma fenda ao lado que deixava suas coxas a mostra, suas curvas e um decote que escondia, mas não tapava. Nossa! Uma mulher que leva a loucura o imaginário de qualquer homem.
Sentou-se ao meu lado, no balcão: O que um belo homem faz três noites seguidas, e sozinho? Disse ela tocando seus cachinhos.
_ O primeiro foi culpa do acaso, os outros foi você.
Fui objetivo como nunca, levado pela circunstância e otimismo, falei exatamente o que deveria. E sem ga guegue jjjar.
Antes que o silencio das minhas palavras ecoasse: Acompanha-me num Drink?
_ Sim a noite é longa. Sua resposta veio acompanhada por um lindo sorriso insinuante.
Pedi dois Dry Martini ao garçom, o meu com pouco gelo e com uma dose maior de vermute.Seus olhos, seus poros, seu cheiro, sua boca, meu olhar, minha inquietação. Enfim chegou o sábado, e noite acaba de iniciar.


Elder Nunes Corrêa Junior

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Axilas

Sempre presto atenção nas axilas femininas. Gosto muito. Tenho vontade de beijar, acariciar e até lamber. Parece, para alguns, até estranho, pra mim não. Nunca tive coragem de pedir ou mesmo arriscar, imaginando que nenhuma mulher deixaria. Talvez por ser mesmo estranho, ou por sentir cócegas, mas esse desejo está represado em mim até hoje.
Costumo fazer meu lanche da tarde numa lancheria próxima a meu trabalho, como sempre três pastéis acompanhados por um refrigerante. Dias atrás me deparei com uma cena horrível. Sempre observando as axilas, quando de repente enxergo aquele sovaco cabeludo, e não é modo de dizer. Aqueles pêlos tinham aproximadamente dois dedos de comprimento e uma espessura medonha. Nem nos meus piores pesadelos imaginei um sovaco tão horrível. Jamais pensei que uma mulher pudesse transformar sua axila em algo que mais parecia um rato.
Quando eu vou pra praia fico maravilhado, pois lá as axilas são bem tratadas. Nas cidades muitas vezes são tapadas e até mesmo esquecidas. Na praia não, as mulheres sabem que estão expostas aos olhares de todos. Ah... Só de lembrar já dá arrepios. Falo de quando aquelas mulheres de corpos levemente dourados, cabelos escuros e compridos, mulheres nem magras, muito menos gordas, no ponto, com as axilas bem cuidadas saem da água com o corpo ainda salgado e molhado e se espreguiçam colocando seus punhos na nuca... Nooooossa. É mágico quando as morenas fazem isto, nem mesmo as lôrinhas conseguem ser tão magníficas, e você sabe como as lôrinhas fazem...
Talvez algum dia eu tome coragem e fale que quero acariciar, beijar, bem vocês sabem o resto, e enfim soltar definitivamente o amante de axilas que compreendo na minha personalidade. Provavelmente vão rir de mim, mas quando forem à praia terão convicção que estou certo.

Elder Corrêa Jr

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A sobrancelha do Tonhão

Pirocas Cintilantes e Brocas Vaginais eram a maior rivalidade do futsal da cidade. Os Cintilantes largaram na frente nas contratações, investiram num time extremamente ofensivo e rápido, eles que vestem branco e amarelo, pareciam uns cometas em quadra. Em contraponto os, rubro-negros, Brocas fizeram jus a tradição de montar time guerreiro. Formaram um time com o que havia de melhor nos quesitos força e garra.
Definitivamente 1987 foi o ano mais marcante para ambas as equipes e para a cidade inteira. O citadino era formado por duas chaves. Eles eram cabeça-de-chave e favoritos disparados de seus grupos. Não decepcionaram, chegaram a final com 100% de aproveitamento. Dificilmente os adversários deles passarem do meio da quadra.
A cidade vê esse clássico bem como os gaúchos vêem o gre-nal. Pelo estado inteiro a população é ou colorada ou gremista. Podem até torcer pelo time de sua cidade, mas quem não é gremista é colorado. Aqui também é assim, mesmo que jogue em algum time do citadino, quem não torce pros Brocas Vaginais torce pros Pirocas Cintilantes, raras exceções. Esse fanatismo e características dos times lhes renderam apelidos. Os Brocas eram chamados de Muralha da China, os Pirocas de furacão.
_Vamos derruba esse murinho. Não vai sobra nada deles.
Essa foi a promessa feita por Elias, o goleador do torneio e destaque do time Cintilante, numa entrevista à rádio.
A cidade passou o dia falando sobre essa entrevista. Na noite seguinte todos ligados à rádio. Tonhão, o zagueiro dos Brocas iria ser entrevistado. Antes mesmo do entrevistador perguntar alguma coisa, ele tomou o microfone, dentes serrados, olhos apertados, disse:
_Pra alguém derrubar alguma coisa, tem que passar por mim primeiro. Quero ver ele passar!!!
Botou fogo na rivalidade. Não se falava em mais nada, só no jogo de domingo.
Elias não era desses atacantes vaidosos que usam tiarinhas, brincos, fazem luzes no cabelo, ou usam esses penteados diferentes. Elias não ligava pra isso, ele não era bonitinho. Era lindão mesmo. Desses que fazem as mulheres irem aos jogos, aos treinos e escreverem incontáveis “eu te amo” em papéis higiênicos. Mas ele era casado. A mulher dele era o estereótipo da mulher de jogador de futebol, um metro e setenta e cinco, aproximadamente, olhos claros, magra (não tão magra quanto modelos). Merecedora de ser capa de revista. Sempre ficava na lateral da quadra com os dedinhos enganchados à tela.
Com o ginásio lo-ta-do, iniciou o jogo. Muita movimentação nos primeiros minutos. Elias parecia tenso, hesitava em se aproximar do Tonhão, que insistia em mirá-lo em quadra. Os Cintilantes davam dois, três toques no máximo, sabiam que só passariam pelos Brocas no toque de bola e na velocidade. Já os Brocas apertavam a marcação, forçando o passe errado.
Aos sete minutos o jogo ainda estava 0 a 0, Elias driblou um, passou por outro, mas não conseguia se livrar da marcação deles. Cortou pra cá, gingou pra lá e passou no meio dos dois, uma avenida estava aberta a sua frente. Mas Tonhão- que conhece como ninguém as arduras da zaga e todos os atalhos- já estava vindo como um touro em sua direção.
_AAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRR!!!
Foi o que a torcida inteira ouviu. Eram os berros do Elias depois de ser agredido por um chute na altura do joelho que o fez se retorcer todo, antes mesmo de cair estirado no chão.
Tonhão sabia que seria expulso, se viu na obrigação de levar algum adversário junto, mas ninguém veio tirar satisfação com ele. Chutou o Elias, que ainda estava no chão, quando o companheiro de Elias chegou perto de Tonhão pra reclamar, ele simulou ter levado um soco. E o juiz que vinha lhe dar o merecido cartão, aproveitou e expulsou os dois.
Mesmo sentindo Elias continuou jogando, afinal, era o craque da competição.
Tonhão saiu da quadra, foi pra arquibancada. Parou do lado da mulher do Elias. Puxou assunto com ela, disse que não tinha acertado Elias por gosto, que era coisa do jogo. Seguiram conversando e comentando o jogo. Tudo premeditado.
Elias viu os dois conversando. Não tirava os olhos deles, errava passes, já não conseguia driblar. Estava distraído. Tonhão continuava falando com ela. Elias não entendia o que falavam, mas conseguia ouvir a voz suave e chiada daquele negro no ouvido da sua mulher, Elias tava vendo Tonhão com a sobrancelha levantada pra sua mulher e não podia fazer muita coisa.
_Não da conversa pra ele. Gritava a todo instante Elias.
Os Brocas venceram o jogo por 1x0. Foram campeões. Tonhão não recebeu bola de ouro, muito menos chuteira de ouro, elas foram pro Elias. Tonhão nem tentou conquistar a mulher do Elias, ele ficou sete minutos em quadra, foi expulso, mas todos sabem que foi ele o melhor jogador da final.

Elder Corrêa Jr

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Cupido

Muitos de meus amigos juravam que já tinham sido flechados pelo cupido. Eu sempre pensei que fosse bobagem. Não acreditava e pronto.
Num desses finais de semana que têm varias opções de divertimento em vários lugares e ao mesmo tempo, quando fica muito mais difícil escolher aonde ir, eu fui testemunha de um fato que me fez acreditar no tal cupido.
Decidimos, então, eu e um amigo, ir a um barzinho movimentado. Muitas pessoas na frente do bar. Entramos e, antes mesmo de sentarmos para pedir algo, passaram por nos duas meninas exuberantes. Lindas mesmo. Olhamos para elas. Elas nem nos olharam. Passaram em nossa frente e sequer nos viram.
As duas eram morenas, tinham, no máximo um metro e sessenta e cinco centímetros, a pele era uma seda, aparentavam uns quinze anos, os olhos com um brilho desses que só as meninas de quinze anos têm. E não tinham namorado.
Logo quando passaram, o meu amigo disse, quase sem fôlego e por entre os dentes: Olha essa morena! E eu que ainda estava olhando-as, perguntei: Qual?
_ A de blusa branca e de shortinho, olha essa menininha.- disse ele.
Tentei convencê-lo de ir lá e conversar com ela, ele hesitou e se reservou a observá-la. Mirava-a de longe, nem piscava. Não prestava atenção em mais nada, só naquela moça que ele não sabia nem o nome. Ficava imaginando o que falaria se tivesse coragem de conversar com ela. Ele pensava em falar as palavras mais lindas que um homem diria a uma mulher e ele até ensaiava.
Tinha a oportunidade da vida dele, era como se fosse bater um pênalti. Só que, no futebol, ele era zagueiro, não chegava à frente, no futebol ele experimentou poucas vazes a centroavância. Os centroavantes sim é que estavam acostumados com a felicidade. Eu tinha certeza que, se ele falasse o que estava pensando, seria fácil como bater um pênalti com o goleiro estirado no chão. Digo isso com a experiência de centroavante que sou. Mas aquele zagueirão que não vacilava nunca e que era o mais viril e valente do bairro, estava a uns seis metros de uma menina e ele, acreditem, estremecia.
Ouvimos as suas combinações de irem ao centro, onde estava ocorrendo um evento. Decidimos ir também, e saímos antes delas, para não parecer que estávamos seguindo-as. Ótimo plano! Em menos de cinco minutos de espera apareceram as duas e mais uns seis amigos delas.
Nos aproximamos do grupo e, agora sim, ela olhou para ele, olhou o melhor olhar que ele podia querer. Depois até conversaram. Batemos foto, e ele, claro, do lado dela.
Já não o reconhecia mais. Logo ele que não era de se apaixonar, ele que mantinha o lado racional sempre imperando, agora, só falava nela. Queria vê-la a todo custo, nem que fosse só pelo prazer de conversar.
Outro dia até conversaram, só que ele sentia que ela não correspondia ao que ele sentia. Sem sombra de dúvidas, ele havia sido atingido pela flecha do amor, mas não parecia que ela também tivesse sido flechada.
Agora ele lamenta porque não disse tudo de bonito que sentiu naquela noite no barzinho. Talvez ela nem acreditasse em tudo, pois era muito sentimento por uma pessoa desconhecida. Talvez ela nem quisesse ouvir, mas ele tinha que ter falado, devia ter coragem. E ele sabe disso. Por que ele não tentou? Que não desse certo, tudo bem, pelo menos teria tentado acertar. Por quê? Ah, se ele tivesse tentado...

Elder Corrêa Jr