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sexta-feira, 20 de julho de 2007

A sobrancelha do Tonhão

Pirocas Cintilantes e Brocas Vaginais eram a maior rivalidade do futsal da cidade. Os Cintilantes largaram na frente nas contratações, investiram num time extremamente ofensivo e rápido, eles que vestem branco e amarelo, pareciam uns cometas em quadra. Em contraponto os, rubro-negros, Brocas fizeram jus a tradição de montar time guerreiro. Formaram um time com o que havia de melhor nos quesitos força e garra.
Definitivamente 1987 foi o ano mais marcante para ambas as equipes e para a cidade inteira. O citadino era formado por duas chaves. Eles eram cabeça-de-chave e favoritos disparados de seus grupos. Não decepcionaram, chegaram a final com 100% de aproveitamento. Dificilmente os adversários deles passarem do meio da quadra.
A cidade vê esse clássico bem como os gaúchos vêem o gre-nal. Pelo estado inteiro a população é ou colorada ou gremista. Podem até torcer pelo time de sua cidade, mas quem não é gremista é colorado. Aqui também é assim, mesmo que jogue em algum time do citadino, quem não torce pros Brocas Vaginais torce pros Pirocas Cintilantes, raras exceções. Esse fanatismo e características dos times lhes renderam apelidos. Os Brocas eram chamados de Muralha da China, os Pirocas de furacão.
_Vamos derruba esse murinho. Não vai sobra nada deles.
Essa foi a promessa feita por Elias, o goleador do torneio e destaque do time Cintilante, numa entrevista à rádio.
A cidade passou o dia falando sobre essa entrevista. Na noite seguinte todos ligados à rádio. Tonhão, o zagueiro dos Brocas iria ser entrevistado. Antes mesmo do entrevistador perguntar alguma coisa, ele tomou o microfone, dentes serrados, olhos apertados, disse:
_Pra alguém derrubar alguma coisa, tem que passar por mim primeiro. Quero ver ele passar!!!
Botou fogo na rivalidade. Não se falava em mais nada, só no jogo de domingo.
Elias não era desses atacantes vaidosos que usam tiarinhas, brincos, fazem luzes no cabelo, ou usam esses penteados diferentes. Elias não ligava pra isso, ele não era bonitinho. Era lindão mesmo. Desses que fazem as mulheres irem aos jogos, aos treinos e escreverem incontáveis “eu te amo” em papéis higiênicos. Mas ele era casado. A mulher dele era o estereótipo da mulher de jogador de futebol, um metro e setenta e cinco, aproximadamente, olhos claros, magra (não tão magra quanto modelos). Merecedora de ser capa de revista. Sempre ficava na lateral da quadra com os dedinhos enganchados à tela.
Com o ginásio lo-ta-do, iniciou o jogo. Muita movimentação nos primeiros minutos. Elias parecia tenso, hesitava em se aproximar do Tonhão, que insistia em mirá-lo em quadra. Os Cintilantes davam dois, três toques no máximo, sabiam que só passariam pelos Brocas no toque de bola e na velocidade. Já os Brocas apertavam a marcação, forçando o passe errado.
Aos sete minutos o jogo ainda estava 0 a 0, Elias driblou um, passou por outro, mas não conseguia se livrar da marcação deles. Cortou pra cá, gingou pra lá e passou no meio dos dois, uma avenida estava aberta a sua frente. Mas Tonhão- que conhece como ninguém as arduras da zaga e todos os atalhos- já estava vindo como um touro em sua direção.
_AAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRR!!!
Foi o que a torcida inteira ouviu. Eram os berros do Elias depois de ser agredido por um chute na altura do joelho que o fez se retorcer todo, antes mesmo de cair estirado no chão.
Tonhão sabia que seria expulso, se viu na obrigação de levar algum adversário junto, mas ninguém veio tirar satisfação com ele. Chutou o Elias, que ainda estava no chão, quando o companheiro de Elias chegou perto de Tonhão pra reclamar, ele simulou ter levado um soco. E o juiz que vinha lhe dar o merecido cartão, aproveitou e expulsou os dois.
Mesmo sentindo Elias continuou jogando, afinal, era o craque da competição.
Tonhão saiu da quadra, foi pra arquibancada. Parou do lado da mulher do Elias. Puxou assunto com ela, disse que não tinha acertado Elias por gosto, que era coisa do jogo. Seguiram conversando e comentando o jogo. Tudo premeditado.
Elias viu os dois conversando. Não tirava os olhos deles, errava passes, já não conseguia driblar. Estava distraído. Tonhão continuava falando com ela. Elias não entendia o que falavam, mas conseguia ouvir a voz suave e chiada daquele negro no ouvido da sua mulher, Elias tava vendo Tonhão com a sobrancelha levantada pra sua mulher e não podia fazer muita coisa.
_Não da conversa pra ele. Gritava a todo instante Elias.
Os Brocas venceram o jogo por 1x0. Foram campeões. Tonhão não recebeu bola de ouro, muito menos chuteira de ouro, elas foram pro Elias. Tonhão nem tentou conquistar a mulher do Elias, ele ficou sete minutos em quadra, foi expulso, mas todos sabem que foi ele o melhor jogador da final.

Elder Corrêa Jr

Um comentário:

  1. Picoléé uihsauishauisha
    ta legal tua cronicaa
    show de bola mesmoo (:

    beeijos

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