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terça-feira, 3 de julho de 2007

DEPRESSÃO TECNOLÓGICA

XR7-000 era o nome do robô que dona Alice comprou.
Fazia tempo que dona Alice se queixava de fazer as obrigações do lar, então juntou dinheiro e comprou o XR7-000, o melhor amigo da dona do lar, como dizia o anúncio na TV.
Dona Alice estava toda sorridente quando chegou a encomenda, reuniu toda a família na sala para conhecer o mais novo morador da casa. Ele chegou tímido, demorou a ser ativado, carregou todos os dados e plim. Acordou.
“meu nome é XR7-000, eu sou alimentado por pilhas de urânio, sendo assim, não trarei despesas e serei capaz de trabalhar por 2346 anos, 2 dias, 4 horas, 24 minutos e 32 segundos sem desligar. Espero ser útil”.
Dona Alice se maravilhou e aplaudiu enquanto os outros voltaram para seus aposentos desapontados.
Realmente o robô cumpria suas tarefas com muito êxito, era veloz e dedicado. Ele ainda contava com um recurso muito interessante, podia adquirir personalidade, para isto bastava que fosse adicionado um código em sua programação.
Apesar de tanta felicidade, dona Alice viu sua família desmoronar graças a esse ilustre habitante da casa. Isso se deve ao fato de que ela começou a tratar o XR7-000 como um rei, ele tinha uma poltrona só para ele na sala, todos tinham de assistir o canal de ciência e tecnologia que ele gostava, na TV a cabo que dona alice comprou pra ele.
O estopim foi quando Dona Alice expulsou seu marido da cama para confortar melhor o robô. Logo após o divórcio as crianças foram morar com o pai, e dona Alice começou a se sentir só.
Apesar de magnífico, o XR7-000 era apenas um robô, e não podia retornar o mesmo afeto que dona Alice proporcionava, a não ser que fosse reprogramado. E foi isso que Dona Alice fez.
Quando o código foi inserido o robô retomou a consciência como alguém que acorda depois de um desmaio. E começou a apresentar as diferenças agindo como uma pessoa, ou melhor, como uma empregada doméstica.
Foi espantoso o modo de como seu português decaiu, demonstrando tendências de analfabetismo.
Mas não para por aí. Já no primeiro dia, XR7-000, que agora insistia em ser chamado de Marizete, manchou duas calças, queimou uma blusa, quebrou um prato e duas xícaras de porcelana, sem falar que essa sinfônica tragédia foi regida ao som de teodoro e sampaio.
Dona Alice não foi rígida com o robô, ela acreditava que ele estava passando por um período de transição.
Mas no segundo dia, XR7-000 não foi trabalhar, pois tinha enfrentado uma fila no inss. No terceiro dia continuava a se queixar de dor nas costas, e estava com a lataria amassada, dizia ter apanhado de seu marido que chegou em casa bêbado. Dona Alice já não sabia mais o que fazer com aquele robô que andava pela casa de havaianas, reclamando do salário e comentando o tempo inteiro sobre a novela das 8:00.
Fatidicamente dona Alice caiu em profunda depressão.
O que até então era sua maior alegria agora era sua maior frustração. O maldito robô não parava de falar sobre doenças, morte, contas para pagar e outros assuntos “agradáveis” como estes.
Dona Alice só via uma alternativa. Matar o robô.
Após um longo diálogo para tentar demiti-lo o robô só repetia a mesma coisa:
-Eu vou te “botar” na justiça, meu primo é “dotô adêvogado”.
A ira tomou conta de dona Alice, que começou a atacar o robô com um martelo de bater bifes. Ela o encurralou no banheiro e começou a agredi-lo.
Quanto mais ela batia, mais raiva ela sentia, e sentava o martelo.
A vizinhança arrombou a casa para acudir a vítima que urrava de dor e desespero.
Dona Alice já estava sentada no chão, enxugando o suor, enquanto o robô pronunciava suas ultimas palavras.
“meu nome é XR7-000, eu sou alimentado por pilhas de urânio, sendo assim, não trarei despesas e serei capaz...”
Morreu.
Hoje em dia Dona Alice vive em um manicômio e passa o dia inteiro limpando tudo, pois teme que a direção do seu novo lar compre um robô para executar as tarefas.

Lucas Loch Moreira

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