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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

El Caricato

Admiro muito os caricatos, sua arte seu humor, sua hipérbole...
A beleza não chama muito minha atenção, prefiro a feiúra, ela tem graça, novidade, é inusitada. A beleza todos conhecem, é simples. O feio é complexo. E a caricatura, geralmente, destaca a parte feia de quem posa, pois dificilmente o belo mereça a ênfase da caricatura.
Por valorizar tanto este tipo de desenho, quando fui à capital uruguaia, procurei, numa feira livre próxima de onde estava almoçando, algum caricaturista. Não encontrei e pedi a um senhor que, ao vê-lo passar, viesse me encontrar no restaurante.
Já estava desesperançado em encontrar alguém para fazer minha caricatura- apesar de já ter ouvido dizerem que eu era uma caricatura de verdade- quando, com uma prancheta rabiscada no braço, um terno cinza bem surrado e um olhar perdido, chega o dito cujo perguntando quem era o “mutiatio” que havia lhe chamado. Antes de responder que tinha sido eu, pensei: o que significa “mutiatio”? Minha ansiedade fez com que eu erguesse o braço sem indagar sobre aquela expressão.
Me mandou que sentasse a sua frente. Sentei. Todos me olhando, fiquei meio sem jeito.
_Espera! Se eu não ficar bonito, não vou pagar!
E ainda acrescentei que o corpo fosse feito com a camisa do Brasil, e a número nove. Só isso.
Me pus acomodado na cadeira novamente, estampei um sorriso falso, que daquela vez não foi assim tão simples como de costume. Os traços que ele fazia geravam risadinhas e cochichos de quem o via desenhar. Porém, o rosto de quem olhava era impassível. Todos riam. Estaria bonito? Engraçadinho? Ou muito feio?
Enfim, ele mostraria. Fez certo suspense, que me deixava cada segundo mais próximo de um ataque de nervos. Todo pimpão e orgulhoso, enfim, ergueu o quadro para que todos pudessem ver. As pessoas aplaudiam minha caricatura.
Ufa... Fiquei lindo na caricatura. Acho que ele temeu não receber. Cada detalhe exatamente como eu sou, só o nariz não foi tão grande, bondade dele. Enfatizou meu sorriso, o que mais gosto em meu rosto. Me deixou com o sorriso do Coringa, olhos fundos, graúdos e marcantes; o cabelo igualzinho. Tudo perfeito. Lindo. Ele é um gênio.
Eu admiro, sim, a feiúra, mas não a minha.


ELDER CORRÊA JUNIOR

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Pai & Filho

- Pai, pai, paiê!!!
- Hum?
- Me responde uma coisa?
- Claro filho.
- Mas e se tu não souber responder?
- Claro que saberei meu filho, o pai sabe tudo.
- Deus existe?
- Sim existe, é lógico.
- Porque que é lógico?
- Porque sim, ora bolas.
- Tá, mas tu já viu ele?
- Não, mas... Mas ele existe e pronto.
- E quem é a mãe dele?
- Ele não tem mãe.
- Pobrezinho dele, porque ele não tem mãe?
- Porque ele criou o universo e antes dele não havia nada.
- E quem fez ele?
- Não sei meu filho.
- Ué, mas tu não sabia tudo?
- Quer dizer eu sei, mas é difícil de explicar para uma criança.
- Mas os pais dos meus amigos respondem tudo que eles perguntam.
- Eles não sabem nada, apenas ficam inventando coisas como o velho do saco, para que vocês fiquem com medo.
- Mas pai, foi o senhor que me disse que existe o velho do saco.
- Ah foi?
- Foi.
- Ta, ta, ta meu filho, vá brincar lá fora, e me deixe ver a televisão.
- Pai, pai, pai.
- Que?
- Quando eu crescer eu quero ser igual ao senhor.
- Que bom meu filho.
- Ta e o que eu preciso fazer pra ser igual a ti?
- Vá estudar muito, se dedicar muito e se forme em direito.
- Mas o que o senhor é?
- Um advogado.
- E o que um advogado faz?
- Ele defende as pessoas que foram acusadas de algo.
- Ah então são aqueles caras que mentem pra ajudar os bandidos nos filmes?
- Ã, é, hum, hã, é quase isso.
- E eu vou ser rico?
- Ah filho isso depende.
- E eu vou poder usar drogas?
- O que é isso meu filho? Donde tirou uma coisa dessas? É claro que não.
- Mas por quê?
- Porque drogas são ruins, só fazem o mal.
- Mas então porque as pessoas usam?
- Porque assistem muita televisão.
- Então o senhor usa drogas?
- É claro que não.
- Mas o senhor ta sempre na frente da TV.
- Mas não preciso disso, eu sou inteligente meu filho.
- Pai, sabia que esses dias eu fiz sexo com a mamãe?
- Ta maluco moleque, que bobagem é essa?
- É eu fiz sexo com ela, que nem o senhor me explicou, lembra? Quando uma mulher e um homem se abraçam, se beijam e vão pra cama? Pois é eu fiz.
- Há há há, não meu filho isso não é sexo.
- É sim, eu abracei ela, ela me deu um beijinho de boa noite, daí eu pedi pra ela deitar na cama comigo, e ela deitou e ficou contando historinhas pra mim dormir.
- Ta, meu filho mas isso não é sexo, não se faz sexo com a própria mãe.
- E com a mãe dos outros?
- Ah, daí pode.
- Mas eu só fiz isso pra ajudar ela, pobrezinha.
- Ajudar a que meu filho?
- Ah ela passa se queixando pras amigas que faz anos que ela não sabe o que é sexo de verdade.
- O que? Ela disse isso?
- Disse.
- Tu tens certeza que sabes o que ta dizendo menino?
- Claro pai, eu sei de tudo.
- Então tu poderia me responder umas coisinhas...


Lucas loch

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Esse é meu Guri!!!

Ouço cochichos pelos corredores. Sei que são sobre mim. Eles dizem: será que ele nunca vai casar? E nem ter filhos? Imagina daqui a uns dez anos...
O pessoal adora uma fofoquinha. Principalmente ali perto do bebedouro. Acho que vou colocar câmeras e gravadores escondidos, só pra ver o que acontece.
Mas sabe... Estes cochichos deles, eu mesmo me indagava a algum tempinho. Sobre casar, não pretendo. Imagina eu colocar uma mulher a morar comigo, dividir minhas gavetas e bagunçar meu banheiro. Encher meu banheiro de creminhos; meu dia de perguntinhas; e minha paciência com te-pe-eme-zinhas. Não. Definitivamente, não.
Filhos... Esta é uma questão que estava á caminho. Não pensem que engravidei alguma mulher, por aí. Muito menos que mandei abortar. Não sou tão irresponsável assim. Iria inovar. Faria um filho numa produção independente. Só para eu criar, a meu gosto. Procurava genética, as mais cotadas seriam as morenas, altas, forte e sem perder a beleza feminina, é claro. Preferencialmente com um metro e noventa, um e noventa e cinco. E nenhum parente de primeiro grau com menos de um metro e oitenta.
Todas estas exigências genéticas para ter um filho jogador de futebol. Meu pai queria ser jogador, não conseguiu. Queria que eu fosse eu não emplaquei. Agora vai, pensei. Eu até que era um bom centroavante, nos meus tempos de guri (dos 15 aos 30 anos). Agora com quarenta e tantos, sem toda aquela velocidade e virilidade, que o tempo me tomou, andejo pelas arduras da zaga.
Mas que ele não invente de ser lateral. Que fosse goleiro, às vezes até os goleiros tem sorte. Lateral não vale nada e é o que mais corre. Só sofre. Melhor que siga a dinastia da família. Um matador.
Agora com a careca aparecendo, junto com os fios brancos, muitos brincam: “e ai Dr. Ronaldo, careca hein...” Ou: “gordinho que nem o outro Ronaldo”. Vejam, eu tenho até nome de craque, jogava na mesma posição que ele. Onde foi parar o brilho do meu futebol, poxa.
Parece que quando tudo está se encaminhando bem, aparece uma voz e diz que devemos tomar outro rumo. Foi exatamente o que aconteceu.
Sem o que fazer numa segunda à noite, resolvi ver um filme, As Panteras, eu acho. Tudo normal, até que apareceu uma alma, do nada, e estes espíritos quando aparecem é pra deixar uma moral, sempre. Prestei atenção naquela fantasminha, que era muito sexy, por sinal. Coberta de fumaça disse: “os verdadeiros diamantes não são fabricados, eles são encontrados”. O que disse depois daquilo já nem lembro.
Meu filho!!!! Foi só no que pensei. Para ele ser um diamante ele deve ser encontrado. Dormi só duas horas aquela noite, e enquanto dormia estava sonhando com ele. No resto da noite matutava algumas idéias. Enfim decidi. Vou adotar um filho. Percorro orfanatos do Brasil afora e pego o que mostrar maior futuro no mundo da bola, o craque. To até imaginando. Ronaldinho Jr, com camisa 9 e tudo. Voa amá-lo, dar carinho e pôr numa escolinha de futebol.
O que não vai faltar é gente fofocando e me recriminado nos bebedouros da vida...


ELDER CORRÊA JUNIOR

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Não queremos Bandeiras

Marcham... Marcham... E marcham... Só marcham, muitos sem sequer saber o porquê. Submetem-se a Bandeira e as Armas, alguns com pensamento patriótico, outros pelo salário recebido.
Ombro-a-ombro abraçam uma bandeira forjada a sangue de inocentes, a mando dos militares. Patriotismo à uma Nação que nunca teve liberdade tampouco dá direitos a população é atitude de fracos e imbecís.
Forte é o homem que têm como pátria, como natal, qualquer lugar. E que vê as Armas-inúteis a população e que só nos serve a fins repressivos- como uma maneira de sustento.
Perfeito é o que tem como estrangeiro todos os lugares. Não considera nenhuma pátria sua “mãe”. E defende a si, não a um brasão.
Sejamos soldados das Armas. Cantemos um hino que não fala da realidade. Iludimo-nos com uma história irreal de libertação, mas vivemos e morremos por nós. A Pátria não merece nem vida, tampouco sangue.

Elder Corrêa Junior

sábado, 8 de setembro de 2007

Amor de Rodoviária

Fui levar minha tia na rodoviária. Ela ia... Sei lá pra qual cidade; cada vez ela está numa cidade que já nem sei onde ela realmente mora. Enquanto ela comprava sua passagem fiquei na porta do ônibus junto a suas bagagens.
Eu estava escutando Moacyr Franco no meu MP3, acho que era seu amor ainda é tudo. Tem gente que faz cada cara quando digo que escuto Moacyr. Aposto que não sabem nenhuma música dele nem ouviram suas histórias, mesmo assim tem preconceito. Eu mesmo fui virar fã dele quando descobri que ele conheceu sua esposa ele tinha 54 anos, ela 15. Pouco tempo depois casaram. Poxa... Ele era mais feio que agora. E ela... Lin-dís-si-ma. Mas isso nem vem tanto ao caso.
Pois bem. Sabe aquela mulher maravilhosa, estonteante, exuberante, linda, elegante, charmosa, carismática, pernas longas, coxas grossas e bem torneadas, seios rijos que caberiam na concha da mão, pele que uma seda, os olhos brilhavam como as estrelas, a boca com um sorriso de 300 dentes, e um narizinho que lembrava a Ana-do-Véu, da novela Sinhá-Moça- seus cabelos negros com algumas discretas mechas coloridas, sua altura, aquela calça que vestia, nem vou falar em suas nádegas, um conjunto que combinava em tudo. Se já não bastasse isso, ela ainda me atraia pelo perfume do seu creme de pentear. Sou louco por cheiro de cabelo. Ela estava a alguns passos de mim, mas parecia que eu estava ali do seu lado, cheirando seu pescoço e seus cabelos. Uooooooooooooollllllllll...
Nos dois ali. Numa rodoviária, suja. Em instantes ela iria embarcar e tomar seu rumo. Eu teria de voltar pra casa. Eu devia traçar um plano. Uma cantada dessas baratas, quem sabe. O primeiro passo foi nomear a operação. Moleza. Operação Amor de Rodoviária. Um nome criativo assim não poderia falhar. Comecei a lembrar de algumas cantadas do tipo:
_Oi. Tu ta de aniversário? É... Mas ta de parabéns.
Mas e depois? Falar o quê? Pensei noutra:
_Oi. Ta esperando o ônibus? É... Mas ta no ponto hein. - só que ela realmente estava esperando o ônibus, seria muita idiotice.
Me veio na cabeça uma melhor, que de quebra ainda desdenharia daquela bela moça. É assim:
_Oi. Tu é garçonete? Mas já me serve! - A pior cantada. Cantada de quem quer se afastar ou ainda levar um tapa.
Não me atrevi a usar nenhuma dessas “cantadas” nela. Ela parecia tão educada que seria até judiaria. Ela não mereceria ouvir essas bobagens. Acabei adotando outra tática. As mulheres que são lindas acham que todos os homens têm que dar bola pra elas. Elas percebem quando um homem não repara nelas e começam a dar bola pra estes, pros outros elas nem ligam.
A tática é o seguinte: Faço de conta que não estou “afim” dela, ela vai ficar furiosa com isso e começar a me cortejar. Eu me faço um pouco de difícil e antes que seu ônibus saia fico com ela, convido-a pra ir até minha casa e que pegue o próximo ônibus. Mas pra que isso aconteça sequer poderia olhar pra ela, no máximo e discretamente sentir o perfume de seus cabelos.
Foi exatamente o que fiz. Claro que não iria dar certo. Nunca vai dar certo, mas esta é a tática. Pior é ficar mudando de tática, feito o Alexandre Gallo que nunca conseguiu repetir a escalação do Inter no Brasileirão.
Minha tia tomou seu ônibus e ao me despedir dela a moça havia sumido. Perdi a mulher que poderia vir a ser a mãe dos meus filhos. O pior é que não sei nem seu nome, será que ela iria aceitar batizarmos um filho de Fernandão e outro de Clemer?
Uma lástima. Fui embora, desolado. Daquele dia em diante coloquei uma meta em meu cotidiano, me perguntar freqüentemente: Se o mundo acabar amanha... Eu já fui feliz hoje? Essa é a tática. Pode não dar certo, ou talvez dê. Posso não me perguntar com tanta freqüência assim. Posso até não ter sido feliz por uma, duas semanas, mas a tática é esta. E tu... Já foi feliz hoje?


Elder Corrêa Jr

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Nostalgia indie

Onde foram parar aqueles velhos planos?
Em que bares, banheiros, paredes ou canos?
Onde estão aqueles compridos cabelos e panos?
Será que se passaram afinal tantos anos?
Será que ainda estou avaliando os danos?
Pra onde foram parar minhas camisetas?
Camisetas pretas? Anos 90?
Porque não se escuta mais Nirvana?
Onde está aquele velho fliperama?
Eu nasci em 89
Não quero 2007
O que é internet? Uma nova fita K7?
Quero de volta minhas figuras
Quero de volta meus chicletes
Quero viver aventuras
Bicicletas
Patinetes
Quero voltar no tempo
E matar as aulas que não matei
Quero fazer o que pensei
Quero brigar na saída
Acho que nunca briguei
Não sei
Deveria ter aproveitado cada segundo do dia
Eu era feliz e não sabia


Lucas Loch Moreira

domingo, 19 de agosto de 2007

Sim, somos CACHORROS


Waldick Soriano até que tenta nos defender cantando: “Eu não sou cachorro não”. Mentira. Eu me pus a contar sobre as falsidades do universo feminino, mas o destino colocou a pedra da consciência em minha frente. Vou falar das canalhices de nos, homens. De alguns exemplos.
Dia desses saímos, dois amigos e eu. Fomos a um churrasco. Na casa de algumas “amigas” do colégio. Cada um inventou uma desculpa a suas namoradas e fomos para a festinha. Quando foi de tardezinha ligamos os celulares. Em menos de cinco minutos começaram a tocar. Começaram as desculpas esfarrapadas:
_ Bah, amor! No sítio não pegava o celular, eu mesmo tentei te ligar, cheguei a subir numa arvore, nem assim consegui.
Sem demora a próxima:
_que desligado, oquê!? Eu que tentava te ligar e sempre dava ocupado. Com quem tu tava falando todo esse tempo?e ainda vem dizendo que o meu que tava desligado, francamente...(e desligou o telefone na cara dela).
Quase ao mesmo tempo a minha namorada me ligou, indagando o porquê do meu celular estar desligado ou fora de área. Sem demora respondi:
_ É que o Lucas tava me convidando pra um jogo no final de semana, quando cheguei no posto de gasolina e ali tinha uma baita placa alertando do perigo de entrar com o celular ligado. E tu sabe, amor, que eu sou muito azarado. Tive que desligar. Enfim, acabei esquecendo de ligar novamente, mas daqui a pouco eu chego ai,beijo.
Cada telefonema desses foi um festival de gargalhadas. Uma mentira mais genial que a outra. Claro que todas colaram. Somos cachorros mesmo.
Mas a culpa é delas mesmas, as mulheres, que nos rotulam assim. Deixando-nos, não somente na direito, mas também na obrigação da cachorrice.
Então gritemos: Sim, eu sou cachorro. Temos que admitir, até porque de uma forma ou de outra somos mesmo. Têm os encoleirados e os sem dona, estes em duas versões: os cachorrões e os cachorrinhos.
E vou aproveitar este espaço para fazer um anúncio publicitário às mulheres: Sou vacinado, acostumado com gente, dentes saudáveis, pêlo macio, cheiroso, tenho pedigree e não mordo (só mordo se pedir).

Elder Corrêa Jr

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Alma de vidro

Crash!!!
Agora sou cacos
Espalhados pelo chão
Cacos do que um dia fui
E que jamais se colarão
Pedaços de um tempo
Que virou recordação
Fragmentos de uma geração

Ainda serei pó
Dos cacos que estou sendo
E eu assim me vendo
Deixo que passem
Que pisem os transeuntes
Que pensem só em uma forma de me espatifar
Mas antes ser pó
Que cortar os dedos de quem tentar me levantar

Lucas Loch Moreira

domingo, 12 de agosto de 2007

O feitiço contra a FEITICEIRA

Estávamos vivendo nas mil maravilhas. Ela me jurava amor eterno. Que eu era tudo para ela, a melhor coisa que já havia acontecido em seus 20 anos de vida.
Eu no começo nem gostava tanto dela, mas como não iria me apaixonar por aquela moça, loira, olhos verdes, um metro e setenta - bem minha altura-terna, cheirosa, carinhosa, companheira, inteligente, quente. E era colorada, apesar de não acompanhar o futebol. Até sua mãe me adorava.
Dela eu só não gostava duas coisas: Uma era seu péssimo costume de repreender as pessoas quando falavam errado, chegava a ser constrangedor. Ela não perdoava nenhum erro. Outra eram suas amigas, em especial a Claudinha, ninguém me tira da cabeça que ela tentava aproximar seu irmão da minha namorada. Ela dizia que não, que essa história era sem-pé-nem-cabeça. E eu nem insistia tanto no assunto para que não despertasse nela sequer a intenção de reparar no sujeito. Até porque ela repetia para quem quisesse ouvir, que eu era sua alma-gêmea e declarava seu amor a todo instante.
Ela também era tudo para mim, só o que me fazia parar de pensar nela era o futebol, não exatamente o futebol, o INTER. E ela tinha um certo ciúmes disto, embora não reclamasse.
E este sentimento foi colocado à prova. O meu time do coração iria disputar cinco jogos consecutivos no Beira-Rio. Quatro deles pelo Brasileirão e um pela Libertadores. Definitivamente não iria perder esta oportunidade ímpar. Ainda mais que o Inter estava com um time impecável, uma máquina. Com o argumento de que “para afastar é só aproximar e para aproximar é só afastar” palavras ditas por Paulo Santana, parti à capital, deixando-a em São Gabriel aos olhos de todos meus amigos.
Passávamos o dia intero nos falando, ora por telefone, ora pela internet. No dia do segundo jogo do Colorado ela me ligou, uma hora antes da partida. Por medo de ser assaltado deixei meu celular, desligado, na casa do tio Adolfo, onde eu estava hospedado.
No outro dia estranhei que ainda não tinha me ligado. Mas tudo bem. Até que o Júnior me ligou, apavorado, não sabia nem por onde começar, gaguejando mesmo me contou que viu a Natália com outro cara, o Tiago, aquele irmão de sua amiga. Passei o dia abatido. Eu tinha razão. Aquela vadia.
Na noite seguinte vesti minha melhor roupa e fui pro centro. Todo pimpão, cai na gandaia. E porto Alegre é um paraíso particular da esbórnea. Me vinguei.
Para minha surpresa dois dias depois chegou uma carta, pra mim. Era dela, é claro. Me xingando, falando que eu era um traste, que seu novo amante era melhor do que eu em TUDO (assim com letras graúdas), que nunca sentiu prazer em estar comigo, que nunca me amou, que sempre me enganou e que era gremista.
Era tudo mentira. Ela era muito orgulhosa e vaidosa, na certa esperava que eu retornasse um poema com as palavras mais lindas declarando meu amor e implorando que voltasse atrás. Só para mostrar para suas amigas o quanto era idolatrada, a Natália é exibida.
Comprei um envelope, o mais bonito que encontrei, peguei uma caneta vermelha e comecei a corrigir os erros ortográficos da carta. No final coloquei: NOTA 35, e acrescentei um “PRECISA MELHORAR”, em letras garrafais também.
Eu vi o INTERNACIONAL vencer as cinco partidas, cada jogo foi um espetáculo, um massacre sobre cada um dos adversários. Passei uma inesquecível noite de prazer. Mas trocaria tudo isso por ver a cara dela quando, junto com suas amigas, abriu a carta que lhe enviei.

Elder Corrêa Jr

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Mais uma noite no barzinho

Divorciado, bem sucedido profissionalmente, 40 anos, sem muito o que fazer durante a semana, mas hoje é sábado. Tenho freqüentado um barzinho, no centro, ultimamente. Não é qualquer barzinho, é o mesmo bar. Um bar elegante, não tão badalado, é verdade. E badalação é tudo o que um solteirão deveria buscar, ao menos nos sábados. Porem ele tem algo fascinante, um ar de sensualidade que, talvez apenas eu sinta, não sei.
O que tem me levado lá é a música. Ela canta. E canta muito bem. Parece que escuto a voz dela como um cochicho em meu ouvido, e a luz baixa deixa-a ainda mais bela. Sempre peço ao garçom que ela cante a musica Sozinho, só para ouvir “... às vezes no silencio da noite, eu fico imaginando nos dois...”, clássico. Fico olhando-a incansavelmente, e tenho a impressão que ela canta pra mim.
Desta vez estava confiante, quando percebi que ela estava com os olhos em mim, toquei discretamente em minha garganta, sinalizando que gostaria de falar com ela. Ela piscou lentamente os olhos.
Ao término do show, ela levantou-se, agradeceu, poucas pessoas, solteiros, casais, amigos, amantes, desconhecidos, desceu do palco que comportava um banco, um microfone, ela. Vestia um lindo vestido azul com uma fenda ao lado que deixava suas coxas a mostra, suas curvas e um decote que escondia, mas não tapava. Nossa! Uma mulher que leva a loucura o imaginário de qualquer homem.
Sentou-se ao meu lado, no balcão: O que um belo homem faz três noites seguidas, e sozinho? Disse ela tocando seus cachinhos.
_ O primeiro foi culpa do acaso, os outros foi você.
Fui objetivo como nunca, levado pela circunstância e otimismo, falei exatamente o que deveria. E sem ga guegue jjjar.
Antes que o silencio das minhas palavras ecoasse: Acompanha-me num Drink?
_ Sim a noite é longa. Sua resposta veio acompanhada por um lindo sorriso insinuante.
Pedi dois Dry Martini ao garçom, o meu com pouco gelo e com uma dose maior de vermute.Seus olhos, seus poros, seu cheiro, sua boca, meu olhar, minha inquietação. Enfim chegou o sábado, e noite acaba de iniciar.


Elder Nunes Corrêa Junior

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O primeiro desemprego

*titulo altenativo* o primeiro grande dia tortuoso de um neo-desempregado*


- Tudo é culpa da globalização e desses malditos yankes!!!
Era o que eu dizia dos 12 aos 17 anos. É claro que eu continuo pensando assim, mas já passou esse marxismo neurótico.
E hoje, após terminar o segundo grau, me vejo tendo de tomar um rumo na minha vida. Problemas de adolescente?
Que droga já tenho 18 anos, nem posso usar essa desculpa. Mas após meus anos de aluno secundarista, que mais pareceram anos como terrorista, eu aponto mais um míssil para a escola. Talvez não seja culpa dela, nem dos professores, mas alguém já notou que a principal utilidade da escola esbarra no seu próprio rabo?
Pois em minha opinião ela é incoerente ao pisar no seu próprio rabo. E direi o porquê.
Toda a escola tem por função capacitar os indivíduos, transformá-los em cidadãos que desempenhem seus papéis na sociedade, enfim, que sejam profissionais sérios e dedicados. Mas não é bem o que acontece na vida real.
Tiro essa conclusão desde que terminei o segundo grau, e a mim foi perguntado:
Agora tu és um?
- Desempregado - secamente respondi.
- Poxa, eu não tinha pensado nisso - disse a professora com a fisionomia de um filho quando descobre que a mãe não é virgem.
E foi obrigada a concordar comigo. Volto a dizer que a culpa não é da escola em si, mas uma coisa é inegável, todos os anos as escolas formam um rebanho de novos desempregados. Afinal é uma instituição em que você entra como estudante, um jovem com uma vida pela frente, o futuro da nação, e sai de lá como um desempregado, salvo pelos que já trabalham, os que já passaram em algum vestibular, ou que vão tocar em frente o negócio de seus pais.
Eu sou tão nostálgico que tenho saudade de um tempo que não vivi, ou melhor, que nem era nascido. Do tempo das escolas Polivalentes, em que o aluno aprendia até a cozinhar. Bom isso faz tanto tempo, para se ter idéia naquela época minha tia Sônia, que lecionava em uma escola destas, conseguiu comprar um Opala zero.
Estamos em 2007 e hoje, com um salário de professor, não se consegue comprar nem mesmo a porta do próprio Opala que hoje deve habitar um ferro-velho. Bom, mas as gerações passam, os Opalas acabaram e as classes dos docentes e alunos seguem sucateadas. E assim vai caminhando, ou melhor, tropeçando, a educação brasileira e riograndense, com seus ex-alunos desempregados e professores procurando um emprego melhor, e com um salário mais digno, já que a nossa querida governadora quer tornar a profissão insalubre.
Enfim, chego à outra conclusão estapafúrdia:
“A escola é como a masturbação, só tem graça quando somos novos e ainda não conhecemos nada melhor”.



Lucas Loch Moreira

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Triste fim da pequena bailarina

Sendo a vida a coisa mais importante
termina aqui um pedaço da minha...
Termina aqui uma menina que não queria ser criança
e que agora é apenas saudade...
Terminam-se as ilusões de uma pequena que só queria amar...

E deixa de sofrer uma alma que era feliz e não sabia...
Uma garota que não deu a valor a própria vida...
Nem ao amor de seus amigos...
E termina o sonho da pequena dançarina...

A bailarina que dançará agora em outro lugar...
Mas que ainda vai movimentar meu coração
ao ritmo de uma música qualquer...

A bailarina que vai dançar em meus pensamentos...
E valsar com minhas ilusões...


baby blue...

Lucas Loch Moreira

sábado, 28 de julho de 2007

O Valor do DVD

Pensamos muito em rivalidade, mais até que no próprio sucesso. E a competição vigora no pensamento de todos desde os primórdios da existência humana.
Há competição em tudo. Em disputa por fêmeas até os animais lutam. Assim como por comida e espaço. Os mais fortes venciam. E é característica da rivalidade esmagar os derrotados e mostrar a superioridade.
Nos dias atuais, até, nem é tão cruel essa seleção. Os que perdem não morrem. Continuam vivos e tem a chance da revanche. Diferentemente da Idade Antiga.
E no futebol ocorre o mesmo. Só que as revanches são impostas. O campeonato sendo com jogo em casa e outro fora, com todos adversários, proporciona a cada jogo, principalmente os do segundo turno, um ar maior de rivalidade. Um exemplo dessa rivalidade é o clássico gre-nau. O Grêmio quando amargou a Segundona, transformava cada um de seus adversários em eternos rivais.
Agora o Náutico voltou a cruzar o caminho do Grêmio, maior rival do Inter. Subiu para a Série A. Mas o único rival do Náutico é o Grêmio, que fez até um DVD por ter vencido o time nos Aflitos. O Náutico já perdeu uma das oportunidades de vingar aquela derrota do dia 26 de novembro de 2005, tem mais uma, e desta vez será no Olímpico.
O Inter venceu o Náutico por dois a zero. Ainda não sei se a direção do Internacional irá fazer um DVD sobre aquela vitória, que teve até um tombo do Alex, após sua acrobacia em comemoração ao segundo gol da partida, o primeiro dele no campeonato.
Se vai fazer o tal DVD não sei, parece que a direção preferiu fazer três DVDs, estes alusivos aos títulos da Libertadores da América, da Recopa Sul Americana e ao Campeonato Mundial, este vencido pelo Internacional, e o adversário foi o favorito disparado e poderoso Barcelona.

Elder Corrêa Jr

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Axilas

Sempre presto atenção nas axilas femininas. Gosto muito. Tenho vontade de beijar, acariciar e até lamber. Parece, para alguns, até estranho, pra mim não. Nunca tive coragem de pedir ou mesmo arriscar, imaginando que nenhuma mulher deixaria. Talvez por ser mesmo estranho, ou por sentir cócegas, mas esse desejo está represado em mim até hoje.
Costumo fazer meu lanche da tarde numa lancheria próxima a meu trabalho, como sempre três pastéis acompanhados por um refrigerante. Dias atrás me deparei com uma cena horrível. Sempre observando as axilas, quando de repente enxergo aquele sovaco cabeludo, e não é modo de dizer. Aqueles pêlos tinham aproximadamente dois dedos de comprimento e uma espessura medonha. Nem nos meus piores pesadelos imaginei um sovaco tão horrível. Jamais pensei que uma mulher pudesse transformar sua axila em algo que mais parecia um rato.
Quando eu vou pra praia fico maravilhado, pois lá as axilas são bem tratadas. Nas cidades muitas vezes são tapadas e até mesmo esquecidas. Na praia não, as mulheres sabem que estão expostas aos olhares de todos. Ah... Só de lembrar já dá arrepios. Falo de quando aquelas mulheres de corpos levemente dourados, cabelos escuros e compridos, mulheres nem magras, muito menos gordas, no ponto, com as axilas bem cuidadas saem da água com o corpo ainda salgado e molhado e se espreguiçam colocando seus punhos na nuca... Nooooossa. É mágico quando as morenas fazem isto, nem mesmo as lôrinhas conseguem ser tão magníficas, e você sabe como as lôrinhas fazem...
Talvez algum dia eu tome coragem e fale que quero acariciar, beijar, bem vocês sabem o resto, e enfim soltar definitivamente o amante de axilas que compreendo na minha personalidade. Provavelmente vão rir de mim, mas quando forem à praia terão convicção que estou certo.

Elder Corrêa Jr

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Chicletes


Sei que é uma mania horrível. Sabe como é... Não adianta. É mais forte do que eu. As pessoas ficam me olhando estranho na rua. Passam por mim e, após os olhares, sempre tem cochichos não tão amistosos.
E como eu disse, deve ser a mesma sensação que sentem os
centroavantes ao estarem de frente pro gol. Ou do goleiro que sabe que a bola está quase entrando, seria um golaço; salta e defende pra se tornar o herói da partida. Ou quem sabe do torcedor que está na arquibancada vendo seu time em algum extremo. A vontade é incontrolável de fazer o seu máximo.
Esse é um mistério que me aflige. Gostaria de saber se isso é normal. E esse é um dos motivos que me fizeram escrever isto. É pra esperar que alguém venha me dizer que se identificou com minha estranha história.
Tomara que, assim como eu, varias pessoas cuspam seus
chicletes na medida apropriada para poderem chutá-lo antes que caia no chão. Aliás, tomara que não tenha tanta gente assim. Pois se tiver nem será uma particularidade. E que graça tem escrever sobre algo que todos fazem, achando ser único?
E como estou gastando com esses malditos
chicletes sem açúcar, que é pra não estragar os dentes. Minha dentista falou com voz esclarecedora que não mascasse chiclete com açúcar. Mesmo gastando não consigo parar com isso. Muita gente nem imagina o prazer que é ver aquela bolinha pegar na veia e ir pra cima das casas ou pra outra calçada ou até mesmo passar a poucos centímetros da cabeça de alguém.

Elder Corrêa Jr

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A sobrancelha do Tonhão

Pirocas Cintilantes e Brocas Vaginais eram a maior rivalidade do futsal da cidade. Os Cintilantes largaram na frente nas contratações, investiram num time extremamente ofensivo e rápido, eles que vestem branco e amarelo, pareciam uns cometas em quadra. Em contraponto os, rubro-negros, Brocas fizeram jus a tradição de montar time guerreiro. Formaram um time com o que havia de melhor nos quesitos força e garra.
Definitivamente 1987 foi o ano mais marcante para ambas as equipes e para a cidade inteira. O citadino era formado por duas chaves. Eles eram cabeça-de-chave e favoritos disparados de seus grupos. Não decepcionaram, chegaram a final com 100% de aproveitamento. Dificilmente os adversários deles passarem do meio da quadra.
A cidade vê esse clássico bem como os gaúchos vêem o gre-nal. Pelo estado inteiro a população é ou colorada ou gremista. Podem até torcer pelo time de sua cidade, mas quem não é gremista é colorado. Aqui também é assim, mesmo que jogue em algum time do citadino, quem não torce pros Brocas Vaginais torce pros Pirocas Cintilantes, raras exceções. Esse fanatismo e características dos times lhes renderam apelidos. Os Brocas eram chamados de Muralha da China, os Pirocas de furacão.
_Vamos derruba esse murinho. Não vai sobra nada deles.
Essa foi a promessa feita por Elias, o goleador do torneio e destaque do time Cintilante, numa entrevista à rádio.
A cidade passou o dia falando sobre essa entrevista. Na noite seguinte todos ligados à rádio. Tonhão, o zagueiro dos Brocas iria ser entrevistado. Antes mesmo do entrevistador perguntar alguma coisa, ele tomou o microfone, dentes serrados, olhos apertados, disse:
_Pra alguém derrubar alguma coisa, tem que passar por mim primeiro. Quero ver ele passar!!!
Botou fogo na rivalidade. Não se falava em mais nada, só no jogo de domingo.
Elias não era desses atacantes vaidosos que usam tiarinhas, brincos, fazem luzes no cabelo, ou usam esses penteados diferentes. Elias não ligava pra isso, ele não era bonitinho. Era lindão mesmo. Desses que fazem as mulheres irem aos jogos, aos treinos e escreverem incontáveis “eu te amo” em papéis higiênicos. Mas ele era casado. A mulher dele era o estereótipo da mulher de jogador de futebol, um metro e setenta e cinco, aproximadamente, olhos claros, magra (não tão magra quanto modelos). Merecedora de ser capa de revista. Sempre ficava na lateral da quadra com os dedinhos enganchados à tela.
Com o ginásio lo-ta-do, iniciou o jogo. Muita movimentação nos primeiros minutos. Elias parecia tenso, hesitava em se aproximar do Tonhão, que insistia em mirá-lo em quadra. Os Cintilantes davam dois, três toques no máximo, sabiam que só passariam pelos Brocas no toque de bola e na velocidade. Já os Brocas apertavam a marcação, forçando o passe errado.
Aos sete minutos o jogo ainda estava 0 a 0, Elias driblou um, passou por outro, mas não conseguia se livrar da marcação deles. Cortou pra cá, gingou pra lá e passou no meio dos dois, uma avenida estava aberta a sua frente. Mas Tonhão- que conhece como ninguém as arduras da zaga e todos os atalhos- já estava vindo como um touro em sua direção.
_AAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRR!!!
Foi o que a torcida inteira ouviu. Eram os berros do Elias depois de ser agredido por um chute na altura do joelho que o fez se retorcer todo, antes mesmo de cair estirado no chão.
Tonhão sabia que seria expulso, se viu na obrigação de levar algum adversário junto, mas ninguém veio tirar satisfação com ele. Chutou o Elias, que ainda estava no chão, quando o companheiro de Elias chegou perto de Tonhão pra reclamar, ele simulou ter levado um soco. E o juiz que vinha lhe dar o merecido cartão, aproveitou e expulsou os dois.
Mesmo sentindo Elias continuou jogando, afinal, era o craque da competição.
Tonhão saiu da quadra, foi pra arquibancada. Parou do lado da mulher do Elias. Puxou assunto com ela, disse que não tinha acertado Elias por gosto, que era coisa do jogo. Seguiram conversando e comentando o jogo. Tudo premeditado.
Elias viu os dois conversando. Não tirava os olhos deles, errava passes, já não conseguia driblar. Estava distraído. Tonhão continuava falando com ela. Elias não entendia o que falavam, mas conseguia ouvir a voz suave e chiada daquele negro no ouvido da sua mulher, Elias tava vendo Tonhão com a sobrancelha levantada pra sua mulher e não podia fazer muita coisa.
_Não da conversa pra ele. Gritava a todo instante Elias.
Os Brocas venceram o jogo por 1x0. Foram campeões. Tonhão não recebeu bola de ouro, muito menos chuteira de ouro, elas foram pro Elias. Tonhão nem tentou conquistar a mulher do Elias, ele ficou sete minutos em quadra, foi expulso, mas todos sabem que foi ele o melhor jogador da final.

Elder Corrêa Jr

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O valor de uma amizade e o preço de um corcel


Fernado era filho do seu Gervázio que tinha um corcel. Fernando e eu éramos amigos, estudávamos no mesmo colégio. Não éramos tão amigos, mas o que me fazia ir a casa dele quase todos os dias era o corcel de seu pai. Aquilo não era um corcel, era uma nave, cuidada pelas mãos de seu Gervásio.
Não posso deixar de explicar que este senhor já tinha uma saúde um pouco debilitada, pelo menos aparentemente.
O corcelão parecia ser sua vida, pois era um brinco só, já o senhor Gervásio, eu não posso falar o mesmo.
Todos os dias Fernando chegava no colégio.
- ô Fernando, quando o teu pai morrer tu me vende o corcel hein!!
Era o que eu dizia.
Claro que eu falava de brincadeira, mas no fundo, apesar da frieza, era meu sonho ter aquele corcel. Porém, eu falava em um tom bem descontraído para que ele não achasse que eu estaria agourando o pobre e bom homem.
- ô Fernando, quando o teu pai morrer tu me vende o corcel hein!!
E assim se passavam os dias a fio.
Alem da minha paixão pelo corcel, existiam outros motivos para eu querer me apossar do mesmo, eu achava que o guri não iria dar valor ao velho corcel, pelo menos o quão ele merecia.
E também achava que ele nem levasse jeito para dirigir, era até meio fresco, sei lá, poderia até bater o carro.
Eis que certo dia encontro Fernando, que já havia se formado, e conversamos sobre os anos que haviam se passado. A melancolia já era grande quando eu, ao me despedir, desavisadamente, estúpidamente, ignorantemente, soltei:
- ô Fernando, quando o teu pai morrer tu me vende o corcel hein!!
Ele riu.
- e falando no teu velho, como ele anda?
- mortos não andam. - respondeu Fernando bruscamente.
Agora vem o pior.
- e então me vende o corcel!!! – saiu sem querer, querendo.
Putz, o que é que eu fiz?? Vocês leram o que eu falei??
Juro que foi sem querer, escapuliu.
Imediatamente eu me pus no lugar do cara, e fiquei imaginando como eu ficaria chateado. Agora azar, já tinha falado, era tarde.
Mas tentei arrumar o estrago.
- tu está brincando né Fernando? Cinicamente indaguei.
- não. - disse a voz seca de Fernando.
Na hora tive vontade de enterrar a cabeça na terra tamanha era a vergonha. Que nem um avestruz, não que aqueles bichos sintam vergonha, mas que eles enterram a cabeça na terra eles enterram, eu sei por que vi em algum canal de ciência. E agora o que eu ia fazer? Pensei. Pensei. Total. Já to na merda mesmo.
Ta e o corcel vamos negociar? – Perguntei cafajestemente, com os olhos fechados, esperando receber um merecido soco.
- não, eu o quero pra mim. - respondeu Fernando.
Ufa. O soco não veio. E o corcel menos ainda.
Nunca mais eu o vi, nem ele nem o corcel.
Fiquei com pena de Fernando, afinal ele sempre foi um cara legal.
Mas graças a isso eu aprendi certas coisas.
“Leia os anúncios fúnebres com freqüência, e não ache que os filhos dos outros tem a obrigação de te vender algo depois deles morrerem.”
Moral da história:
Perdi um amigo, perdi o corcel e o seu Gervásio morreu.


Lucas Loch Moreira

terça-feira, 10 de julho de 2007

Tensão-Pré-Matrimonial


Tudo estava perfeito. O casamento já estava marcado.
O vestido já escolhido. Os padrinhos certos. Os preparativos preparatoriamente preparados. Tudo. Irei repetir. Tudo.
- Marcos, eu ganhei a promoção na empresa! – disse Daniela.
- maravilha meu amor, eu sabia que conseguiria! – disse Marcos. Que ainda complementou com um beijinho e dizendo:
- é por isso que eu te amo.
- como é que é? – indagou Daniela indignada.
- é - por - isso - que - eu - te amo. – repetiu Marcos, pausadamente.
- então quer dizer que tu me ama apenas por isso?
- não meu amor, isso foi um elogio, tu entendestes errado. – consertou Marcos.
- alem de tudo me chama de burra? Por acaso acha que só por que eu sou mulher não sei diferir um elogio de uma crítica? seu canalha- remendou
- o que é isso meu amor, acalme-se – disse marcos com um tom compreensivo.
- está insinuando que eu estou nervosa??
- não, mas pare de gritar, os vizinhos estão ouvindo.
- que se foda, é bom mesmo que saibam que tu me ama
só por que fui promovida.
- ta, agora se sente e respire, não era isso que eu quis dizer meu amor, eu te amo porque tenho muito carinho por ti.
- sexo, tu quis dizer sexo, seu cachorro, só me quer pra isso.
- não amorzinho, eu poderia viver sem sexo para sempre se tiver você ao meu lado.
- maldito!! Quer dizer que você nem se importa em transar comigo, não se importa se eu quero ou não?
- claro que me importo, só disse que apenas estar com você já é motivo de eu estar feliz.
- ah claro, entendi tudo, você já está preparando a chantagem emocional, para que quando nós terminarmos eu me sinta culpada.
- não é nada disso, eu nunca quis acabar contigo.
- e tu achas que ficaremos para sempre juntos e que eu vou envelhecer contigo? E que iremos morrer velhinhos caquéticos e mofados?
- bem, talvez, sei lá...
- então vai sonhando, porque eu vou pra casa da minha mãe.
Bluumm. Bateu a porta.
Meia hora depois.
- alô, é o Marcos?
- é ele mesmo.
- aqui é a Fê, amiga da Daniela, porque você fez aquilo com ela? coitada está aqui chorando desesperada.
- mas eu não fiz nada.
- cale-se, eu conheço a tua espécie, seu covarde.
- você está equivocada.
- equivocada uma pinóia, tu é que é um insensível, um boçal, um ogro e um grandessíssimo filho-da-puta.
Marcos desligou o telefone, e suspirou:
- ah mulheres, mulheres, são todas iguais...


Lucas Loch Moreira

sábado, 7 de julho de 2007

Queria

Queria eu ser maior que tudo
Ser maior que a vontade
Maior que a dor
Queria eu não ter de lutar contra o amor
Queria eu amar
Queria tanta coisa que nem sei dizer
Queria dizer tanta coisa que nem sei o que
Queria saber o porquê das coisas
Queria as coisas e os porquês


Lucas Loch Moreira

Dúvidas

Não sei se penso demais ou de menos, esta é uma dúvida q me aflige. Nesta difícil tarefa de ser e estar, vivemos a vida inteira sofrendo metamorfoses, não só fisicamente, mas principalmente, em nossa personalidade.
Todos nós já nos deparamos com as seguintes dúvidas. E agora de que devo gostar? Qual o gênero musical me agrada? Que posição jogar? Que tipo de roupa devo usar? Como levar minha vida? Que profissão seguir? Com que tipo de gente me envolver?
Nossa! Um horror!
Muitos acham que deveríamos vir com manual, outros tentam ser clones de alguém,mas o pior é que 90% escolhem o inverso do que deveriam ser.(fonte: 10 anos de estudo psicológico desenvolvido somente pela nata da população mundial: Zé Buião, Estrela, Mão-Pelada, Jovem,Boca e o Saldanha, mas todas essas pesquisas foram idealizadas pelo saudoso Santo Louco).
Estaria, então, certo aquele corriqueiro adágio que diz que os opostos se atraem? Na física, sim. Nela, tudo é previsível, mas em relações humanas, não; e não considerar a paixão, o improvável, as loucuras, o psicológico e, até mesmo todo nosso material genético é desumanizar a vida. Homem casa com mulher, mulher com homem, isso é simples como água, mas o gelo e o vapor? Também existem homossexuais vivendo em todo o mundo e são humanos também.
A escolha do nosso destino está ligeiramente ligada à nossa história, à nossa infância e à nossa auto-avaliação.
O gordo, geralmente, prefere casar com magra porque acha ruim ser gordo, valoriza mais o magro que o gordo, não deseja que seus descendentes sofram o que ele sofreu na infância.
O “cara” que banca de “pegador” é, no seu íntimo, um romântico iludido e abandonado por alguém que amou.
O goleiro, na maioria das vezes, torna-se goleiro por indecisão, demora a decidir sua posição, tenta todas, acaba não pegando características de nenhuma, mas, às vezes, até o goleiro tem sorte e se destaca no gol.
O Juiz de futebol sonhava em ser jogador, mas era o último a ser escolhido. Era o que queria sempre estar entre os jogadores. Agora se sente bem em correr na volta deles, pois apesar de ser xingado acha que tem autoridade.
O bandeirinha é o pior dos casos, ele ainda sonha em ser Juiz.
Já as pessoas românticas, que preferem namorar uma pessoa só a “ficar” com uma e outra, têm seu instinto “pegador”e “galinha”, só que tentava “pegar geral” e sua tentativa era frustrada, então quando se acerta com alguém, tenta cultivar.
O professor talvez seja alguém que teve carência de ensinamentos.
E, é por isso que não sei se penso demais ou de menos ou se também sou um louco. Deveria mesmo ser centroavante? Por que escrevo, não deveria estar correndo? Será que alguma situação estive entre os 10 %?

Elder Corrêa Jr

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Manjar e frutas

Eu devia comer frutas. Meu médico havia recomendado. Coma todas frutas q tu conheces, disse o sabido médico. Mais nada foi recomendado, só as frutas.
E eu que achava que achava estar com a saúde e virilidade do Índio ou do Pato. Até brincava com meus amigos que fizera uma aposta com o superman: quem tivesse a saúde pior usaria por todo resto da vida uma cueca vermelha por cima das calças.
Maçã, bergamota, uva, laranja, pêssego, abacate, mamão, abacaxi, limão, morango, coco, melão, pêra, melancia, manga, maracujá já eram minhas conhecidas e provadas frutas.
Mas ainda tinha as que jamais provara e o médico disse em voz esclarecedora que precisava de todas as frutas, inclusive as desconhecidas para mim, como pitanga, açaí, caqui, kiwi, amora, butiá fora as que nunca havia sequer ouvido falar, destas estava livre. Seriam muitas? Ou poucas?
Sempre fui bem curioso a respeito de degustações, mas tenho meus pudores com relação a alguns alimentos, alguns pelo gosto outros pelo que representa. Já penseiem pedirem algum restaurante manjar-dos-deuses. Ai é que está problema. O que seria, este manjar-dos-deuses? Um prato de entrada? De saída? Ou sobremesa? Também não me iamginaria olhar no olho do garçom e pedir algo chamado manjar-dos-deuses, e minha reputação? Até eu mesmo duvidaria da minha masculinidade.
Assim fui comer todas aquelas frutas que ainda não provara, fui ao mercado e enchi aquelas cestinhas, também, já havia encomendado na feira as frutas que não tinha a pronta entrega. Pô, na hora que o fruteiro me entregou aquelas sacolas com kiwi e amora me deu uma vergonha de nunca mais passar ali perto.
Devia manter minha saúde de aço. Comi, comi, comi, só estava faltando a amora e o kiwi, seria um preconceito? Minha saúde à prova comi primeiro o kiwi, todos aqueles pêlos me ansiavam, e quando coloquei o primeiro pedaço na boca logo cuspi de volta. Horrível! Quase o mesmo aconteceu com a amora, aquele suquinho, manchando minha bermuda nova me “tapou” de nojo, mas a custo, consegui comer uma inteira.
Alguns dos meus sentidos previram que aquilo só me faria sofrer, devia ter levado a serio. Não devia ter sequer provado aquelas duas frutinhas. E é por isso que, agora, nem que algum garçom me ofereça e explique o que é manjar-dos-deuses, não aceitarei.

Elder Corrêa Jr

Cupido

Muitos de meus amigos juravam que já tinham sido flechados pelo cupido. Eu sempre pensei que fosse bobagem. Não acreditava e pronto.
Num desses finais de semana que têm varias opções de divertimento em vários lugares e ao mesmo tempo, quando fica muito mais difícil escolher aonde ir, eu fui testemunha de um fato que me fez acreditar no tal cupido.
Decidimos, então, eu e um amigo, ir a um barzinho movimentado. Muitas pessoas na frente do bar. Entramos e, antes mesmo de sentarmos para pedir algo, passaram por nos duas meninas exuberantes. Lindas mesmo. Olhamos para elas. Elas nem nos olharam. Passaram em nossa frente e sequer nos viram.
As duas eram morenas, tinham, no máximo um metro e sessenta e cinco centímetros, a pele era uma seda, aparentavam uns quinze anos, os olhos com um brilho desses que só as meninas de quinze anos têm. E não tinham namorado.
Logo quando passaram, o meu amigo disse, quase sem fôlego e por entre os dentes: Olha essa morena! E eu que ainda estava olhando-as, perguntei: Qual?
_ A de blusa branca e de shortinho, olha essa menininha.- disse ele.
Tentei convencê-lo de ir lá e conversar com ela, ele hesitou e se reservou a observá-la. Mirava-a de longe, nem piscava. Não prestava atenção em mais nada, só naquela moça que ele não sabia nem o nome. Ficava imaginando o que falaria se tivesse coragem de conversar com ela. Ele pensava em falar as palavras mais lindas que um homem diria a uma mulher e ele até ensaiava.
Tinha a oportunidade da vida dele, era como se fosse bater um pênalti. Só que, no futebol, ele era zagueiro, não chegava à frente, no futebol ele experimentou poucas vazes a centroavância. Os centroavantes sim é que estavam acostumados com a felicidade. Eu tinha certeza que, se ele falasse o que estava pensando, seria fácil como bater um pênalti com o goleiro estirado no chão. Digo isso com a experiência de centroavante que sou. Mas aquele zagueirão que não vacilava nunca e que era o mais viril e valente do bairro, estava a uns seis metros de uma menina e ele, acreditem, estremecia.
Ouvimos as suas combinações de irem ao centro, onde estava ocorrendo um evento. Decidimos ir também, e saímos antes delas, para não parecer que estávamos seguindo-as. Ótimo plano! Em menos de cinco minutos de espera apareceram as duas e mais uns seis amigos delas.
Nos aproximamos do grupo e, agora sim, ela olhou para ele, olhou o melhor olhar que ele podia querer. Depois até conversaram. Batemos foto, e ele, claro, do lado dela.
Já não o reconhecia mais. Logo ele que não era de se apaixonar, ele que mantinha o lado racional sempre imperando, agora, só falava nela. Queria vê-la a todo custo, nem que fosse só pelo prazer de conversar.
Outro dia até conversaram, só que ele sentia que ela não correspondia ao que ele sentia. Sem sombra de dúvidas, ele havia sido atingido pela flecha do amor, mas não parecia que ela também tivesse sido flechada.
Agora ele lamenta porque não disse tudo de bonito que sentiu naquela noite no barzinho. Talvez ela nem acreditasse em tudo, pois era muito sentimento por uma pessoa desconhecida. Talvez ela nem quisesse ouvir, mas ele tinha que ter falado, devia ter coragem. E ele sabe disso. Por que ele não tentou? Que não desse certo, tudo bem, pelo menos teria tentado acertar. Por quê? Ah, se ele tivesse tentado...

Elder Corrêa Jr

A igreja mudou minha vida

Sempre segui a risca e adorava o dito: de graça até injeção na testa. E olha q eu nem precisava de tantas coisas gratuitas que aceitava.
Ônibus errado, bala, pedacinhos de papel sem valor algum, consulta odontológica, óptica, de coração, tratamento capilar, chimarrão, sucos, chocolates, bergamotas nos mercados, abraços entre tantas outras coisas.
E o que eu podia eu guardava. Frascos de amostra grátis, pacotes de erva-mate, e até copos. E eu idolatrava aquilo. Todo o sábado limpava um por um todas aquelas bugigangas.
Mas me ocorreu um fato que me fez mudar tudo o que eu pensava sobre o assunto.
Estava caminhando em busca de nada, pelo centro, quando de repente alguém me estende um jornal. Sem hesitar perguntei se era de graça. Claro que era, era um jornal de igreja. Peguei e ainda comentei: de graça até choque. Talvez tenha sido ai o meu erro. Uma vez me disseram: “não dá assunto pra desconhecido”, mas por alguns instantes eu me esqueci, ou não dei bola ou até imaginei q estava falando com alguém inofensivo. Mas saiu, e só percebi depois que já tinha fechado a boca.
Sem pestanejar a moça q estava distribuindo os jornais me perguntou se eu desejava colocar meu nome para a oração. E não é q eu aceitei. No que eu estava escrevendo meu nome, cuidei por cima e já estava vindo mais uns três da igreja ao meu encontro. E vinham... E já estavam a uns cinco metros e eu ainda estava no Nunes, ainda faltavam mais dois nomes. E eles cada vez mais perto. Dois vestindo preto e mais uma de branco atrás deles.
Nem bem eu tinha me posto ereto ofereceram pra que eu fosse visitar a igreja deles. Vacilei. Até nem ia entrar. Já pensava numa desculpa boa pra não ser mal educado, ir embora e esperar que orassem por mim. Mas ao mesmo tempo em que a moça de calça branca colocava meu nome numa caixinha, que estava no chão- ela naquela posição, com a marca de uma minúscula calcinha, e eu que já tinha uma tara especial por mulheres de calça branca- a moça do jornal ainda brincou: “é de graça”. Irresistível. Não pude me conter e entrei. Afinal, sai de casa em busca de nada, o que viesse seria lucro.
Mostraram-me toda aquela rica igreja e me deixaram ir embora, sai dali pensando: como eles têm tanto dinheiro? Antes das sete horas, quando eu já estava em casa, o Pastor, eu acho, bateu na minha porta.
_ Vim te convidar pra assistir a reunião hoje. Falou antes mesmo de eu poder perguntar como ele havia descoberto meu endereço.
_ Aceita uma carona? Indagou novamente (isso tudo em questão de segundos).
Aquele monte de informações na mesma hora me agoniou tanto q não sabia nem o que falar.
_Ã? Foi o máximo que consegui pronunciar.
_ Sim vamos à reunião? Começa daqui a pouco! Insistia aquele homem.
_ Não vou. Não adianta insistir, se tu não sair daqui agora mesmo vou chamar a polícia!
Fechei a porta. Espiei pelo olho-mágico ele ainda estava na mesma posição.
Fui um grosso com aquele pobre rapaz, mas se eu não falasse tudo aquilo tenho certeza que ele iria me convencer de ir naquela maldita reunião. E eu ainda tinha q ver o jogo da seleção brasileira contra um combinado de Uzbequistão. E como eu iria perder um jogão desses?
Olhei novamente, uns 2 minutos depois, ele já havia saído.
Ufa. Estou livre.
Por fim, nem consegui olhar o jogo. A TV a cabo, que recém tinha assinado, estragou. Fiquei olhando Torre de Babel, na Globo.
Pior foi que não dormi a noite inteira. Perdi horas daquela noite fria colocando todos aqueles lixos, que eu havia ganhado e não tinham serventia nenhuma. Só serviam pra juntar traças, baratas e uns bichinhos cinza q não sei o nome.
O pesar foi quando terminei de juntar tudo aquilo, em dois sacos, e os coloquei na lixeira. Apesar de ser lixo, era meu.
Já eram quatro horas da matina, o sol ainda nem havia despontado, quando decidido a nunca mais pegar nada que fosse de graça, fui dormir.
Às oito horas já estava no colégio. Foi quando o professor de matemática propôs um desafio, falou brincando:
_ Quem conseguir resolver esse exercício vai ganhar uma viagem pra Bagdá.
Uma tentação, apesar de saber que lá está sempre explodindo bombas. Eu fui o único da turma que conseguiu resolver o exercício, sabia que tinha acertado. Sequer mostrei ao professor.
Mais tarde, voltando pra casa, fui encher o tanque do carro, e sorridente estava vindo uma moça com uma bandeja na mão,com um copo d’água. Veio pro meu lado e nem falou nada, só me alcançou, eu sempre aceitava, embora não estivesse com sede.
_ Não, obrigado, estou de dieta.
Ela riu.
Foi a coisa mais inteligente q eu consegui falar.
Agora nem papel na rua eu pego. Nem por educação. Nem pra largar na primeira lixeira que encontrar.
E o pior é q eu fico imaginando os milhares de descontos e oportunidades q eu posso estar perdendo, mas não pego.
Sou um grosso!
E foi a igreja que me deixou assim.

Elder Corrêa Jr

Como matar alguém

Sei que tem muita gente c/ vontade de matar alguém. Sei por que to vendo isso daqui. E vocês humanos estão num ódio tão generalizado q nem preciso mostrar pra vocês, que são os assassinos, suas formas, suas armas.
Mas vou salientar que até é , meio curioso. No mínimo estranho, porem muito criativo e eficiente a maneira que vocês estão usando pra matar.
Tão matando e nem deixam pistas, não pra vocês, meros terráqueos humanos escalafobéticos e analfabetos, mas não esqueçam que daqui da pra ver. E sabe... To gostando até. É um tanto divertido.
Enquanto tem uns pregando a morte pela moralidade, alias, com a desculpa da moralidade. Fazendo terror e se dizendo os apaziguadores. Outros matam e não estão nem ai pra o que vão falar, até por que quem falar mal perde a cabeça. Outros estão matando o futuro PLANTANDO e fazendo o PAPEL do que faz... sabe que está matando, mas nunca admite.
Até nem vou me estender tanto e vou falar da forma mais diferente, revolucionária, eficaz e humilhante para o morto, que chega aqui sem moral nenhuma, entra pela porta dos fundos, coloca um chapeuzinho tricolor e fica sendo zoado por todos. Isso quando não tenta esconder sua morte ou a causa e causador dela.
E nem chega a ser um homicídio o que estou citando, e sim algo próximo de um suicídio. Vencendo todas as barreiras e adversários, os maiores adversários possíveis na face da terra, uma onda vermelha dizimou o que antes, em seu pago, era da cor do céu, anil.
As almas dos mosqueteiros já estavam encomendadas há muito tempo. Até que morreram. Morreram vendo seu rival detonar a maior potencia intergaláctica.
Eu achei incrível e totalmente inovador, não só essa nova modalidade de matança generalizada, mas também a capacidade deles- q tiveram seus corpos mantidos na terra para serem escrachados- ainda terem coragem de se intitularem imortais. E o pior é que dá pena de chicoteá-los. Meros corpos sem alma.
Vocês devem estar se perguntando se eu sou Deus ou um anjo ou qualquer coisa do gênero. Não sou. Sou um que também morreu de uma forma inusitada. Morri amando... Morri por amar uma pessoa q me dava, e até hoje dá, expectativas pro meu corpo q esta na terra. Daqui ta meio embaçado de ver, hoje lá o céu é bruma, está frio ao que parece. Minha carcaça aparenta uma felicidade constante, talvez tenha mesmo motivos pra tanto, mas ainda não conseguiu vingar minha morte para que eu possa voltar. Apesar de tudo, eu to achando que essa pessoa está temendo amar e correr o risco de morrer e me encontrar aqui. E morrer de novo...

Elder Corrêa Jr

Cinema gabrielense

Ainda sou do tempo do cinema em São Gabriel. Já bem diferente do que contam meu pai e meus tios em seus tempos de trocar figurinha em frente ao cinema de varias sessões semanais, mas sou.
Foi numa época de nuvens de “cascudos” sobrevoando e logo caindo sob nossas cabeças. Época em que convencíamos ou lubridiavamos o porteiro de nos deixar isento do pagamento de cinco reais. Há pouco tempo implantada a nossa moeda, achávamos que enganávamos o porteiro e ainda lembro daquele prazer de passar do lado da roleta e correr pro interditado 2° piso. Nunca mais vi o solidário porteiro. Gostaria de agradecê-lo
Meu primo e eu éramos uma dupla, jogávamos futebol em pleno calçadão, com luminárias como goleiras. Atrás de cada par de luminárias, arbustos cheios de espinhos. Furamos muitas bolas, acertamos muitas boladas em pessoas que passeavam pelo nosso campo, o calçadão, ouvimos e também xingamos bastante, fizemos muitos gols, mas o que nos fazia correr dali era quando dávamos boladas nos bojos das luminárias a 3 metros de altura. Os bojos eram de vidro. Aqueles vidro branco, bonito. Blem... no chão, todo quebrado. Corremos muitas vezes acho que fugíamos antes do bojo se espatifar em cacos no chão.
Agora, com a cidade sendo novamente tomada pelos besouros, renasce a esperança de ver o cinema funcionando, um “bando” de guri jogando bola em frente ao, agora, centro de eventos e juntando “cascudos” em grandes copos e os enchendo com água quente do lendário chimarródromo.
Só que o tempo não volta. Passo pelo calçadão, ainda são as mesmas luminárias, soque os bojos agora são de plástico. O arbusto de espinho espeta agora minha lembrança em não o ver mais.
Não tem maiôs ninguém correndo pelo calçadão, salvo alguém apressado. As linhas amarelas as quais corríamos sobre elas já estão apagadas. E, alem de tudo, tem um “guardinha” que não deixa nem andar de bicicleta no calçadão. Como pode haver diversão assim?
Provavelmente eu tenha sido um dos jogadores da ultima partida de futebol do calçadão.

Elder Corrêa Jr

Palavras

“O sol que se esconde atrás do outeiro,
Vai embora, nos deixando no breu insólito,
Mas perdura ainda o verdor da juventude,
Que das mais profundas escuridões encontra a luz
E nos aponta uma resposta.”

Lucas Loch Moreira

Mochileiro da vida



No caminho que percorro não avistei flores
Mas todas as pedras que vi eu chutei
Parece uma bobagem, e é, mas é melhor chutá-las
Do que guardar na mochila
Pedras chutadas não pesam nas costas

Lucas Loch Moreira

Suicídio inacabado

Sentir
O gosto do desgosto
A textura da amargura
Seguir
O odor que exala do esgoto
A insanidade da loucura
Segar
O infinito desespero
A finita porção de vida
Sanar
O sofrimento por inteiro
A felicidade perecida
Desistir do suicídio

Lucas Loch Moreira

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Virando a casaca

Levantou-se.
Em seguida subiu na mesa.
Paulão suava frio. Teria ele ensaiado um discurso há dias, mas na hora não saía nada.
- Escutem!!! Tenho algo importante a dizer.
Todos se calaram.
Paulão olhava os rostos afoitos que esperavam os seus dizeres e ficava ainda mais nervoso. Mas enfim soltou:
- Eu sou homem!
O silêncio foi sendo quebrado por “ó”, “meu deus” e todos os tipos de interjeições que demonstrassem pavor.
Aliás, pavor é pouco para expressar o que todos sentiam, incluindo o Paulão.
Peraí!!!
Você deve estar se perguntando: o que há de errado nisto?
O que há de errado nesta declaração?
Paulão era o ícone da pederastia no clube. Clube este do qual era presidente há doze anos. Um gay de carteirinha.
Desses com certificado, diplomas e tudo.
- É o fim do mundo - Diziam os (as) que ainda não tinham desmaiado(a).
Não era possível. Não mesmo.
Paulão foi corajoso, apesar de demorar anos para demonstrar sua masculinidade. Sempre foi cobiçado entre o seu meio. E agora traía sua irmandade.
Em uma cerimônia triste, Paulão entregava sua coroa rosa e partia para casa. Digno de um enterro. Ao invés de seu corpo, foram enterrados sua honra e moral.
Ainda assim, havia pessoas que continuaram respeitando o Paulão, mas a grande maioria agora cochichava pelas saunas e sala de massagens:
- nunca imaginei uma coisa destas, o Paulão um homem!
- que pouca vergonha, que horror!!!

Lucas Loch Moreira

terça-feira, 3 de julho de 2007

Monstro do lago Ness ou do Cap Nou?

Havia um monstro no lago Ness. Eu nunca acreditei, também nunca passei lá. Já pensei em ir e ficar lá, parado, esperando para ver ele aparecer. Ele não apareceria. Pois para mim, em meu inconsciente, na minha razão, a lenda é lenda, não é verdade. O mostro é apenas mito. Um mito, talvez para assustar crianças e impedi-las de entrar sem seus pais, o mesmo motivo que meus pais diziam:
_Não vai tão longe que o “veio do saco” te pega, exclamava minha mãe.
_Se tu for lá fora o “santo louco” te da um corridão, alertava-me meu pai.
Isso é uma comparação. Eu gosto e sempre faço comparações. É importante para nossas vidas. Por exemplo: eu comparo o monstro do lago Ness com o Barcelona. Igualzinho.
Muita gente já cruzou o lago afora e nunca viu e, inclusive, pensaram: é aqui q tem o monstro? Muitos times foram ao Camp Nou e falaram: esse é o Barça? Já outras pessoas, juram ter visto e afirmaram que é medonho. Como alguns times enfrentaram o Barcelona e ficaram ressabiados. Na verdade o Barça é um mito que tem um mito, o Ronaldinho e este, sim, é verdadeiro.
Comparo também os níveis de alegria que certas coisas me trazem. Tomar um mate em uma manhã de inverno ensolarada no pórtico de casa tem o mesmo peso de ver a defesa do Inter sendo sublimemente eficaz. Dirigir por exemplo, alegra-me o mesmo que comer uma barra de chocolate Diamante Negro. Já um gol do meu time, comparo com sexo, até porque é o clímax, o auge, o máximo.
Eu comparo o que acontece para não sentir alegrias com o mesmo peso consecutivamente, por isso, no dia 17 de dezembro, na final do Campeonato Toyota Mundial Interclubes, não vou tomar mate, prefiro ver a zaga colorada tomar conta do ataque catalão. Vou ver o jogo em casa, por isso, por não poder estar dirigindo, vou saborear meu chocolate preferido. É. Não vai dar. Não vou transar uma semana antes da final. Prefiro ver o Internacional ganhar o inédito titulo de campeão Mundial.
Ah! Gritar; É...
Campeão. Não há comparação.

Elder Corrêa Jr

O menino subiu no muro



O menino subiu no muro.
Ele sempre quis ver o que tinha do outro lado. Eis que certo dia o menino, já tendo certa altura, conseguiu finalmente subir. Ele viu o homem inventar os aviões, os prédios, as máquinas e as guerras. Viu o homem criar as doenças e os remédios. Ele contemplou à tudo com um olhar observador e de repulsa.
O menino viu o homem matar e morrer, ele viu a natureza cair exausta, pagando pelo conforto do seu próprio filho. O menino subiu no muro e viu a realidade brotar em sua frente de uma forma impactante e imperdoavelmente fria.
O inocente garoto testemunhou o homem morrer de fome, as crianças nascendo já condenadas a não viver dignamente.
O medo se apoderou da criança, tanto que ela prometeu a si mesma que nunca iria para aquele lugar. Tentando se conformar ele tentou sorrir, e desceu do muro para voltar para seu seguro lar.
Infeliz foi o menino ao notar que o lado do muro que ele acabara de observar era o seu.

Lucas Loch Moreira

Biotônico

Várias coisas eu não acredito e ponto. Passei grande parte de minha infância tomando Biotônico Fontoura. Quem nunca tomou? Alguns, assim como eu, por determinação dos pais e outros por vontade própria.
É de sabedoria geral que o Biotônico Fontoura é um estimulante para o apetite. Eu duvido. Pra mim não passa de algo que nos faz salivar mais do que o normal após sua ingestão. Talvez até, em sua composição, haja algo similar ao que encontramos nos salgadinhos. Um produto que não nos deixa saciados, a boca pelo menos. Mesmo que não caiba mais nada em nosso organismo.
E não para por ai. Eu tomava o Biotônico alguns minutos antes das refeições. Como poderia fazer algum efeito imediato? Isso se existir algum.
Na minha concepção ele funciona da mesma maneira que aquelas garrafas d’água nos contadores de energia elétrica para baixar o consumo. Ou seja. Nenhum, se analisarmos de forma científica. A pessoa que acredita no Biotônico e na força dos pets são as que apresentam melhores resultados. E isso não é fé. Elas sabem que tem que consumirem menos energia, tomam banhos mais rápidos, e desligam com mais freqüência as lâmpadas. Fazem tudo isso e o mérito é daquelas garrafas, ou da água que tem nelas.
E é da mesma forma que acontece com o Biotônico Fontoura. A pessoa sabe que tem que aumentar o peso. Começa a comer duas, três vezes mais, inicia a prática esportiva, até entra na academia e aquém leva todo o mérito? O Sr Fontoura.

Elder Corrêa Jr

Pampapel

No princípio o pampa iria virar mar,
Depois o mar é que iria virar pampa,
Agora o pampa vai virar papel,
E o papel, obviamente, gerará dinheiro e lixo.
Dos eucaliptos virão os papéis que usaremos para escrever
Recordações de um pampa extinto, um velho pampa que não volta mais. Um pampa que morreu com a ajuda do BNDES, um pampa que virou papel.
Nestes papéis iremos escrever envergonhados por um pampa que não morreu por nós, como cristo no calvário, e sim para uma multinacional que também carrega uma cruz, no nome.
O gauchismo e os tais que o seguem sempre deixaram claro o amor pelo seu pampa, e que seriam capazes de morrer pela sua querência.
Na guerra dos farrapos os latifundiários colocaram seus homens nas linhas de frente, para morrerem por um ideal burguês.
Desta vez, os bisnetos dos mesmos caudilhos estão entregando suas terras para a consumação integral, não são capazes nem mesmo de honrar a falsa moral de seus antepassados.

Lucas Loch Moreira

Utopia, coca-cola & galochas amarelas

Se eu pudesse mudar as coisas eu começaria trocando o nome do “Domingo”.
Provavelmente eu colocaria um nome feminino, para que seu aumentativo não rimasse com Faustão.
Se eu pudesse mudar as coisas tudo ia ser com eu queria. Não parece perfeito?
Tudo ia ser na hora que eu quisesse, como eu quisesse e aonde eu quisesse. Eu decidiria quando iria chover, isso se eu quisesse que chovesse. Todos ouviriam a música que eu tivesse afim, das torneiras sairiam coca-cola ao invés de água e todas as pessoas usariam galochas e capas de chuva amarelas.
Não parece perfeito?
Eu teria o poder de decidir tudo.
Agora pensando bem não seria um tanto chato?
Aliás, muito chato?
Sim, porque tudo ia ser fácil demais e eu acabaria me sentido só.
E será que não seria muito cansativo?
Só de pensar já me dá uma preguiça.
Se eu pudesse mudar as coisas acho que provavelmente eu deixaria para mudar no ano que vem...

Lucas Loch Moreira

DEPRESSÃO TECNOLÓGICA

XR7-000 era o nome do robô que dona Alice comprou.
Fazia tempo que dona Alice se queixava de fazer as obrigações do lar, então juntou dinheiro e comprou o XR7-000, o melhor amigo da dona do lar, como dizia o anúncio na TV.
Dona Alice estava toda sorridente quando chegou a encomenda, reuniu toda a família na sala para conhecer o mais novo morador da casa. Ele chegou tímido, demorou a ser ativado, carregou todos os dados e plim. Acordou.
“meu nome é XR7-000, eu sou alimentado por pilhas de urânio, sendo assim, não trarei despesas e serei capaz de trabalhar por 2346 anos, 2 dias, 4 horas, 24 minutos e 32 segundos sem desligar. Espero ser útil”.
Dona Alice se maravilhou e aplaudiu enquanto os outros voltaram para seus aposentos desapontados.
Realmente o robô cumpria suas tarefas com muito êxito, era veloz e dedicado. Ele ainda contava com um recurso muito interessante, podia adquirir personalidade, para isto bastava que fosse adicionado um código em sua programação.
Apesar de tanta felicidade, dona Alice viu sua família desmoronar graças a esse ilustre habitante da casa. Isso se deve ao fato de que ela começou a tratar o XR7-000 como um rei, ele tinha uma poltrona só para ele na sala, todos tinham de assistir o canal de ciência e tecnologia que ele gostava, na TV a cabo que dona alice comprou pra ele.
O estopim foi quando Dona Alice expulsou seu marido da cama para confortar melhor o robô. Logo após o divórcio as crianças foram morar com o pai, e dona Alice começou a se sentir só.
Apesar de magnífico, o XR7-000 era apenas um robô, e não podia retornar o mesmo afeto que dona Alice proporcionava, a não ser que fosse reprogramado. E foi isso que Dona Alice fez.
Quando o código foi inserido o robô retomou a consciência como alguém que acorda depois de um desmaio. E começou a apresentar as diferenças agindo como uma pessoa, ou melhor, como uma empregada doméstica.
Foi espantoso o modo de como seu português decaiu, demonstrando tendências de analfabetismo.
Mas não para por aí. Já no primeiro dia, XR7-000, que agora insistia em ser chamado de Marizete, manchou duas calças, queimou uma blusa, quebrou um prato e duas xícaras de porcelana, sem falar que essa sinfônica tragédia foi regida ao som de teodoro e sampaio.
Dona Alice não foi rígida com o robô, ela acreditava que ele estava passando por um período de transição.
Mas no segundo dia, XR7-000 não foi trabalhar, pois tinha enfrentado uma fila no inss. No terceiro dia continuava a se queixar de dor nas costas, e estava com a lataria amassada, dizia ter apanhado de seu marido que chegou em casa bêbado. Dona Alice já não sabia mais o que fazer com aquele robô que andava pela casa de havaianas, reclamando do salário e comentando o tempo inteiro sobre a novela das 8:00.
Fatidicamente dona Alice caiu em profunda depressão.
O que até então era sua maior alegria agora era sua maior frustração. O maldito robô não parava de falar sobre doenças, morte, contas para pagar e outros assuntos “agradáveis” como estes.
Dona Alice só via uma alternativa. Matar o robô.
Após um longo diálogo para tentar demiti-lo o robô só repetia a mesma coisa:
-Eu vou te “botar” na justiça, meu primo é “dotô adêvogado”.
A ira tomou conta de dona Alice, que começou a atacar o robô com um martelo de bater bifes. Ela o encurralou no banheiro e começou a agredi-lo.
Quanto mais ela batia, mais raiva ela sentia, e sentava o martelo.
A vizinhança arrombou a casa para acudir a vítima que urrava de dor e desespero.
Dona Alice já estava sentada no chão, enxugando o suor, enquanto o robô pronunciava suas ultimas palavras.
“meu nome é XR7-000, eu sou alimentado por pilhas de urânio, sendo assim, não trarei despesas e serei capaz...”
Morreu.
Hoje em dia Dona Alice vive em um manicômio e passa o dia inteiro limpando tudo, pois teme que a direção do seu novo lar compre um robô para executar as tarefas.

Lucas Loch Moreira

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Aquela música

Sei, me machuca, me corroe
Ainda sim, é linda, lembra você
até porque ela também me mata, me destrói
Mesmo assim eu ouço, sabendo ou não o porquê

Meus sonhos começaram
quando por esta musica foram detonados
e tudo aquilo represado, por conta se liberaram
esses átomos, todos eles apaixonados

E eu ainda ouço essa música só pra me machucar
ouço essa música porque foi você quem mandou
você que me traz felicidade e me faz chorar
você que... Não posso continuar. Acabou


Elder Corrêa Jr

Deitado sobre o telhado

Deitado sobre o telhado se encontra o sereno
Serenamente deitado se encontra o telhado
Descansam as flores no jardim
Como se não trabalhassem tanto
Como trabalham pra mim
Como trabalham pra mim
Como se não trabalhassem tanto
Descansam as flores no jardim
Serenamente deitado se encontra o telhado
Deitado sobre o telhado se encontra o sereno


Lucas Loch Moreira

Mesinha da cama

Ainda busco uma forma rápida e prática de ter e controlar a inspiração para escrever. Já tentei várias formas. Algumas boas. Outras nem sei, pois deixei passar e acabei não escrevendo. A inspiração parece ter voltado, após ter abusado de suas férias. Cheguei a achar que havia perdido para sempre, assim como Marcos, o profeta, perdeu seus poderes.
Geralmente começo da conclusão para depois o desenvolvimento. As frases vem soltas e prontas na mente. É só juntar tudo e fazer. Parece muito fácil, mas não é. Essas idéias aparecem de repente e eu nunca tenho papel à mão. Tenho sorte quando tenho e escrevo o pensamento principal pra desenrolar mais tarde.
E é ai que complica. Os lugares que me sinto mais a vontade são no sofá da sala e na minha cama. Isso é um castigo pra minha coluna. Ainda mais com esses frios que ta fazendo nesse inverno.
Tenho um plano! Desenvolver uma espécie de mesinha que eu coloco em cima da cama. E que eu fique sentado na cabeceira e tapado. Bem tapado. Uma mesa do estilo dessas que usam pra levar café na cama. Só que adaptada pra escrita.
Até já tenho o assunto para a inauguração da tal mesa. Fala sobre a impunidade dos jogadores dentro da área e a dos casais no relacionamento. Esta ta sendo martelada a tempos. Creio que será a melhor de todas. Só espero que essa mesinha não tire a magia de escrever na cama.


Elder Corrêa Jr

Barbosa

Sentado-se à mesa do bar estava Barbosa, arrasado.
Barbosa era, e é filho do seu Barbosa, pelo menos tenho certeza que nunca ouvi falar que seu Barbosa teria vindo á falecer. Ou será que sim? Ah sei lá
Então sutilmente entrou Afrânio com um saco preto na mão esquerda.
Afrânio é irmão do Timóteo que era amigo do Ronaldo, que era namorado da Roberta, que tinha um caso com um açougueiro, que comprou uma bicicleta do Jair que roubou do Francisco que tinha um bar onde Fabrício tocava violão e morreu engasgado com um churros que comprou de um vesgo que vendia no calçadão, mas isso não vem ao caso.
- Adilson, traga outra cerveja! – esbravejou Barbosa.
- Porque tu não vais pra casa? – opinou Adilson.
- Porque tu não vais pra minha casa ver se a minha mulher ta disponível? – indagou Barbosa desapontado, que já segurava a cabeça com as mãos para que não caísse do pescoço.
- que isso Barbosa? Postura homem! – disse Afrânio.
O garçom apenas balançou a cabeça, serviu a cerveja e retirou-se.
- Afinal o que é isto Afrânio?
- Isto o quê?
- Esse saco preto!
- Que saco? Desde que você descobriu que foi traído vem tendo alucinações. – disse Afrânio tentando esconde-lo embaixo da mesa.
- Que conversa é essa? Eu te vi entrando com um saco preto na mão.
Afrânio desistiu e confessou.
- Esses são os ossos da mãe do Atanagildo.
- E o que você esta fazendo com isso?
- É que às vezes tenho saudade dos velhos dias em que sentava-mos na varanda da casa do Atanagildo juntos com a mãe dele.
- Ah aquelas pernas!! Aquilo sim eram pernas!!


Lucas Loch Moreira

Porque o quadro negro é verde?

O que há de errado com as escolas?
Ou
O que há de errado com os estudantes que delas fogem?
Talvez o grande defeito da escola seja o de não ter sido criada por um estudante.
Talvez o grande defeito do estudante seja o de ter sido criado na escola.
Se o Machado de Assis fosse apenas a ferramenta que o senhor Assis usasse para cortar lenha, os alunos certamente teriam menos dor de cabeça. A escola deixa dúvidas que podem enlouquecer um indivíduo, como exemplo, o quadro negro.
João acaba de se formar em Biomedicina, e quando chega em sua casa cai em um nostálgico devaneio, recordando dos tempos de criança, mais especificamente quando entrou na escola, e com isso entrou em desespero por perceber que de nada adiantava ter estudado longos anos, pois não sabia nada. Tudo isso por causa de uma dúvida: Porque o quadro negro é verde???
Desde seu primeiro contato com uma sala de aula até sua formatura na universidade, nem João, nem ninguém, conseguiu desvendar este mistério que mais parece um dogma, pois todo quadro negro que vi é na verdade verde. Do que valeram seus estudos se não aprendeu a primeira questão da escola?
Na escola XV de Novembro há um caso um tanto assustador, as salas de aula estão perdendo os seus alunos para um recinto insalubre, inóspito, fétido e difamado, mas que parece fazer bem mais sucesso, o banheiro.
Seria interessante se os professores ao invés de expulsar os alunos do banheiro, procurassem entender o porquê desta situação.
Parece que as aulas são tão chatas que os alunos preferem fazer do banheiro o seu segundo lar.
É claro que sempre vai ter um desinteressado como eu que vai procurar uma explicação para a falta de interesse dos alunos, ou pelo menos passar a batata quente para as mãos dos professores. Faço isso por coerência, pois não basta ser um desinteressado se não for defender esta tão grandiosa classe, e rebater de alguma forma as declarações feitas em sala de aula por alguns professores que acabam deixando sem resposta os alunos, que por ventura se tornam ainda mais desinteressados.
Quero ser escritor, mas temo ser famoso e que consecutivamente meus escritos se transformem em material didático, incrementando assim mais um desgraçado escritor á ser estudado na literatura daqui á algumas décadas, por isso quero continuar escrevendo mal.
E se possível, nas paredes de algum banheiro de escola...


Lucas Loch Moreira

O Grêmio tem perna curta

“Um Caxias com grife” foi o infeliz comentário que um dirigente do Grêmio teceu ao se referir do Boca Junior’s. se não me engano foi o mesmo que em algum dia “iluminado” falou que eram imortais e maior que tudo.
Isso ocorreu diante de serem massacrados pelo time argentino naquela chuva de papeis azul e amarelos na Bomboneira. Era de se imaginar esta frase partir de alguém que contrata atacantes que passam seis jogos sem fazer gols.
Peço desculpas pela vulgaridade das palavras, mas imortal... imortal é a minha bola esquerda. Mesmo assim não parece que os gremistas tenham acreditado na frase que só vem a deixar os argentinos com mais fome de vitória. Pois cantavam “...mesmo não sendo campeão o sentimento não se termina...” antes mesmo da derrota. Se bem que pareciam nem quererem golear, pois, como de tradição, Martin Palermo humilhou o Grêmio ao não se importar c/ o pênalti desperdiçado. Afinal tinham Riquelme para cobrar. Ele não erraria.
Uma utopia foi o Grêmio dos últimos tempos. E até que durou muito. Fantasiaram um Grêmio vencedor. Parece que se envergonharam da realidade e preferiram mentir.


Elder Corrêa Jr

Mauricio Mauricio

Ele achava futebol um esporte estapafúrdio e escalafobético.
Mauricio teve uma infância difícil, era um garoto problemático.
Contava- os passos, tinha problemas com o comprimento das pontas do cadarço, colecionava clipes de papel, o que não seria estranho se não levasse em consideração o fato de que todos os clipes eram perfeitamente idênticos.
- Só pode ter merda na cabeça!!! – Era o que se pai dizia.
Porém, várias consultas psiquiátricas depois, Mauricio era um homem respeitado e bem sucedido profissionalmente.
Como era de se esperar, Mauricio não poderia ter profissão que se adequasse melhor com seus problemas mentais, ele era um burocrata do funcionalismo público, o seu maior defeito era o de ser muito perfeito.
O que era engraçado é que em sua mesa no escritório tudo era milimétricamente perfeito, e a cadeira que ficava à sua frente era muito afastada da mesa, para que ninguém que fosse atendido por ele pudesse mexer em alguma coisa.
Ninguém conseguia imaginar o que se passava na cabeça dele, apenas o criador deste personagem, que sou eu.
Por isso vou desvendar esse mistério, Mauricio pensava que era o portador de algum poder que nem eu sei explicar, como se fosse um azarado, isto, essa é a definição, azarado.
Todo o dia ele fazia tudo exatamente igual, milimétricamente igual,
E pensava que por qualquer descuido ou falha em sua rotina o mundo podia acabar, ou coisa parecida. Superstição pura.
Ele trocava as lâmpadas de sua casa a cada 35 dias, pois achava que se uma delas queimasse haveria um desastre na terra, ou pelo menos em sua sala-de-estar. Isto se deve ao fato de que uma vez, quando criança, a lâmpada do seu quarto queimou, e coincidentemente no mesmo dia centenas de pessoas foram dizimadas por um acidente em uma fábrica de molas de cadernos na Ucrânia.
Ao chegar do trabalho, um minuto atrasado perante todos os outros dias de sua vida, ele sem perceber, abre a porta com a mão esquerda pela primeira vez na vida, e acende a luz, ou melhor, tenta acender, pois estava queimada.
O pavor tomou conta daquele homem, que saiu em disparada no seu carro atrás de uma lâmpada nova. Porém, em alta velocidade, e em uma rua que nunca tinha passado antes, Mauricio acaba batendo o carro.
Seu automóvel ficou destruído, mas teve ferimentos leves, já o outro carro nem tanto, porem a pessoa que estava no carona morreu.
O passageiro morto não era nada mais nada menos que o ex-padre Quevedo, que tinha entrado para as milícias comunistas e se tornado presidente do Brasil, a maior economia do mundo.
Quevedo estava se dirigindo ao encontro diplomático que selaria a paz com Angola, segunda maior economia do mundo, que efetuou um cartel com suas colônias, entre elas EUA, França e Japão, para dominar o monopólio mundial da produção de bananas transgênicas. Mas mesmo com a morte do maior líder mundial, o acordo tinha de ser selado, afinal a paz mundial estava em jogo.
Para substituí-lo, o vice-presidente Gugu Liberato, que estava ocupado comendo seu Chandelle, escolheu R.R Soares, seu secretario, mal sabia Gugu que R.R era um agente secreto da ultra-mega- super- extrema- direita- ampla- revolucionária.
Ao chegar ao púlpito, R.R esbravejou palavras de ódio ao povo angolano e declarou guerra, agarrado com a tese de que o presidente foi assassinado por um terrorista que usava o nome falso de Mauricio Mauricio, provindo logicamente das Ilhas Mauricio, que quase ninguém sabe onde fica.
E assim nasceu, coincidente ou não, a quinta guerra mundial.
Os ataques nucleares só cessaram quando já não havia ninguém para apertar os botões dos computadores que acionavam os mísseis.
E essa é a estória de Mauricio Mauricio, o homem que, querendo ou não, fatidicamente selou o seu destino e o da humanidade.
Falando nisto, vou lá trocar as lâmpadas de casa, mas não se assustem, irei á pé.


Lucas Loch Moreira

domingo, 1 de julho de 2007

Bolacha de Maisena

O primeiro jogo da final da Libertadores foi uma confirmação da história do Grêmio e Boca Junior’s na competição. O time gaúcho havia perdido as cinco últimas partidas fora de casa. Perdeu a sexta.
Mano Menezes cometeu o erro maior gritando para que o Riquelme fosse jogar seu futebolzinho. Logo para o craque argentino cujo empréstimo por seis meses o Boca pagou U$$ 2 miliões. Riquelme ouviu e obedeceu. Já tinha sido ele o cobrador da falta que originou o primeiro gol, fez o segundo, o quinto dele na competição, e o camisa 10 ainda teve participação brilhante no terceiro gol.
Ao termino do jogo, com a torcida do multi-campeão Clube Atlético Boca Junior’s, cantando “INTER... INTER... INTER...” o destaque da partida, em entrevista perguntou ironicamente se era mesmo aquele Grêmio de Belo Horizonte que passou pelo santos quem estava jogando.
Passaram para a final após serem vergonhosamente “socados” pelo santos de Zé Roberto e Wanderlei Luxemburgo e Jonas Greb. Deviam ter preferido nem passar. Pois vão ser humilhados, escrachados, e outros tantos “ados” pelo Boca de Riquelme e Palermo e Palácios e Ledesma e Diaz e outros tantos. E até nem seria tão feio para o santos. Fora que facilitaria uma manchete: “Peixe morre pela Boca”.
Também pudera como a criatura iria ganhar de seu criador? Isso é pra esses gremistas aprenderem a não idolatrarem esses argentinos, dizendo terem alma castelhana.
E agora da Azenha até o Gigante da Beira-Rio, onde está a taça da Libertadores, existe uma grande distância.
Eu estava tentando encontrar uma boa explicação para eles se intitularem imortais e falarem que nada pode ser maior. Esta é fácil. Analisando a palavra nada, achei como significado um espaço vazio. Então fica: Grêmio: um espaço vazio pode ser maior.
Até a tremedeira dos aflitos eles transformaram em Inacreditável. Filminho. Inacreditável foi aquele timinho do Náutico não vencer aquele gre-nau, errar dois pênaltis. Aflito ali só os gremistas pirando com a iminência de continuar a segundona, que é o lugar adequado a um time daqueles. Transformaram aquilo numa batalha. A batalha ali era o Grêmio contra a bola. Vale ainda ressaltar uma derrota para o poderoso Anapolina por 4 a 0.
Imortal contra Náutico e Caxias e Juventude qualquer um é.
Ainda procurando um significado para a imortalidade do Grêmio, o time brasileiro considerado o mais gay e mais argentino. Só me faz lembrar um popular adágio: Bicha não morre, vira purpurina...
E assim está o ano de 2007 para os gaúchos: Internacional, terceiro Campeão do Mundo reconhecido pela FIFA e Libertadores, ganhou a Recopa, garantindo assim a Tríplice Coroa. E o Grêmio com seu 35° Gauchão, o cafezinho. Ainda tem o Brasileirão pra eles e mais o Juventude.
E o Boca Junior’s ainda vai ganhar a segunda partida da final. Vai ganhar lá no Monumental Olímpico (o chiqueirão).
“Sábio é aquele que guarda as palavras desta profecia, pois eu voltarei”!


Elder Corrêa Jr

Cíntia


-Cíntia, o que é essa cueca vermelha?
-É uma cueca vermelha ora.
-Que é uma cueca vermelha eu já percebi, eu quero saber o que ela andava fazendo embaixo da nossa cama.
-E eu vou saber ?
-Cíntia sua sobrancelha, ela sempre treme quando você mente. Diga-me, de quem é esta cueca?
-Do Armando.
-Quem é Armando?
-Meu namorado.
-Como assim?? Cíntia, nós somos casados á onze anos.
-É que... é que... eu... eu...
-Tu o quê?
-Eu.. eu vivo em um universo paralelo.
-O quê???
-É isso mesmo que você ouviu.
-Que merda é essa?
-Eu pertenço a um ser superior que me convocou.
-Te convocou para uma suruba?
-Não, a coisa é séria, depois que Deus privatizou o purgatório a coisa ficou uma bagunça. Daí ele terceirizou o SA.
-SA?
-Serviço Angelical. Já fazia anos que não abriam concursos. Daí ele terceirizou.

E minha missão é te converter e recrutar.
-Ta bom Olga Benário, continue.
-Precisamos de você para o grande dia, você foi o escolhido.
-O escolhido para ser chifrado?
-Não, para findar os dias da terra. Esses malditos ambientalistas, o greenpeace e toda essa gente chata esta atrapalhando tudo. O patrão não vê à hora do mundo acabar.

Era para ter acabado antes de o Romário fazer o milésimo gol.
-Sério?
-Você não lê a bíblia, não vê o Globo Esporte?
-Não.
-Mas tu não sabe nada também. O que interessa é que a minha missão era te conquistar.
-Ora Cíntia, quando eu te conheci você estava se engasgando no próprio vomito em frente á uma carrocinha de cachorro quente, daí te levei no hospital e começamos a namorar. Nem sei como me senti atraído por ti.
-Deus escreve certo por linhas tortas.
-Vamos raciocinar. Deus precisa de alguém para fazer o trabalho do anticristo, e recorre a mim??

-É.
-Porque eu?
-Porque tinha de ser alguém com a sua frieza, inteligência, força e talento.
-Cíntia eu sou um professor de educação física.
-É realmente, eu exagerei na estória. Posso ver as crianças no fim de semana?
-Tudo bem, mas eu fico com o cachorro.


Lucas Loch Moreira