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terça-feira, 1 de julho de 2008

Torcedor Fanático

Sempre me orgulhava quando ouvia dizerem que mais fanático que eu não existia, hoje sinto vergonha deste título. O Gre-Nal é uma farsa, onde muitos torcedores apaixonados fazem de seus clubes suas identidades. Declaram amor a um time como se fosse algo supremo. Vestem camisas como se fosse a própria pele, ou até mais que ela. E cantam gritos de guerra, loucos para ouvirem o canto contrário; não para ver quem canta mais alto, e sim para ter “motivo” para iniciar o espancamento coletivo.
Não vou dizer que nunca cometi loucuras ou briguei pelo meu time, mas não me orgulho das vezes que prejudiquei alguém ou fui prejudicado por conta disso. Muito pelo contrário, me arrependo. As pacíficas, até conto com certa naturalidade, mas já percebo que se um “rival” visse, poderia dar confusão.
Como sou interiorano ainda não vejo razões em deixar de usar as cores do meu time em qualquer ocasião, mas será que os jovens, há poucos dias assassinados em São Leopoldo, Jéferson Ferreira e Gabriel de Oliveira, também não tinham essa sensação de segurança?
Algumas pessoas perderam a identidade
. Não são mais Cicrano da Silva, ou Fulano da Silveira, e sim Cicrano Gremista e Fulano Colorado. Com isso, ganham inimizades, discórdias e, até mesmo, tiros; se é que se pode dizer que isso tudo é ganhar.
Se for amor, porque não aproveitar o melhor dele? Sendo tão lindo assim, não tem o porquê estragar ofuscando cada vez mais o brilho do futebol.
Acabei me decepcionando com o futebol. Tenho certeza que muitos outros também.
Torcedores apaixonados geralmente acham que todos também deveriam ser... e atiram exatamente naqueles que são igualmente fanáticos. E olha o busilis: mancham o escudo do seu clube e acabam com um semelhante, só porque ele é do time deles.
Elder Corrêa Junior
Publicado dia 11 de julho de 2008 no caderno KZUKA, da ZERO HORA.

UM ANO DE BLOG

Um ano desde que, após o lançamento do precursor livro (Im)Pressões da Vida, nos juntamos na casa do Lucas e decidimos criar um blog para divulgar nossos humildes textos. E não é que deu certo!?
Quase que o nome acaba sendo "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Acho que Bola Esquerda é melhor mesmo.
Passado alguns meses, lançamos os dois volumes do livro BOLA ESQUERDA. Maior sucesso da I Feira do Livro de São Gabriel.
Continuamos escrevendo, até que eu comecei a escrever no jornal Cenário de Notícias. O blog e nosas crônicas ficaram ainda mais conhecidas.
Espero que nossa parceria ainda dure muito tempo, apesar de andar meio parada.
Hoje estou cursando jornalismo, na ditante São Borja. Mas pode chuver canivete que não desisto dos meus sonhos.
Um dia vou ser jornalista, vou lançar o "Centroavantes também Choram" e vou dizer: eu voltaria e faria tudo igual!
Um grande abraço aos meus amigos todos, em especial a este que marcou uma parte importantíssima da minha vida. O Bob!
Elder Corrêa Junior

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Medo de Sonho, Vida e Morte

“O medo não é como a coragem”, já se gabava meu avô, sentado sobre o pelego fechando um desfiado e contando seus causos.De como matou cachorros e caçou capinchos e pescou cada peixe maior que outro, contou umas duzentas histórias. Mas foi da vez do sorro que ele se arrepiou contando:“_Tava curando uma ovelha e não vi o tempo passar, quando me dei conta estava anoitecendo e a cura estava pela metade. Como não podia sair sem terminar, continuei.Quando estava voltando, uns cem metros do rebanho, ouvi um barulho nos arbustos. Era um sorro que vinha em minha direção farejando o sangue. Muito ligeiro que sou quando a cousa aperta, atinei num repente. Enrolei o pala no braço e deixei que mordesse. Ele mordeu com raiva. Com a mesma gana saquei a peixeira e lhe sangrei o pescoço.Pena foi meu pala. Não prestou mais.”Outra de coragem que me contava foi da vez em que ficou de caseiro:“Eu sozinho naquele fim de mundo, onde se ouve o crescer dos pêlos do mouro no galpão e se sente o cheiro e gosto de saudade em cada mate na manhã. Sem nada para fazer além de cuidar o resto de móveis que ficaram na casa da estância vazia. Foi no terceiro dia da casereada que se deu o rebuliço:_Estou troteando no meu mouro pelo corredor da Morte (diz a lenda, que o corredor já sumiu com mais de mil cabeças de gado e dezenas de peões e tropeiros. As terras dos arredores, não por acaso, são desvalorizadas, apesar de tudo o que se planta cresce e todo gado engorda fácil. Relatos dão conta que se trata de espírito, centauro ou capeta que volta e meia assombra aquelas bandas) quando vi de longe um cara vestido de panos e chapéu pretos vindo a galope num picasso de estrela na testa.Mandei uma bala na estrela do cavalo e outra no peito do cavaleiro, quando nele surgiu uma espada de fogo.Te juro que acertei, que na época eu era bom nisso,mas o galope continuava em minha direção.”De repente eu era meu avô. E o que eu queria era morrer; não seguir naquela cena.Como se adivinhasse, quem apeou foi a Morte, do picasso em pêlo. Eu tremia por dentro, mas era impassível por fora.
_Vim te levar comigo, mas tua valentia me assustou e me mataria se fosse viva. Por isso te levo e se quiseres podes voltar – disse a morte com sua voz surpreendentemente serena e macia.Perplexo com tanto horror, não conseguia me mover.Vi quando minh’alma (um apóstrofo. Fazia tempos que não usava um. Até vou repetir).Vi quando minh’alma saiu do meu corpo e foi na carona, pela poeira. Fui reaparecer num lugar onde parecia uma cabine de vigilância do mundo.Eu, que sempre tive medo da morte, que vivia no meu mundinho de campos, cavalos e aventuras curadas a jujos de chimarrão, alienado entre tanto verde, percebi que o mundo, a vida era pior que a morte.Vi rios poluídos com peixes mortos boiando, florestas sendo queimadas e até desmatadas em prol do capitalismo, ciclones destruindo cidades, a impunidade, tal qual a injustiça, correndo solta. Vi os efeitos do aquecimento global, as diferenças sociais e todas as doenças.Antes de responder à Morte, acordei da sesta, lagarteando com a cuia na mão. Naquele momento percebi que meu medo de morrer era tolo. Passei meus anos todos com medo de morrer. Medo de ir para o inferno. Porém não havia percebido que o inferno é o mundo em que vivemos. Que as profecias se realizaram e continuam se realizando ao passar dos séculos.Lamentei não voltar no sonho para dizer à Morte que não queria mais a Terra. Porque eu tenho mais medo da vida na terra do que da morte no inferno.
Elder Nunes Junior

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ela Engana

Ela não falava palavrão. Creio que a última vez que arrotou foi lá pelos seus dois ou três anos. Bebe pouco. Enfim, uma mulher perfeita pra se casar por uns seis meses. É. Porque mais que esse tempo ninguém agüenta.Festa ela faz, mas assim... discreta. Não arrisca passinhos ousados, por isso jamais fez fiasco em baile nenhum.Mulher pra casar - sentenciaria minha mãe se a ouvisse falando suave em sua voz de doce de leite na mesinha do Cassino’s Bar, com suas caras e trijeitos.Uma baita gostosa – foi o que pensei quando ela foi se levantando pra fazer sei “xixizinho”, como ela disse - sem jeito, faces róseas.Não sei por que ela disse que faria um “xixizinho”. Quem, afinal, se interessaria em saber o que ela vai fazer no banheiro. Que fosse cagar, retocar o gloss ou até mesmo trocar o modes. Ainda mais uma lôra daquelas, que só de começar a falar, faz todos calarem para ouvir sua voz de mumu.Ela sempre falava: “vou fazer um xixizinho”. Sempre. Não podia sair sem ir fazer seu “xixizinho”. Ô mulher que mija, essa.Mulher pra ver no que dá - diria meu pai, ao me olhar pensando em acrescentar: “vai meu filho, arrebenta ela pelo meio”.Dizem que o pai sabe das coisas. Por isso fui ver até onde vai.Conversa vai, conversa vem. Beijinhos aqui, beijinhos ali. Carinhos e carícias cada vez mais quentes e a coisa ia se concretizando. Feitooooo. Gol do Brasil.Namoramos como planejara. Com o passar do tempo fui me angustiando em conviver com uma mulher que não fala palavrão, não arrota nem peida. E que mal eu largo o copo de refri e ela já pega pra lavar. Não entende piadas e quando conta alguma é do tipo: “sabe a piada do não e nem eu?”. Nem Jó agüentaria.Lá por meados do quarto mês eu estava pronto pra terminar o namoro na aurora, mas o que aconteceu naquela madrugada lhe rendeu mais um mês de crédito comigo.Ela peidou. Eu peidava também, mas não era aquilo. O peido dela foi maravilhoso. Cheiro da flor da maçanilha. Parecia um balão sendo esvaziado pelo ventil, o som ecoado por suas nádegas de algodão e ferro.Verdade que não aprecio peidos, mas aquele foi simbólico. Devia ter filmado. Maria Clara peidando na frente de alguém era inédito. Mostraria o vídeo pros meus netinhos.Ela ficou envergonhada por uma semana, o que me deu nos nervos. Devia ter terminado, com peido ou sem peido. Mas só terminamos depois de mais algumas semanas e ela ficou tão chateada comigo que nem me olha mais nos olhos e nem vai aos lugares aonde íamos.Quais banheiros ela anda freqüentando será?Um dia alguém vai ter que me explicar porque diabos ela diz que vai fazer um “xixizinho”.Peraí!Vai ver ela não fazia “xixizinho” nenhum, aquela peidorreira...
Elder Nunes Junior

segunda-feira, 31 de março de 2008

Coisas de Cabeça

Aposto que se dissessem que Sérgio fora o Rei do forró e campeão de cuspe em distância, onde morava, ninguém por aqui comentaria tanto. Mesmo admitindo que ele dança tanto quanto cospe( e ele cospe longe). Só que espelharam que o Sérgio era corno. Só corno não: O CORNO, assim era chamado. Com o “O” adjetivado.Provavelmente, foi um inimigo seu quem inventou esta história (se é que é mesmo invenção), mas bem que pode ter sido um amigo. Que os amigos também fazem dessas.Atualmente é moleza. A internet proporciona essas sacanagens. E gente pra fazer maldade (por mais verdade que seja, é sacanagem) não faltam.No início só o pessoal da turma fazia troça. Com o passar dos dias a história tomava formas e não adiantava o Sérgio desmenti-la ou tentar remendar. Em pouco tempo o colégio inteiro já sabia da sua cornice de outrora.Sergio, que sempre gostou de namorar sério, já não podia. Por dois motivos óbvios:Todos o chamariam de corno, mesmo que sua companheira fosse um exemplo de fidelidade.2. As mulheres ficavam com ele para trair.Um horror! Por isso ele só “ficava”. Mas nem isso fazia com que parassem de chamá-lo de corno.CORNO! CORNO! CORNO... Por onde andava ouvia caçoarem. Aquilo incomodava, claro que incomodava.Em casa, sozinho, ouvia o ringir da porta: Cooorrno; o fechar da geladeira: corno; um vizinho chamando outro: e aí seu corno; a buzina do carro: corrrno; o vendedor de laranja: óia o côôôôôôrrrrnoo; o grito da torcida ecoando no Beira Rio lotado: corno, corno, corno...Teve de se tratar num psicólogo, depois num psiquiatra.Porque inventaram isso ou quem o fez, não sei... mas que todos acreditaram, ah acreditaram. E isso atrapalhou muito sua vida aqui em São Gabriel. Assim é o Inter, com essa história de carrossel. Tomara que os jogadores colorados não acreditem. Do contrário é o torcedor quem vai enlouquecer ouvindo em cada ruído: GRÊMIO! GRÊMIO! GRÊMIO...

Elder Nunes Junior

Texto Publicado no Cenário de Notícias em 29/03/2008

terça-feira, 25 de março de 2008

O VALOR DA AMIZADE E DE UM GOL

Ary é mais que um goleiro, é um amigo que não foi o tempo nem a morte que me afastou dele. Foi minha culpa. Nossa amizade era tão verdadeira eu se um dia eu fizer um dicionário, colocarei a foto do nosso time onde estou o abraçando, ao lado. Esse ano já voltei ao campinho onde jogávamos umas três vezes, e lá fiquei relembrando da infância correndo sobre aquela grama rala. Minha lástima maior, a que fez encher meus olhos d’água é exatamente o fato que ocorreu comigo e o Ary naquele inverno de... tempos, muito tempo atrás. Ary era meu companheiro de ir ao laguinho ver as meninas dando comida às tartarugas e principalmente de jogar e conversar sobre futebol. Era o Ary que me ajudava a vender os santinhos que davam direito a quadros escolares. Como eu era tímido, ela saia comigo pra me ajudar a vender os meus também. Eu queria muito aquele quadro. Tanto que minha mãe disse que compraria os que faltassem, mas como faltavam muitos e eu estava ciente de nossas necessidades, disse pra ela que tinha vendido todos. Não conseguiria o tão desejado quadro. O Ary, vendo minha tristeza, pegou meu dinheiro e minha cartela dizendo que levaria lá pra mim. Ele trocou, disse que eu tinha vendido todos e ele não tinha conseguido. Bá, quando o diretor me chamou, credo... que felicidade! Olhei pro Ary, sabia que era coisa dele e o abracei agradecido. Aquilo é que era amigo. Ele sempre me convidava pro seu time, embora eu jogasse pouco. Mas no torneio do bairro o melhor time o convidou pra atacar e ele não conseguiu me colocar no time. Acabei jogando no “Excluídos”, um nome bastante sugestivo. Ary, mais que ninguém sabia como eu jogava. Sabia que eu não enfeitava, não usava calcanhar e quando eu preparava o chute era porque eu ia mesmo chutar. E mesmo assim toma gols meus. E ainda dizia: “que bucha heim”. Nesse torneio, o time deles estava invicto quando foi nos enfrentar; e nós não tínhamos vencido nenhuma, aliás, não tínhamos nem empatado. Como eu era o último reserva, pedi pra ele me deixar fazer um gol. Ele topou de pronto. Cinco minutos pro fim eu entrei. Fui tabelando em direção ao gol e quando estava de cara com o Ary, certo de que faria o gol, fiz que ia chutar, tipo o chute falso do Valdívia e passei por ele, que estava estirado feito um trapo velho no chão. Gol. Golaço. Era nosso melhor jogo. Provavelmente seria nosso único ponto. Estava 3 a 3. Todos ficariam gratos a mim. Seria promovido a titular. Mas no ultimo segundo o Zezinho chutou forte de longe. Gol. Fora do alcance do Ary, que atacava com um par de havaianas dentro de suas luvas de lã. Ganhamos por 4 a 3. Todos brigaram com o Ary. Eles viram que o Ary tinha me deixado fazer aquele gol. Ary foi humilhado como nunca antes em toda sua carreira. E no meu time? Todos só queriam saber do Zezinho. No final do jogo fui lá falar com o Ary, que me recebeu assim: _ Sai fora, meu. Tu tinhas que me driblar? Eu não ia defender. E saiu, com olhos marejados, pra nunca mais falar comigo. Arrependo-me de tê-lo traído daquele jeito. Foi como ter lhe furado os olhos. Uma amizade como aquela vale muito mais que uma simples vitória. De pouco adianta meu arrependimento, depois do que fiz. Por que não pensei antes? Por quê?
Elder Nunes Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias dia 25/03/2008.

terça-feira, 18 de março de 2008

CENTROAVANTES TAMBÉM CHORAM

Falar em quem tem talento é sempre uma honra. Por isso me prontifiquei para entrevista-lo. O Flávio, eu o conheço dês de a infância, quando jogávamos juntos nos campos de linhas imaginárias e goleiras de havaianas em ruelas e pátios vazios do Ipiranga na beira do rio Uruguai.Ele era o melhor centroavante dos campinhos do Ipiranga. Pegava em qualquer time de Pirinópoles do Sul.Ele é com as mulheres como é no futebol. Não dribla zagueiros nem namoradas. Quando está difícil de passar pela zaga, chuta de fora da área mesmo, mas costuma ter certa paciência pra esperar a hora de estufar as redes. Volta e meia faz um gol de placa; geralmente é simples, objetivo: domina, vira, bate... gol e é só correr pro abraço. E é aí que ele faz a diferença. Um artilheiro.Uma máquina de inspiração, palavras certas em momentos oportunos. Uma fábrica de gols, mas, principalmente, de reflexão e sorrisos alheios. Parceiro de tantas baladas, boemia e festas inenarráveis, que o tempo e a distância nos subtraiu.A entrevista era sobre ele ser o goleador do estadual. Fui até o vestiário, num dia de treino, mas com tantos assuntos para por em dia a entrevista propriamente dita não começava. E quando eu estava prestes a dar início ele abre seu armário e o que eu vejo...Uma foto!!!Depois disso não teria como começar a entrevista. Não era qualquer foto! Percebi em seus olhos que ele também queria conversar sobre ela, sobre ele, sobre eles.Um amor antigo. Alice fora sua namorada na adolecência, quando ainda jogava em juniores. Era uma bela morena, sim, mas via-se que engordaria ao passar dos anos. Não pensem que tenho algo contra as gordinhas. Me orgulho de cada uma que já fiz feliz. Passados meia dúzia de anos e ele ainda com foto dela no armário... estranho.Decidi que faria a entrevista mais tarde ou até outro dia e o convidei pra ir a um bar e tomar uns chopes com churrasquinho de gato, enquanto conversávamos sobre o assunto. A entrevista que espere.A julgar pelas mulheres que o procuravam depois dos jogos e gritavam: lindo, tesão, bonito e gostosão!” e sua fama de mulherengo, ele devia ser um baita comedor. Não teria o porquê cultivar esse amor pela Alice. Foi mais ou menos o que eu disse. E perguntei, ainda: quantas mulheres tu já comeu?E mais ou menos assim veio a resposta:"_Nunca contei mulheres! Comedor, eu? Não! Eu faço amor... – continuou, professoral – o sexo delas eu tenho, mas assim... casual. De fome é que eu não morro. Sobre ser mulherengo... aí é que está: elas pensam que sou canalha, o que torna-se uma decepção. Porque mulher comigo não paga, lhe dou atenção, sexo, carinho, amor, mando flores e alugo um filmezinho. E a Alice. Aquela mulher me atormenta. Ela está sempre nos meus jogos, passa o jogo me olhando, mas aos 45 do segundo ela some sem que eu consiga mais vê-la. Tenho sonhado com ela, isso quando não me tira o sono".Como pude julgá-lo tão mal? Como se um centroavante não amasse, não chorasse...Percebi que com as outras ele era feliz, mas é ela que o faz sofrer.
Elder Nunes Corrêa Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias em 18/03/2008

sábado, 15 de março de 2008

AMANDA

Como faço pra escrever um poema sem usar seu nome?
Como falar nas belezas da vida sem você?
Falar nas flores sem sentir seu perfume
Falar em cores sem ver seus olhos
Falar de doces sem desejar sua boca
Falar nas estrelas sem mais enxergar a que lhe dei
Falar no passado sem ter passado contigo
Falar de tristeza sem lembrar seu choro em meu ombro
Falar em mulher... Falar de amor... Sem pensar em você AMANDA

Elder Nunes Corrêa Junior

Esses Egos

Por esses dias até nem sei, mas esses tempos conferi uma discussão ferrenha na internet. “Pessoal de São Gabriel”, o nome da comunidade do Orkut, onde passava as discórdias as quais me refiro.Quando fui olhar mais atentamente os motivos da tal discussão (que a priori era uma enquete sobre qual seria o melhor jornal da cidade) percebi que, não bastasse os moderadores excluírem os comentários de seus colegas de imprensa, posteriormente excluíram, também, a dita enquete com suas postagens, impondo, assim, um ponto final no assunto.Tudo bem, já que o assunto estava se desvirtuando, mas que eles - que eram os principais alvos e os que mais se contradiziam e depois se justificavam - apenas se reservassem em simplesmente não postar mais.Um moderador levou uma “surra”. Tudo o que ele dizia se voltava contra ele e os demais participantes aproveitavam pra chicotear um pouco mais.Não foi por vergonha ou por medo ou porque seu jornal não estava na frente da enquete, foi pelo EGO que retiraram a enquete da comunidade. Ego, e só.O ego do cara ficou ferido. Não tenho nada contra a dita pessoa, até me dou com ele, mas realmente, é muito ego pra pouca prosa.Foi por culpa desse tal de ego que o Inter perdeu os dois últimos gauchões. É por ego que alguns jogadores inventam jogadinhas como o chute falso do Valdívia ou o da foca, do Kerlon, e o que alguns mudam toda hora de cabelo ou buscam o gol mil (e não é o da wolksvagem). Contando fogueirão, pelada de rua, três-dentro-três-fora, super chance, joguinhos de final de semana e no pátio de casa com certeza eu já tenho muito mais de mil gols. Dez, vinte mil. Sei lá.É por esse mesmo ego que o Brasil inteiro está nesse chororô.é por isso também que jogadores como Roger e Rada casam com atrizes, ou vão pra Europa e voltam só no carnaval pra desfilar na Sapucaí.É o ego que não deixa alguns jogadores enriquecerem e virarem craques.Ego. Ego. Ego... O mal ou o bem do mundo?Admito, é, também, pelo ego que eu sou centroavante e uso a camisa 9.

Elder Nunes Corrêa Junior

Texto Publicado em 15/03/2008 no Cenário de Notícias.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A RELATIVIDADE DA FELICIDADE

Se uma pessoa sofre nesse vale de lágrimas, essa pessoa é a Débora. A coitada é gorda. Bota gorda nisso.Tão gorda que ela não passa na roleta do ônibus. Cada vez que embarca é um constrangimento, mas fazer o que, se caminhar muito é impraticável?A Débora mede mais ou menos um e setenta e pesa... sei lá! Nunca peguei ela no colo pra saber. Tampouco conseguiria (lembro que uma vez fui carregar uma garota de uns setenta quilos por uns cem metros e sofri). Chutando assim por baixo ela deve pesar meia vaca.A Débora chega a ser quadrada de tão redonda. É uma baita mulher, acho que a maior que já vi. Pra se ter uma idéia do tamanho imagina duas gordas, dessas gordas clássicas, uma de costas pra outra. Essas duas gordas de lado. Assim é a Débora de frente.As gordas geralmente são mais felizes, mais alegres, mais amigas e mais amantes que as magras. Uma mulher gorda sempre tem mais amigos e amigas verdadeiros. São as gordas que vão pra praia e se divertem. Enquanto as magrinhas e as falsas magras andam cuidando pra não aparecer as celulites e as estrias e as gorduras localizadas e tomam aguinhas e comem sanduichezinhos naturais(quando não estão de regime), as gordinhas caminham com o balancê das gorduras e vão pro mar e riem bastante e quando voltam pra descansar sentam nos quiosques e pedem aquela cervejinha bem gelada e uma, duas, três porções de batatinhas ou bolinho de peixe bem engordurados e com bastante maionese e se deliciam olhando pro mar.Mas quem não conhece a Débora jamais irá dizer que ela é feliz. Apesar de seu bom humor. As pessoas acham que uma gorda como a Débora não pode provar da felicidade. Não com as limitações que o peso lhe impõe e com o constrangimento de cada dia no ônibus, e em festas, e nos vestidinho nas lojas ou nas cadeiras que insistem em quebrar ou entalar. Estão enganados.Eu que conheço a Débora dês de que ela alcançou o terceiro dígito na balança, com seus 13 anos, afirmo: se tem uma pessoa que é feliz, é a Débora. E digo mais: ela é feliz com coisas simples. É de causar inveja.Ela é cozinheira duma lancheria. O Xis du Vido. Vido é o dono da lancheria, mas eu duvido que ele fique tão feliz quanto ela ao ver no olhar dos clientes a satisfação de saborear aqueles xis que ela faz com aquele ovo, aquela maionese, aqueles bifes e aquelas batatinhas...Pra Débora a melhor coisa do mundo é comer. Ela viveria sem amores, sem dinheiro, sem baladas, sem seu cachorro, sem amigos, sem nada alem de comida à vontade. E mesmo assim seria feliz. O prazer da vida dela é comer.A Débora é a prova de que não se precisa de tanto pra ser feliz. Não precisa seu time ter títulos nacionais, nem disputar uma libertadores, não precisa sequer ter títulos estaduais. Não precisa estar na primeira divisão, basta estar bem na hora. A felicidade de cada torcedor é relativa.Um dos torcedores mais felizes do Brasil em 2008 vai ser o corinthiano, que verá seu time retornar à elite. Ou foram os colorados que viram o Inter vencer a Inter. Mas feliz mesmo são os torcedores de times pequenos que jogam a Copa do Brasil e lotam seus estádios pra ver seu time, geralmente, perder pros grandes clubes de seus grandes ídolos. Mesmo perdendo eles ficam felizes, pois não decepcionam e não são eles quem tem a obrigação de ganhar. Mas quando vencem... É prato cheio
Elder Nunes Corrêa Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias em 8/março/2008

As duas Palmeiras

Na frente da sorveteria que eu trabalho há duas palmeiras. Uma rente ao muro, num canto. Outra mais ao centro do terreno, onde as pessoas passam por ambos os lados. Quando fomos plantar as palmeiras, minha irmã advertiu que não podia plantar palmeiras em pares. Superstição ou estudos à parte plantamos um par delas.Como sempre, o encarregado de regá-las era eu. Raramente o fazia. Se quisessem água esperassem por chuva, ora. Numa selva elas não vão ter água trazida num balde. Elas também têm que aprenderem a se virarem sozinhas. E nem deve ser tão difícil, nem flor elas fazem.Depois que eu comprei meu relógio, passei a marcar o horário de tudo. Cinco pra hora o ônibus passa em direção ao centro, hora e cinco do centro à BR. Três e meia passa um vendedor de quindim, eu sempre quis comer quindim, um dia chamei o vendedor, comprei. Foi o primeiro e ultimo quindim que provei. Trinta minutos depois passa uma senhora que vende suco na frente do mercado. Vinte pras seis começa a cruzar as estudantes de volta pra casa. Mas é por causa de uma loirinha que eu fico todos os dias na frente da sorveteria esse horário. É uma loirinha que não sei o nome nem onde mora nem onde estuda ou trabalha, mas ela passa num ônibus e me abana. Eu abano de volta.Ás seis horas aumenta o movimento de mulheres enfiadas em suas calças “knor” fazendo caminhada. E tem uma moreninha que não sei como ela consegue respirar naqueles shortinhos dela. Segundas, quartas e sextas-feiras são os dias da caminhada dela. Qualquer dia desses vou me encher de coragem e vou interromper sua caminhada, lhe tirar os fones de ouvido de seus ouvidos e... e ai na hora eu invento.Sete e meia, da tarde, é claro. É o horário que eu queria chegar. Todos os dias (fora domingo) às sete e meia, Elias saia da sorveteria e ao passar pela palmeira do centro passava-lhe a mão direita. Acho até que lhe falava alguma coisa. Sempre quis saber o que ele falava. Essa palmeira sempre foi mais desenvolvida que a do canto, esquecida, excluída, solitária. Acho que a palmeira do centro crescia era com o carinho despendido por Elias. Mas sempre fiquei na dúvida que de repente a outra não crescia por estarem dispostas em par, como alertava minha irmã.Algo me dizia que a primeira opção era a mais coerente. Alias não qualquer coisa. O que me dava sinal disso era a própria palmeira.Elias adoeceu e não pode mais ir trabalhar. Com a saúde cada vez mais debilitada ele teve de ir a Porto Alegre se submeter a alguns exames e provavelmente a alguma cirurgia.Sem a mão e as palavras de Elias, a palmeira parou de crescer, de criar novas folhas e foi murchando e as folhas que tinha foram secando.O que mostra que além do carinho de Elias, ela precisava da repetição deles para crescer. Precisava de sua mão diária e pontualmente às sete e meia. Assim é um time de futebol. Idêntico. Mais que planejamento, um clube necessita de continuidade, de repetição. Dificilmente um time que vive trocando de técnico e de escalação consegue se manter no topo por muito tempo, isso quando chega ao topo.


Elder Nunes Corrêa Junior

Texto Publicado no Cenário de Notícias em 4/março/2008

domingo, 2 de março de 2008

JOGADOR PROFISSIONAL – Parte 2

Recapitulando o conto anterior: Um zagueiro perna-de-pau, porém muito forte e furioso descobriu que eu falava mal dele. Pior: seus colegas inventavam muito mais. Ele estava pronto pra me encurralar e me trucidar, mas eu consegui entrevista-lo sem sobressaltos.

No final da entrevista ele perguntou:
_Já está em “off”?
E eu voltando a tremer respondi que sim.
Ele começou: “Cara, tu é um jornaleirinho de merda. Eu já te vi jogando, tu não joga nada. Nunca jogou. Lembro de ti num peneirão. Eu passei... tu não. Eu já joguei no Grêmio, no Juventude na Ulbra, agora estou aqui, mas minha carreira vai decolar. Teu sonho era ser jogador de futebol, que nem eu, neh? Eu sei que era teu sonho.Mas eu é que sou profissional. Pro-fis-si-o-nal. Entendeu?”
Escutei tudo aquilo quieto e aliviado, pois apesar de tudo isso, pelo menos, ele não me bateria.
Certamente ele passou noites pensando naquele discursinho. E até que tem certa razão. Eu queria mesmo ser jogador de futebol. Não consegui.
Nem todos conseguem. Vários desses buscam atividades alternativas ligadas ao futebol tipo: árbitros, bandeirinhas, roupeiros, maqueiros, gandulas, vendedores de churrasquinho e até cronistas esportivos.
Mas eu penso no futuro. O que será do Araújo no futuro, daqui a uns vinte anos?
Um ex-jogador, só. Burro como ele é, que sequer diferencia um gravador dum celular, não vai ter profissão, nem toda essa força e seus joelhos estarão detonados.
Ai seremos quarentões, ele um fracassado ex-jogador, eu um fracassado futuro-jogador, porém ainda serei jornalista. Meus joelhos estarão em perfeito funcionamento e com garantia de mais dez mil quilômetros e meu jornal fará um jogo beneficente onde vai jogar Alexandre Pato, Gabriel Pensador, Rogério Flausino, o Presidente da República, o filho do Chico Buarque, Túlio Maravilha Junior, Ronald e mais uns amigos meus como o Rudiere, Juliano, Diogo, Lucas, Nelson e o Araújo. Sim, porque eu vou convidar o Araújo.
Eu com a 9 ao lado do Pato e do Ronald vou entortar tanto o Araújo que ele vai pedir pra sair. E nesse momento ele vai lembrar tudo que me fez ouvir a duas décadas. E quando ele se lembrar disso e me ver fazendo gols e depois contando sobre o jogo e perceber que ele não tem profissão, vai se arrepender de ter matado aula pra ficar jogando futebol no pátio do colégio invés de ler um livro.
Texto Publicado no Cenário de Notícias em 1°/03/2008.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

JOGADOR PROFISSIONAL

Essa coisa de redação de jornal, de comentários extra campo ou em “off” sobre atuações de certos jogadores é complicado. Às vezes o que a gente fala é mal interpretado e até distorcido. Uma história, apesar de diferentes interpretações é sempre a mesma história. Só que quem conta é um, quem espalha são muitos.Pois eu comentava sobre o futebol de um jovem zagueiro que o técnico (só o técnico, ninguém mais, nem eu, nem a torcida, nem seus colegas) achava que ele estouraria de verdade pro futebol. Um perna-de-pau esse zagueiro.Meus comentários chegaram ao técnico, a ele, à torcida, à imprensa. Chegou a todos sem eu escrever uma única linha sobre ele. Claro que eu falava da ruindade desse zagueiro pra muita gente, mas pô...em “off”. Afinal ninguém me entrevista.Ele queria minha cabeça. Bufava pelo vestiário enquanto uns colegas colocavam lenha: ”Bá Araújo, tu nem sabe a última que ele falou de ti...”. E inventavam alguma coisa. Sim. Inventavam. Pois por motivo lógico eu parei de falar qualquer coisa que fosse sobre ele. Ele é ruim mesmo, mas o braço dele é da grossura da minha coxa, sua mão espalmada é uma raquete, fechada uma marreta e mede quase dois metros. Mais: é brabo, muito brabo (ou seria bravo? Eu falo brabo). E agressivo, exatamente por isso era ruim. O zagueiro tem de ser calmo, sereno, pensante, atalhador. Os atacantes é que devem ser agressivos.Fiquei quase um mês sem cobrir seu time, nem pisava nos arredores do estádio.Me diziam que a raiva dele era tanta que ele me mataria a socos e chutes perguntando aos berros: Quem é ruim? Quem é perna-de-pau? Quem é doente? Quem não tem futuro agora? Quem? Quem?Alguma hora eu teria de me topar com aquele “incrível Hulk dos pampas”. Fui lá esclarecer que foi tudo um engano, um mal entendido e que ele até joga mais ou menos. Só que não foi bem assim que aconteceu.Cheguei no estádio já cuidando todas as saídas possíveis. Provavelmente eu teria de correr. Correr muito. Até que aquele baita índio cerrou os dentes e se veio pro meu lado. E vinha. E vinha. E parecia um trem, um urso, um trator e com a raiva dum Pit Bull. Eu só com minha cardenetinha, minha caneta na orelha e meu gravadorzinho na mão ia andando pra trás e rezando e olhando pros lados, pra ele, pros lados, pra ele. Tudo estava longe, ele cada vez mais próximo. Não adiantaria eu correr. Ele me pagaria ainda com mais raiva e me trucidaria ali no campo mesmo.Me entesei, me enchi de coragem , valentia e num lampejo de astúcia e num movimento de único puxei meu gravador como se fosse um celular e falei bem alto: “Alô Cláudia e ouvintes da São Gabriel, estamos aqui AO VIVO (agora mais alto ainda) com o grande jogador Araújo...”Segui a entrevista lhe fazendo perguntas como se aquilo fosse um celular ao algo ligado direto no estúdio e aos poucos a fera foi se amansando e acho que por instantes ele até esqueceu que estava brabo comigo e que me mataria.Por isso que eu repito: tem horas que só a criatividade pode te salvar.

O que vai acontecer no final da entrevista? Será que Araújo vai descobrir que estava sendo enganado? Saiba terça-feira o desenrolar dessa alucinante, empolgante e inusitada história.

Elder Nunes Junior
Texto publicado dia 28/02/2008 no Cenário de Notícias

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

NUM TIME GRANDE

Não sou, definitivamente, um contista de tristezas, apesar dum forte ar nostálgico, mas desta vez não venho contar alegrias. O que conto agora é para que pelo menos um de meus leitores siga um exemplo.
Sinceramente, eu gostaria que este leitor fosse você. Você mesmo, que está lendo agora e que acaba de olhar pra si próprio ou para algum lado.
Morreu semana passada um grande atleta dum grande time que poucos podem jogar e poucos conseguem reconhecer. Ele jogava no time das pessoas boas, generosas e honestas. Esta pessoa a qual me refiro é o pai de um amigo meu, que também joga neste time.
Nada pode ser maior que a dor da perda de um pai, ou filho, ou irmão... Neste momento deve estar passando um longa-metragem na memória deste meu amigo. Um filme cheio de alegrias vividas com seu pai que tanto lhe ensinou e deu orgulho. Que o levantou em tantas quedas e que quase chorou ao ouvi-lo falar pela primeira vez “papai”. Um filme lindo. Mas e quando ele lembrar as brigas sem motivos e sem pedidos de desculpa ou perdão? Ou pior: quando ele lembrar que não sabe qual foi a última vez que o abraçou e disse: “eu te amo, meu pai”?
Isso de não dizer o quanto amamos as pessoas é comum. Eu mesmo quase não digo. Isso que eu amo muita gente. Amo minha mãe, minha irmã, meu pai, meus avós, meus parentes, todos. Amo meus amigos e amigas, amo meu Internacional e, admito amar até o Grêmio, mas isso eu explico noutra ocasião. Amo muitas mulheres, divididas em amores possíveis, impossíveis, platônicos e vividos. E até já chorei por amor e desamor.
Sei que palavras não significam mais que atitudes, mas provavelmente a pessoa amada precise ouvir que é amada. Por isso vou tentar dizer pra quem eu amo que eu amo.
Você já disse que ama seu filho, seu pai, sua mãe, e sua mulher hoje? Já olhou nos olhos de alguém e disse: “eu te amo”?
Diga. Pois amanhã pode ser tarde. Mas se disser, diga com sinceridade.
O pai desse meu amigo saiu do nosso convívio pra brilhar no time dos anjos bons generosos e honestos. Uma grande contratação de Deus, um grande desfalque, lástima e pesar para nós, humanos...

Elder Nunes Junior
Texto publicado no Jornal Cenário de Notícias em 26/02/2008.

A LIBANESA E O DIOGO RINCÓN

Sempre, depois dos jogos, todo nosso time escolhe um barzinho perto do campo pra repor as energias com umas cervejinhas gelada e picadinho. É ali começa oficialmente a hora de discutir os lances da partida.
Daquela vez não era pra termos perdido. Mas perdemos várias oportunidades de matar o jogo. Eu mesmo errei duas vezes, uma chutei no goleiro e outra pra fora, das quatro chances que tive pra estufar as redes.
Nosso aceitou os três primeiros chutes. Rapidinho já tava 3 a 0 pra eles. Nos tínhamos o domínio da bola, eles do jogo.
No final do primeiro tempo descontei, 3 a 1. Eles eram debochados. O Tí foi o que se irritou com as brincadeiras deles. Deve ter sido por isso q no primeiro minuto marcou um golaço: driblou três, passou pelo goleiro. 3 a 2. Seguiu assim; 4 a 2. 5 a 2. Cacetada do Juliano, 5 a 3. Bate pronto do Rudiere, 5 a 4. Eles revezavam, nós não tínhamos reservas. 6 a 4. 7 a 4. Tí, mais um golaço, 7 a 5. No finalzinho ainda fiz mais um, num bate-rebate em dividida com o goleiro, 7 a 6. Tarde demais. Perdemos.
Ainda vamos no cruzar nesse campeonato, com outro goleiro, aí eu quero ver...
E foi justamente em frente ao nosso energético, pós-jogo que surgiu o assunto culminante. Arrependimentos. O Tí, nosso craque, sempre discursante começou:
_ Não me venham com arrependimentos. A vida não é um rascunho – dedo em riste- está enganado quem pensa que os dias são todos iguais. Não são. Cada dia é uma história, por mais monótono que possa parecer é uma história. E a tua história- nisso ela apontou pra todos nós – é feita pela soma, pela seqüência dos dias. Um erro, uma falha pode anular o valor de mil acertos e vitórias e conquistas – finalizou com uma frase do Paulo Santtana. Nada passa, mas tudo muda. Nada passa, a menos que não tenha passado.
Um sábio esse Tí, por isso que fizemos um silêncio solene, que durou mais dois segundos depois que ele parou.
Arrependimentos dum, doutro até que chegou minha vez.
Meu arrependimento é dos brabos. Dês dos tempos do primário que uma libanesa é louca por mim, mas como eu sou 4 anos mais velho que ela não me interessava por ela. Sempre preferi mais velhas que eu, ou pelo menos da minha idade. Fora que ela era, digamos... jaburu. É essa era a classificação dela. Uma jaburu novinha, e com tendências a piorar.
Quando ela entrou no ensino médio já era bem mais bonita. E eu já não estudava. Aos poucos fui me desligando do colégio, das colegas. Mas ela ainda tinha aquele amor platônico por mim.
Ela já estava bem apetecível, mas eu estava namorando. E não trairia minha namorada, isso é que não. Mesmo assim dava corda pra Aline. Sabe... não se pode perder todo contato com elas, pois um dia o namoro acaba. E realmente acabou.
Eu ia ficar com ela. Mas ai uma de suas melhores amigas praticamente me assediou, não resisti. E ela ficou tão chateada comigo que resolveu me esquecer. E com isso cresceu em mim o mesmo sentimento que ela tinha por mim.
Eu diria que errei, mas que a culpa foi dela mesma que decerto falava tão bem de mim que acabou despertando desejo na sua amiga, e que eu seria só dela e que a amaria. Eu até ensaiava e nesse vô, não vô, vô, não vô, acabei não indo e ela arrumou um namorado.
Agora um babaca desfila pra cima e pra baixo com ela, e eu tendo que vê-los todos os dias. Percebi que ela é a mulher pra casar. Cada vez mais exuberante, cada vez mais linda, com a elegância de uma rainha da Inglaterra e simpatia de ganhar concursos. Uma mulher digna de crime passional. Eu me casaria com ela. Lhe mostraria o que é amor de verdade, lhe serviria um mate todas manhãs e morreria velhinho ao seu lado falando da vida dos netos e dos vizinhos.
Mas a culpa foi minha, admito. Quando tive a oportunidade deixei passar. Perdi.
Tenho certeza que daqui a um tempo o Abel Braga vai jogar uma pelada e no fim do joguinho vai confessar aos amigos que se arrepende de ter vetado a contratação do Diogo Rincón em prol do Andrezinho. Tomara que esse Andrezinho seja mesmo sensacional, como disse Abelão. O difícil vai ser os colorados engolirem o Diogo Rincón brilhando no Corinthians do Mano Menezes.

Elder Nunes Junior

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Parei de Beber

Dia 28 de novembro de 2007 foi o dia que decidi parar de beber, digo, de beber cerveja ou qualquer tipo de bebida com álcool. Não que a bebida houvesse tomado conta de mim. Eu bebia só nos finais de semana, finais de jogos, festas, churrascos e quando saia pra noite. Só que desde o início do mês que eu jogava, ia em festas, em churrascos e saia pra noite diariamente. Portanto bebia. Raras vezes cometi exageros, uma ou duas vezes, no máximo. Sabe, eu achava bonito beber. Não é. Confesso que acho muito mais bonito fumar e jogar sinuca (os dois juntos), porém nunca fumei e não jogo sinuca. Até que um dia, nesse dia 28, olhei ao meu redor e me vi numa cena lamentável: Eu só de cueca na cama, o chão cheio de papéis- rabiscos de poemas e contos inacabados, sentimentos vagos ou profundos- lixo espalhado, latinhos e garrafinhas de cerveja na beira da cama e pelos cantos, roupas no chão ou em cabides e uma TV ligada que passou a noite assistindo uma noite de prazer que já não lembro direito, um relógio que marca 13 horas e eu recém acordando com gosto de cerveja na boca. Naquele dia eu mudaria. Limpei meu quarto, meu banheiro, dei um trato na casa e tomei a decisão de não beber mais. Mas não largaria a noite, o futebol, as mulheres, os amigos, isso é que não! No início a estranheza dos meus amigos sobre essa mudança, mas depois acostumaram. Eu não precisava daquilo. Meus amigos também não. Bebiam porque bebiam. Um bebia, os outros bebiam junto. Só. Só fui beber novamente no dia 17 de dezembro. Um gole só. Sem querer, até. Foi na comemoração de um ano da conquista do titulo de campeão mundial pelo Internacional. Me alcançaram a taça e eu bebi. Tudo bem. O momento merecia. O Inter merecia. Eu merecia. Depois disso bebi mais algumas vezes. No réveillon e no carnaval. É. Está bem... eu não consegui parar de beber. Não que o álcool seja maior do que eu, mas é difícil. Não um martírio, nunca, mas é complicado. O fato é que eu já nem bebo quase. E que diabos isso tem a ver com esportes, com futebol? É que eu bebia muito mais quando eu não tinha 18 anos, quando era proibido. Agora que posso comprar e beber e ficar bêbado não compro, não bebo e não fico bêbado. E se tivessem me proibido de beber eu seguiria bebendo. Não é com imposições e muito menos com brigas que eu mudaria. Vagner Mancini tinha muita autoridade com os jogadores do Grêmio. Agora o trocaram por Celso Roth, um durão que não vai fazer o trabalho conciliador e invicto que fazia Mancini, ele vai gritar vai brigar e com isso vai perder. Falar alto, impor e brigar não quer dizer autoridade. Conscientizar e conversar sim.


Elder Nunes Junior
Texto publicado no Cenário de Notícias dia 20/02/2008.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Dono da 10

A sorte do Marcio é que ele é bonito. Sorte mesmo. Pois se não fosse isso não sei o que seria dele. Talvez já tivesse se matado ou se trancado em meio a livros e traças, como muitos “peganingue” fazem. Ele é meu amigo, mas só fala o que não deve. Esse sabe ser inconveniente. Principalmente com elas.
Mesmo assim tem, sempre, várias garotas afim de “ficar” com aquele besta. Por ele ser inegavelmente bonito algumas nem levam em consideração seus atos.
Agora ele vive pedindo conselho. Ele percebeu que seu filme estava queimado. E eu só o aconselho o seguinte: quando for falar ou se mexer muito, não fala não se mexe, não faz nada, pombas.
Pouco adianta. Uma e duas e ele volta como era antes e põe tudo a perder. E seu filme queimando... queimando... queimando...
Ele insiste em querer aparecer. E só dá furo. É que uma vez ele leu que pra chegar ao fundo do coração de uma mulher deve-se fazê-la rir. Sim, acredito. E é exatamente por isso que ele tenta; pena que não consegue.
E eu sigo insistindo: discreto Marcio. Discrição é a palavra. Dis-cri-ção.
Parece que não aprende que entra num ouvido e sai no outro. Agora diz que vai namorar uma morena-jambo com olhos de japonesa. Diz que é deslumbrante. Só quero ver quanto tempo dura se ele não mudar. Um mês no máximo.
Se ele conseguir namorar essa morena-jambo com olhos de japonesa, grande mérito é do degas aqui, que tanto o aconselha.
Aconselhar. É o mínimo que posso fazer. Não posso deixar ele perder uma morena-jambo com olhos de japonesa, ainda mais ela sendo deslumbrante. Nenhum amigo de verdade permitiria.
Outro que deve ter um amigo que o aconselha é o Roger, da Deborah Secco e do Grêmio.
Dum jogador como Roger, numa estréia, é esperado um brilho de meio-time, jogadas sensacionais e de preferência com gol.
Hoje o Roger precisa muito mais do Grêmio do que o Gremio dele. E ele, se não quiser ser um precoce ex-jogador, não pode deixar o estrelismo lhe tomar conta.
Um atleta que já afundou com tantos clubes e tantas lôras, que já fez tanto esforço pra não se afortunar têm mesmo é que estrear como estreou pelo tricolor pelo Gaúchão, discreto. Modesto, porém sem comprometer. Sem riscos.
Se continuar assim vai fazer com que os gremistas voltem a entrar em filas pela camisa 10.
Quem é craque não precisa usar mais que seu talento divino pra conquistar ídolos por onde passa. É só jogar seu futebolzinho e não falar bobagem.

Elder Corrêa Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias em 13/02/2008.