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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

JOGADOR PROFISSIONAL

Essa coisa de redação de jornal, de comentários extra campo ou em “off” sobre atuações de certos jogadores é complicado. Às vezes o que a gente fala é mal interpretado e até distorcido. Uma história, apesar de diferentes interpretações é sempre a mesma história. Só que quem conta é um, quem espalha são muitos.Pois eu comentava sobre o futebol de um jovem zagueiro que o técnico (só o técnico, ninguém mais, nem eu, nem a torcida, nem seus colegas) achava que ele estouraria de verdade pro futebol. Um perna-de-pau esse zagueiro.Meus comentários chegaram ao técnico, a ele, à torcida, à imprensa. Chegou a todos sem eu escrever uma única linha sobre ele. Claro que eu falava da ruindade desse zagueiro pra muita gente, mas pô...em “off”. Afinal ninguém me entrevista.Ele queria minha cabeça. Bufava pelo vestiário enquanto uns colegas colocavam lenha: ”Bá Araújo, tu nem sabe a última que ele falou de ti...”. E inventavam alguma coisa. Sim. Inventavam. Pois por motivo lógico eu parei de falar qualquer coisa que fosse sobre ele. Ele é ruim mesmo, mas o braço dele é da grossura da minha coxa, sua mão espalmada é uma raquete, fechada uma marreta e mede quase dois metros. Mais: é brabo, muito brabo (ou seria bravo? Eu falo brabo). E agressivo, exatamente por isso era ruim. O zagueiro tem de ser calmo, sereno, pensante, atalhador. Os atacantes é que devem ser agressivos.Fiquei quase um mês sem cobrir seu time, nem pisava nos arredores do estádio.Me diziam que a raiva dele era tanta que ele me mataria a socos e chutes perguntando aos berros: Quem é ruim? Quem é perna-de-pau? Quem é doente? Quem não tem futuro agora? Quem? Quem?Alguma hora eu teria de me topar com aquele “incrível Hulk dos pampas”. Fui lá esclarecer que foi tudo um engano, um mal entendido e que ele até joga mais ou menos. Só que não foi bem assim que aconteceu.Cheguei no estádio já cuidando todas as saídas possíveis. Provavelmente eu teria de correr. Correr muito. Até que aquele baita índio cerrou os dentes e se veio pro meu lado. E vinha. E vinha. E parecia um trem, um urso, um trator e com a raiva dum Pit Bull. Eu só com minha cardenetinha, minha caneta na orelha e meu gravadorzinho na mão ia andando pra trás e rezando e olhando pros lados, pra ele, pros lados, pra ele. Tudo estava longe, ele cada vez mais próximo. Não adiantaria eu correr. Ele me pagaria ainda com mais raiva e me trucidaria ali no campo mesmo.Me entesei, me enchi de coragem , valentia e num lampejo de astúcia e num movimento de único puxei meu gravador como se fosse um celular e falei bem alto: “Alô Cláudia e ouvintes da São Gabriel, estamos aqui AO VIVO (agora mais alto ainda) com o grande jogador Araújo...”Segui a entrevista lhe fazendo perguntas como se aquilo fosse um celular ao algo ligado direto no estúdio e aos poucos a fera foi se amansando e acho que por instantes ele até esqueceu que estava brabo comigo e que me mataria.Por isso que eu repito: tem horas que só a criatividade pode te salvar.

O que vai acontecer no final da entrevista? Será que Araújo vai descobrir que estava sendo enganado? Saiba terça-feira o desenrolar dessa alucinante, empolgante e inusitada história.

Elder Nunes Junior
Texto publicado dia 28/02/2008 no Cenário de Notícias

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

NUM TIME GRANDE

Não sou, definitivamente, um contista de tristezas, apesar dum forte ar nostálgico, mas desta vez não venho contar alegrias. O que conto agora é para que pelo menos um de meus leitores siga um exemplo.
Sinceramente, eu gostaria que este leitor fosse você. Você mesmo, que está lendo agora e que acaba de olhar pra si próprio ou para algum lado.
Morreu semana passada um grande atleta dum grande time que poucos podem jogar e poucos conseguem reconhecer. Ele jogava no time das pessoas boas, generosas e honestas. Esta pessoa a qual me refiro é o pai de um amigo meu, que também joga neste time.
Nada pode ser maior que a dor da perda de um pai, ou filho, ou irmão... Neste momento deve estar passando um longa-metragem na memória deste meu amigo. Um filme cheio de alegrias vividas com seu pai que tanto lhe ensinou e deu orgulho. Que o levantou em tantas quedas e que quase chorou ao ouvi-lo falar pela primeira vez “papai”. Um filme lindo. Mas e quando ele lembrar as brigas sem motivos e sem pedidos de desculpa ou perdão? Ou pior: quando ele lembrar que não sabe qual foi a última vez que o abraçou e disse: “eu te amo, meu pai”?
Isso de não dizer o quanto amamos as pessoas é comum. Eu mesmo quase não digo. Isso que eu amo muita gente. Amo minha mãe, minha irmã, meu pai, meus avós, meus parentes, todos. Amo meus amigos e amigas, amo meu Internacional e, admito amar até o Grêmio, mas isso eu explico noutra ocasião. Amo muitas mulheres, divididas em amores possíveis, impossíveis, platônicos e vividos. E até já chorei por amor e desamor.
Sei que palavras não significam mais que atitudes, mas provavelmente a pessoa amada precise ouvir que é amada. Por isso vou tentar dizer pra quem eu amo que eu amo.
Você já disse que ama seu filho, seu pai, sua mãe, e sua mulher hoje? Já olhou nos olhos de alguém e disse: “eu te amo”?
Diga. Pois amanhã pode ser tarde. Mas se disser, diga com sinceridade.
O pai desse meu amigo saiu do nosso convívio pra brilhar no time dos anjos bons generosos e honestos. Uma grande contratação de Deus, um grande desfalque, lástima e pesar para nós, humanos...

Elder Nunes Junior
Texto publicado no Jornal Cenário de Notícias em 26/02/2008.

A LIBANESA E O DIOGO RINCÓN

Sempre, depois dos jogos, todo nosso time escolhe um barzinho perto do campo pra repor as energias com umas cervejinhas gelada e picadinho. É ali começa oficialmente a hora de discutir os lances da partida.
Daquela vez não era pra termos perdido. Mas perdemos várias oportunidades de matar o jogo. Eu mesmo errei duas vezes, uma chutei no goleiro e outra pra fora, das quatro chances que tive pra estufar as redes.
Nosso aceitou os três primeiros chutes. Rapidinho já tava 3 a 0 pra eles. Nos tínhamos o domínio da bola, eles do jogo.
No final do primeiro tempo descontei, 3 a 1. Eles eram debochados. O Tí foi o que se irritou com as brincadeiras deles. Deve ter sido por isso q no primeiro minuto marcou um golaço: driblou três, passou pelo goleiro. 3 a 2. Seguiu assim; 4 a 2. 5 a 2. Cacetada do Juliano, 5 a 3. Bate pronto do Rudiere, 5 a 4. Eles revezavam, nós não tínhamos reservas. 6 a 4. 7 a 4. Tí, mais um golaço, 7 a 5. No finalzinho ainda fiz mais um, num bate-rebate em dividida com o goleiro, 7 a 6. Tarde demais. Perdemos.
Ainda vamos no cruzar nesse campeonato, com outro goleiro, aí eu quero ver...
E foi justamente em frente ao nosso energético, pós-jogo que surgiu o assunto culminante. Arrependimentos. O Tí, nosso craque, sempre discursante começou:
_ Não me venham com arrependimentos. A vida não é um rascunho – dedo em riste- está enganado quem pensa que os dias são todos iguais. Não são. Cada dia é uma história, por mais monótono que possa parecer é uma história. E a tua história- nisso ela apontou pra todos nós – é feita pela soma, pela seqüência dos dias. Um erro, uma falha pode anular o valor de mil acertos e vitórias e conquistas – finalizou com uma frase do Paulo Santtana. Nada passa, mas tudo muda. Nada passa, a menos que não tenha passado.
Um sábio esse Tí, por isso que fizemos um silêncio solene, que durou mais dois segundos depois que ele parou.
Arrependimentos dum, doutro até que chegou minha vez.
Meu arrependimento é dos brabos. Dês dos tempos do primário que uma libanesa é louca por mim, mas como eu sou 4 anos mais velho que ela não me interessava por ela. Sempre preferi mais velhas que eu, ou pelo menos da minha idade. Fora que ela era, digamos... jaburu. É essa era a classificação dela. Uma jaburu novinha, e com tendências a piorar.
Quando ela entrou no ensino médio já era bem mais bonita. E eu já não estudava. Aos poucos fui me desligando do colégio, das colegas. Mas ela ainda tinha aquele amor platônico por mim.
Ela já estava bem apetecível, mas eu estava namorando. E não trairia minha namorada, isso é que não. Mesmo assim dava corda pra Aline. Sabe... não se pode perder todo contato com elas, pois um dia o namoro acaba. E realmente acabou.
Eu ia ficar com ela. Mas ai uma de suas melhores amigas praticamente me assediou, não resisti. E ela ficou tão chateada comigo que resolveu me esquecer. E com isso cresceu em mim o mesmo sentimento que ela tinha por mim.
Eu diria que errei, mas que a culpa foi dela mesma que decerto falava tão bem de mim que acabou despertando desejo na sua amiga, e que eu seria só dela e que a amaria. Eu até ensaiava e nesse vô, não vô, vô, não vô, acabei não indo e ela arrumou um namorado.
Agora um babaca desfila pra cima e pra baixo com ela, e eu tendo que vê-los todos os dias. Percebi que ela é a mulher pra casar. Cada vez mais exuberante, cada vez mais linda, com a elegância de uma rainha da Inglaterra e simpatia de ganhar concursos. Uma mulher digna de crime passional. Eu me casaria com ela. Lhe mostraria o que é amor de verdade, lhe serviria um mate todas manhãs e morreria velhinho ao seu lado falando da vida dos netos e dos vizinhos.
Mas a culpa foi minha, admito. Quando tive a oportunidade deixei passar. Perdi.
Tenho certeza que daqui a um tempo o Abel Braga vai jogar uma pelada e no fim do joguinho vai confessar aos amigos que se arrepende de ter vetado a contratação do Diogo Rincón em prol do Andrezinho. Tomara que esse Andrezinho seja mesmo sensacional, como disse Abelão. O difícil vai ser os colorados engolirem o Diogo Rincón brilhando no Corinthians do Mano Menezes.

Elder Nunes Junior

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Parei de Beber

Dia 28 de novembro de 2007 foi o dia que decidi parar de beber, digo, de beber cerveja ou qualquer tipo de bebida com álcool. Não que a bebida houvesse tomado conta de mim. Eu bebia só nos finais de semana, finais de jogos, festas, churrascos e quando saia pra noite. Só que desde o início do mês que eu jogava, ia em festas, em churrascos e saia pra noite diariamente. Portanto bebia. Raras vezes cometi exageros, uma ou duas vezes, no máximo. Sabe, eu achava bonito beber. Não é. Confesso que acho muito mais bonito fumar e jogar sinuca (os dois juntos), porém nunca fumei e não jogo sinuca. Até que um dia, nesse dia 28, olhei ao meu redor e me vi numa cena lamentável: Eu só de cueca na cama, o chão cheio de papéis- rabiscos de poemas e contos inacabados, sentimentos vagos ou profundos- lixo espalhado, latinhos e garrafinhas de cerveja na beira da cama e pelos cantos, roupas no chão ou em cabides e uma TV ligada que passou a noite assistindo uma noite de prazer que já não lembro direito, um relógio que marca 13 horas e eu recém acordando com gosto de cerveja na boca. Naquele dia eu mudaria. Limpei meu quarto, meu banheiro, dei um trato na casa e tomei a decisão de não beber mais. Mas não largaria a noite, o futebol, as mulheres, os amigos, isso é que não! No início a estranheza dos meus amigos sobre essa mudança, mas depois acostumaram. Eu não precisava daquilo. Meus amigos também não. Bebiam porque bebiam. Um bebia, os outros bebiam junto. Só. Só fui beber novamente no dia 17 de dezembro. Um gole só. Sem querer, até. Foi na comemoração de um ano da conquista do titulo de campeão mundial pelo Internacional. Me alcançaram a taça e eu bebi. Tudo bem. O momento merecia. O Inter merecia. Eu merecia. Depois disso bebi mais algumas vezes. No réveillon e no carnaval. É. Está bem... eu não consegui parar de beber. Não que o álcool seja maior do que eu, mas é difícil. Não um martírio, nunca, mas é complicado. O fato é que eu já nem bebo quase. E que diabos isso tem a ver com esportes, com futebol? É que eu bebia muito mais quando eu não tinha 18 anos, quando era proibido. Agora que posso comprar e beber e ficar bêbado não compro, não bebo e não fico bêbado. E se tivessem me proibido de beber eu seguiria bebendo. Não é com imposições e muito menos com brigas que eu mudaria. Vagner Mancini tinha muita autoridade com os jogadores do Grêmio. Agora o trocaram por Celso Roth, um durão que não vai fazer o trabalho conciliador e invicto que fazia Mancini, ele vai gritar vai brigar e com isso vai perder. Falar alto, impor e brigar não quer dizer autoridade. Conscientizar e conversar sim.


Elder Nunes Junior
Texto publicado no Cenário de Notícias dia 20/02/2008.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Dono da 10

A sorte do Marcio é que ele é bonito. Sorte mesmo. Pois se não fosse isso não sei o que seria dele. Talvez já tivesse se matado ou se trancado em meio a livros e traças, como muitos “peganingue” fazem. Ele é meu amigo, mas só fala o que não deve. Esse sabe ser inconveniente. Principalmente com elas.
Mesmo assim tem, sempre, várias garotas afim de “ficar” com aquele besta. Por ele ser inegavelmente bonito algumas nem levam em consideração seus atos.
Agora ele vive pedindo conselho. Ele percebeu que seu filme estava queimado. E eu só o aconselho o seguinte: quando for falar ou se mexer muito, não fala não se mexe, não faz nada, pombas.
Pouco adianta. Uma e duas e ele volta como era antes e põe tudo a perder. E seu filme queimando... queimando... queimando...
Ele insiste em querer aparecer. E só dá furo. É que uma vez ele leu que pra chegar ao fundo do coração de uma mulher deve-se fazê-la rir. Sim, acredito. E é exatamente por isso que ele tenta; pena que não consegue.
E eu sigo insistindo: discreto Marcio. Discrição é a palavra. Dis-cri-ção.
Parece que não aprende que entra num ouvido e sai no outro. Agora diz que vai namorar uma morena-jambo com olhos de japonesa. Diz que é deslumbrante. Só quero ver quanto tempo dura se ele não mudar. Um mês no máximo.
Se ele conseguir namorar essa morena-jambo com olhos de japonesa, grande mérito é do degas aqui, que tanto o aconselha.
Aconselhar. É o mínimo que posso fazer. Não posso deixar ele perder uma morena-jambo com olhos de japonesa, ainda mais ela sendo deslumbrante. Nenhum amigo de verdade permitiria.
Outro que deve ter um amigo que o aconselha é o Roger, da Deborah Secco e do Grêmio.
Dum jogador como Roger, numa estréia, é esperado um brilho de meio-time, jogadas sensacionais e de preferência com gol.
Hoje o Roger precisa muito mais do Grêmio do que o Gremio dele. E ele, se não quiser ser um precoce ex-jogador, não pode deixar o estrelismo lhe tomar conta.
Um atleta que já afundou com tantos clubes e tantas lôras, que já fez tanto esforço pra não se afortunar têm mesmo é que estrear como estreou pelo tricolor pelo Gaúchão, discreto. Modesto, porém sem comprometer. Sem riscos.
Se continuar assim vai fazer com que os gremistas voltem a entrar em filas pela camisa 10.
Quem é craque não precisa usar mais que seu talento divino pra conquistar ídolos por onde passa. É só jogar seu futebolzinho e não falar bobagem.

Elder Corrêa Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias em 13/02/2008.