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terça-feira, 18 de março de 2008

CENTROAVANTES TAMBÉM CHORAM

Falar em quem tem talento é sempre uma honra. Por isso me prontifiquei para entrevista-lo. O Flávio, eu o conheço dês de a infância, quando jogávamos juntos nos campos de linhas imaginárias e goleiras de havaianas em ruelas e pátios vazios do Ipiranga na beira do rio Uruguai.Ele era o melhor centroavante dos campinhos do Ipiranga. Pegava em qualquer time de Pirinópoles do Sul.Ele é com as mulheres como é no futebol. Não dribla zagueiros nem namoradas. Quando está difícil de passar pela zaga, chuta de fora da área mesmo, mas costuma ter certa paciência pra esperar a hora de estufar as redes. Volta e meia faz um gol de placa; geralmente é simples, objetivo: domina, vira, bate... gol e é só correr pro abraço. E é aí que ele faz a diferença. Um artilheiro.Uma máquina de inspiração, palavras certas em momentos oportunos. Uma fábrica de gols, mas, principalmente, de reflexão e sorrisos alheios. Parceiro de tantas baladas, boemia e festas inenarráveis, que o tempo e a distância nos subtraiu.A entrevista era sobre ele ser o goleador do estadual. Fui até o vestiário, num dia de treino, mas com tantos assuntos para por em dia a entrevista propriamente dita não começava. E quando eu estava prestes a dar início ele abre seu armário e o que eu vejo...Uma foto!!!Depois disso não teria como começar a entrevista. Não era qualquer foto! Percebi em seus olhos que ele também queria conversar sobre ela, sobre ele, sobre eles.Um amor antigo. Alice fora sua namorada na adolecência, quando ainda jogava em juniores. Era uma bela morena, sim, mas via-se que engordaria ao passar dos anos. Não pensem que tenho algo contra as gordinhas. Me orgulho de cada uma que já fiz feliz. Passados meia dúzia de anos e ele ainda com foto dela no armário... estranho.Decidi que faria a entrevista mais tarde ou até outro dia e o convidei pra ir a um bar e tomar uns chopes com churrasquinho de gato, enquanto conversávamos sobre o assunto. A entrevista que espere.A julgar pelas mulheres que o procuravam depois dos jogos e gritavam: lindo, tesão, bonito e gostosão!” e sua fama de mulherengo, ele devia ser um baita comedor. Não teria o porquê cultivar esse amor pela Alice. Foi mais ou menos o que eu disse. E perguntei, ainda: quantas mulheres tu já comeu?E mais ou menos assim veio a resposta:"_Nunca contei mulheres! Comedor, eu? Não! Eu faço amor... – continuou, professoral – o sexo delas eu tenho, mas assim... casual. De fome é que eu não morro. Sobre ser mulherengo... aí é que está: elas pensam que sou canalha, o que torna-se uma decepção. Porque mulher comigo não paga, lhe dou atenção, sexo, carinho, amor, mando flores e alugo um filmezinho. E a Alice. Aquela mulher me atormenta. Ela está sempre nos meus jogos, passa o jogo me olhando, mas aos 45 do segundo ela some sem que eu consiga mais vê-la. Tenho sonhado com ela, isso quando não me tira o sono".Como pude julgá-lo tão mal? Como se um centroavante não amasse, não chorasse...Percebi que com as outras ele era feliz, mas é ela que o faz sofrer.
Elder Nunes Corrêa Junior

Texto publicado no Cenário de Notícias em 18/03/2008

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