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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um jornal para o povo

Um jornal para o povo

terça-feira, 15 de junho de 2010

Desabafo

Creio que não viverei tanto tempo. Ainda sou nova, mas já passei por várias experiências. A primeira delas foi uma agulhada que me encheu de esperança. Me apertavam, me entreolhavam e alguns segundos ganhei o ar, ganhei o mundo. Alguém que vestia algo que parecia um uniforme me ergueu como se fosse um troféu. Me olhou nos olhos e me deu um tapinha de saudação ao mundo.

Depois disso uma enfermeira me levou até o berçário. Todo mundo me olhava, queria apertar minhas bochechas, me tocar. Conseguia ouvir cochichos. Diziam que eu era diferente. Mais leve que o normal e mais espevitada também. Mesmo assim o pessoal me olhava com cobiça. Com gana. Com desejo. Fiquei toda boba. Toda exibida.

Até que me tiraram daquele aquário. Começava minha vida. Fizeram alguns teste comigo. Diziam que eu era superdotada, um prodígio, uma obra perfeita dos deuses. Depois de todos os elogios e saudações deixei que me usassem como bem entendiam. Qualquer um que se aproximava me tinha como queriam e podiam. Alguns até me controlavam, outros não tinham tanta intimidade comigo nem com minha família.

O tempo passava rápido. Na mesma proporção ganhava experiência nas viagens pelo mundo afora. Ganhei mais depressa ainda. O pessoal que antes me adorava passou a me fazer críticas severas. Parecia um complô. Era uma bola de neve. Todos decidiram falar mal de mim. Meu analista disse que era pelo meu rompante e além do mais eu já não passava tanta confiança para ninguém.

A culpa não era minha. Eu só queria ser amada. Tinha gente que até me beijava e abraça e me defendia. Afinal ainda existe Direitos Humanos. A imprensa me procurava. Virei manchete no mundo inteiro. Não conseguia me redimir. Continuavam me humilhando, me surrando, dizendo que eu era a ovelha negra da minha família. Eu era um cachorro morto e ainda me chutavam. De um lado para o outro. Ninguém queria conversa comigo. Diziam que eu era uma farsante.

Por alguns lugares que passei o ódio por mim é unânime. Não houve direito de resposta. Tudo aconteceu rápido demais. Em pouco tempo não aparecia mais em público. Só rodava por vilarejos. Ainda assim era motivo de chacota, mas o pessoal tinha o mínimo de respeito por mim. Em lugares mais humildes o pessoal se esmerava para me receber em casa. Apesar de dificuldades preparavam até churrasco para me recepcionar. Se eu era amada de verdade não sei, mas tinha gente que se exibia por estar por perto de mim. Pediam fotos e quase sempre marcavam novos encontros, mesmo sem entender meu nome e fazer confusão não cansavam de correr atrás, pena que vou morrendo a cada encontro. É por isso que vou fazendo minhas peripécias. Eu só quero ser amada e ficar para história.

Att,

Menina Jabulani

terça-feira, 1 de junho de 2010

Meu amor dos oito anos – Cap 2

Depois de todo impasse decidi que falaria com ela na saída do mercado.

Lá foi ela embora para o lado esquerdo. Agora era só seguir seus passos. A senhora da minha frente tinha apenas cinco itens no cestinho. Ligeirinho.

Minha vez no caixa. Coloquei tudo organizado na esteira. Pã,pã,pã,pã... tudo muito rápido.

Estendi meu cartão.

- Crédito ou débito? -Perguntou a moça do caixa.

- Crédito.- Respondi.

Passou uma, duas vezes e nada. Até que chamou o gerente ou fiscal. Nesass alturas do campeonato ela já devia ter chegado à esquina e tomado qualquer direção ou mesmo ônibus. Ou carro. Tomara que não esteja de carro. Cada segundo que esperava ali parecia uma eternidade. Fiquei cuidando na porta para ver se ela passaria de carro. Até que parou o caminhão do mercado na frente da porta, me tapando toda a visão da rua. Era tudo o que eu não precisava naquele momento.

Deixar as compras no caixa me passava pela cabeça, mas todo mundo pensaria que não tinha dinheiro. Se bem que não tinha mesmo. Só para o mês que vem. Mesmo assim. O fiscal já estava resolvendo. Pronto, resolvido.

Saí rápido para o lado que ela tinha rumado. Cheguei à esquina e nem rastro. Voltei até meu golzinho e andei por todas as ruas adjacentes ao mercado, mas não a encontrei.

Claro que eu não desistiria tão fácil. Até fazia planos de pendurar um borrego para ela. Troquei de rumo e fui em direção de onde ela morava nos tempos de colégio. Com sorte ainda moraria lá. Parei na frente da casa 83. A árvore no jardim era a mesma, mas a fachada mudou. Talvez ela também tivesse mudado.

Já não sabia se descia e perguntava para algum transeunte se a Kelly morava ali, ou se tocava a campainha. Eu era um poço de dúvidas naquele instante.

Acompanhe no próximo capítulo o que, afinal o nosso personagem decidirá fazer.