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sábado, 24 de outubro de 2009

Frio na barriga


Ainda não sei por que dizia para minha mãe quando era pequeno que não gostava de ir à aula. Se eu fizer uma retrospectiva dos melhores momentos da minha vida, certamente várias passagens estarão lidadas à escola. Lembro do frio na barriga que senti no primeiro dia de aula em cada colégio que estudei. E frio na barriga é um sintoma de grandes sentimentos. E o colégio é um lugar que proporciona diversas emoções e felicidades. Foi no colégio (na saída) que dei meu primeiro beijo, escorado numa árvore na pracinha dos amores. O frio na barriga que senti aquele dia foi o maior que havia sentido até então. Mas isso é outra história, só para ilustrar alguma das coisas que aprendemos na escola.


Pensei que já tinha passado do tempo ou me livrado dos frios na barriga. Engano. Essa semana começou de novo um friozinho. Uma brisa- bem de leve- no meu estômago. Mas está aumentando. Domingo passa. É por causa do Gre-Nal. E sabe como é Gre-Nal... é igualzinho ao colégio: me dá aquele frio na barriga e sempre me traz grandes alegrias.

domingo, 11 de outubro de 2009

Apartamento D8


Abro minha morada para que vocês possam conhecê-la. Tá. Na verdade é pra mãe conhecer, mas não sou egoista e compartilho com vocês, leitores.
Sejam bem-vindos.

No apartamento moram: Elder Junior, Juliano Medeiros e Pedro Lago ( que não estava no dia da filmagem).

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rumo à 10 mil



Leitores, chegamos juntos em 9 500 vizualizações em dois anos e tres meses, ou seja, 829 dias. São mais de 11 vizualizaçõesna média diária.

Por isso, quando chegarmos em 10 mil teremos a primeira premiação. Quem tirar o Print Screen desse número ganhará um livro Bola Esquerda.

Participe.
Boa Sorte.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Paixão efêmera

Conheço pessoas que afirmam que para ser feliz é preciso amar. Amar a família, os amigos, a terra, as arvores e até as alfaces. Sem esquecer, é claro, de um amor desses de tirar o fôlego e bater mais forte o coração. Porém, já ouvi vários relatos de quem já amou muito, já teve seu coração saindo pela boca e mergulhou em abismo de paixões, de onde sempre demorava para emergir, por isso agora dizem que ser feliz é amar a si mesmo e proteger-se. Eles defendem que o melhor romance é aquele com data para terminar.

Num pensamento rápido, é interessante essa corrente. Todo mundo que tem medo de se envolver demais com alguém, poderia se atirar em paixões programadas para terminar antes que ultrapasse seu limite e comece a amar. Haveria apenas paixão entre os namorados, casais e amantes. Seriam todos ficantes, na verdade. A volta da poligamia. A extinção da traição.
Mas fazendo uma reflexão maior, não sou adepto de paixão efêmera, que não possibilite o amor. Talvez não seja tão pós-moderno ou nem moderno para entender esses amigos que pensam assim. Tampouco confiaria plenamente em alguém que não se entrega os próprios sentimentos e propusesse datar a minha paixão.

É por isso que não acredito que Mário Fernandes possa levar o Internacional de volta à disputa do título do Brasileirão. Alguém que não quer vínculo duradouro (talvez não conseguisse mesmo) com o clube contratado e prefere ser apenas um tapa buraco, não merece minha confiança. No máximo meu respeito e torcida para que faça um bom trabalho encaminhe o colorado á Libertadores do ano que vem. Mas que isso sirva para em 2010 o Inter case com algum outro treinador. Algum de qualidade, que queira viver esse casamento. Que queira essa monogamia. Que mergulhe fundo nessa paixão sem data para terminar. Wanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho me parecem ótimos partidos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O dia que perdi um amigo




Agora restam as fotografias, as lembranças e as marcas de uma amizade. Foram muitas festas, muitas beberagens e muitos agitos. Foi junto ao meu melhor amigo que passei os melhores anos da minha vida. Uma amizade colocada à prova nos piores momentos, e que agora se eterniza em meu pensamento.
Quantas confusões entramos (e saímos) juntos, quantos bares e wiskerias, quantas sinucas, quantas cervejas, quantas professoras enlouquecemos, quantas armações, quantas vezes provamos e desafiamos a Lei de Murphy, quantas parcerias, quantas mulheres, quantos carreteiros e churrascos, quantos futebolzinhos, quantas apostas, quantas vibrações nos jogos do nosso Colorado, quanta coisa conquistamos juntos... Quantos “quantos” eu usei aqui... e ainda falta falar de muitos,mas alem do meu esquecimento faltou foi o tempo.
Sempre fiquei feliz com a alegria e sucesso dele, sei que ele sentia o mesmo. Talvez agora ele esteja feliz, mas é impossível que eu compartilhe este sentimento.
A pouco entrei na Capela. Todos em silêncio, sobriamente vestidos, a maioria de preto, tentavam segurar a emoção. Na chegada não conseguia entender o que um senhor - que mais parecia um profeta- falava, cheguei a pensar que fosse em latim. Eu estava longe do meu amigo. Tentava ver sua expressão, mas um lustre me escondia seu rosto.
O ambiente cheio de flores, alguns choravam muito, outros se contiam. E o senhor com a barba branca que parecia um profeta, não parava de falar. Minha inquietação me fez recordar tudo que passamos juntos. Ele era uma boa pessoa. Foi junto dele que percebi que um homem pode amar outro, alem de seu pai e irmãos. Eu o amava, agora vejo isso. Amava-o como um irmão, que nunca tive.
Mas só quando o velho da barba branca parou de falar que caiu a ficha e percebi que realmente havia perdido meu melhor amigo. Vou repetir as palavras daquele padre: “Eu vos declaro casados. Pode beijar a noiva.”

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A terra está mais vermelha

Tive a sorte de estar em São Gabriel na última vez em que o MST tomou a prefeitura. Pude testemunhar a caminhada do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra até o centro da cidade para que seus líderes pudessem ter uma audiência com o prefeito e o INCRA, onde se esclareceria, enfim, onde embargam os projetos de criação de uma escola, unidade de saúde, água potável e transporte nas proximidades do assentamento, já que mais de 500 famílias esperam por esses investimentos que há tempos já expiraram seus prazos e cada um desses órgãos repassa a responsabilidade para o outro.
Porém, o prefeito negou-se a receber, de forma pacífica e civilizada, a comissão para debate, quando então, a prefeitura foi tomada por aproximadamente 500 integrantes e simpatizantes do MST. A prefeitura estava vermelha, mas desta vez não eram com as bandeiras do PDT, Partido do Prefeito Rossano Gonçalves, mas sim as do MST que dominavam o local. O que não durou muito. Em poucas horas, a Brigada Militar já havia chegado de várias cidades, em vários pelotões e batalhões para retomar a posse da prefeitura, colocando todos os invasores sentados de forma organizada no pátio da prefeitura sob olhares de cachorros e mira de espingardas até que encaminhassem um a um à Delegacia de Polícia.
Isso me fez lembrar de outros movimentos e manifestações, como por exemplo, a dos estudantes da Unipampa, que uniram seus 10 campus na tentativa de pressionar a Reitora da Universidade para que as necessidades de cada curso sejam atendidas. Pelo que os líderes desse movimento explicaram, a culpa não é da reitora, sim do MEC, mas como a porta mais próxima da solução é a dela, foi lá que bateram. O que eles pediam era, entre outras coisas, laboratórios completos e sofisticados, prédios modernos e com grande infra-estrutura e professores qualificados em diversas áreas. Com todo esse argumento, pararam aulas, trancaram prédios e foram atendidos pela Reitora, que encaminhará cada pedido a órgãos superiores competentes.
Diferentemente dos Sem Terras, que estão há quase um ano acampados embaixo de lonas pretas, sem água potável, transporte atendimento médico e ensino, lutando por um pedaço de chão para trabalhar, e mesmo assim não são atendidos pelo Prefeito, que simplesmente falou que eles bateram na porta errada e que não investiria nenhum centavo da verba municipal nas proximidades do assentamento até que cheguem os 27 milhões do Governo Federal. Esquecendo-se que essa verba só não chegou até hoje por falta de um projeto para a área, obrigação do poder executivo municipal, a prefeitura.
O MST cansou de pedir de forma pacífica seus direitos constituidos na Carta Magna dos brasileiros, que é a Reforma Agrária de latifúndios improdutivos que não cumprem função social. Por não serem levados a sério, assim como os estudantes da Unipampa de Uruguaiana, que formaram parcerias a fim de tomar forma e dar maior suporte para discutir com a Reitora, o MST teve de criar métodos para crescer cada vez mais e mais. Aceitando, como filiados, pessoas que não são oriundas do campo. Mas como já salientei, isso é uma consequência. Se as reformas agrárias tivessem sido sempre nas mais rígidas determinações da lei, tanto para o MST, quanto nas desapropriações, quando o MST ainda não era tão numeroso e popular, existiria menos êxodo rural, mais agricultura familiar, que é a verdadeira agricultura forte, menos assistencialismo, como Bolsa família e do próprio MST.

* * *

Poucos dias depois da invasão da prefeitura, um grupo de Sem Terras ocupava parte da fazenda Antoniasi. A Brigada Militar, foi encaminha até lá para fazer a desocupação. O MST resistiria. A tensão pairava no ar. Todos rezavam para saírem ilesos, tanto os Sem Terras, quanto os brigadianos. Nessa ocupação, estava Elton Brum, trabalhador rural, pai de dois filhos. Ele lutava para que fossem cumpridas as funções sociais naquela região. Carregava em sua enchada, o sonho de um dia dar um futuro melhor que o seu a seus filhos. Daria a volta por cima. Sonhava em em produzir naquele chão durante toda a sua vida. Aquela terra que era desperdiçada, seria seu local de trabalho, seria a sua terra. O futuro de seus filhos. Era ali que ele queria trabalhar, repassar o cuidado do campo, morrer e ser enterrado.
O clima era hostil. O medo era uma constante no pensamento de todos. De um lado, os soldados com armas de fogo, cavalos, espadas, cachorros; de outro, pessoas famintas, de chinelos, foices, pedras, enxadas, lanças de madeira ou o que tivessem por perto. Seu sonho seria abreviado ao fim. As tropas da Brigada avançaram à sua trincheira. Dali, ele só pensava em seus filhos, que poderiam estar sendo agredidos pelos policiais logo ali, em meio às mulheres do movimento. Mas não teve muito tempo para pensar. Foi tudo muito rápido. Os cachorros, as espadas, as espingardas... Era uma briga desigual, mas os Sem Terras estavam em maioria. Todos puderam ouvir quatro estopins. Eram das espingardas calibre 12 que a brigada usava na operação. Todos se olhavam, torcendo para que não tivessem acertado nenhum dos seus, e foram atirando-se no chão. Menos Elton Brum. Ele não teve tempo de se atirar, caiu sangrando no chão, sem nem ao menos ver de onde veio a bala, que lhe acertou as costas.
Acabava ali o sonho de um homem que queria ver aquela terra, que agora é vermelha de seu sangue, gerar alimentos e o sustento de sua família. Provavelmente acaba ali também, o futuro de seus filhos, que carregarão para sempre na memória, a imagem de seu pai jorrando sangue pelas costas em mais um massacre da Brigada sobre quem quer trabalhar na terra.