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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ela Engana

Ela não falava palavrão. Creio que a última vez que arrotou foi lá pelos seus dois ou três anos. Bebe pouco. Enfim, uma mulher perfeita pra se casar por uns seis meses. É. Porque mais que esse tempo ninguém agüenta.Festa ela faz, mas assim... discreta. Não arrisca passinhos ousados, por isso jamais fez fiasco em baile nenhum.Mulher pra casar - sentenciaria minha mãe se a ouvisse falando suave em sua voz de doce de leite na mesinha do Cassino’s Bar, com suas caras e trijeitos.Uma baita gostosa – foi o que pensei quando ela foi se levantando pra fazer sei “xixizinho”, como ela disse - sem jeito, faces róseas.Não sei por que ela disse que faria um “xixizinho”. Quem, afinal, se interessaria em saber o que ela vai fazer no banheiro. Que fosse cagar, retocar o gloss ou até mesmo trocar o modes. Ainda mais uma lôra daquelas, que só de começar a falar, faz todos calarem para ouvir sua voz de mumu.Ela sempre falava: “vou fazer um xixizinho”. Sempre. Não podia sair sem ir fazer seu “xixizinho”. Ô mulher que mija, essa.Mulher pra ver no que dá - diria meu pai, ao me olhar pensando em acrescentar: “vai meu filho, arrebenta ela pelo meio”.Dizem que o pai sabe das coisas. Por isso fui ver até onde vai.Conversa vai, conversa vem. Beijinhos aqui, beijinhos ali. Carinhos e carícias cada vez mais quentes e a coisa ia se concretizando. Feitooooo. Gol do Brasil.Namoramos como planejara. Com o passar do tempo fui me angustiando em conviver com uma mulher que não fala palavrão, não arrota nem peida. E que mal eu largo o copo de refri e ela já pega pra lavar. Não entende piadas e quando conta alguma é do tipo: “sabe a piada do não e nem eu?”. Nem Jó agüentaria.Lá por meados do quarto mês eu estava pronto pra terminar o namoro na aurora, mas o que aconteceu naquela madrugada lhe rendeu mais um mês de crédito comigo.Ela peidou. Eu peidava também, mas não era aquilo. O peido dela foi maravilhoso. Cheiro da flor da maçanilha. Parecia um balão sendo esvaziado pelo ventil, o som ecoado por suas nádegas de algodão e ferro.Verdade que não aprecio peidos, mas aquele foi simbólico. Devia ter filmado. Maria Clara peidando na frente de alguém era inédito. Mostraria o vídeo pros meus netinhos.Ela ficou envergonhada por uma semana, o que me deu nos nervos. Devia ter terminado, com peido ou sem peido. Mas só terminamos depois de mais algumas semanas e ela ficou tão chateada comigo que nem me olha mais nos olhos e nem vai aos lugares aonde íamos.Quais banheiros ela anda freqüentando será?Um dia alguém vai ter que me explicar porque diabos ela diz que vai fazer um “xixizinho”.Peraí!Vai ver ela não fazia “xixizinho” nenhum, aquela peidorreira...
Elder Nunes Junior