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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

El Caricato

Admiro muito os caricatos, sua arte seu humor, sua hipérbole...
A beleza não chama muito minha atenção, prefiro a feiúra, ela tem graça, novidade, é inusitada. A beleza todos conhecem, é simples. O feio é complexo. E a caricatura, geralmente, destaca a parte feia de quem posa, pois dificilmente o belo mereça a ênfase da caricatura.
Por valorizar tanto este tipo de desenho, quando fui à capital uruguaia, procurei, numa feira livre próxima de onde estava almoçando, algum caricaturista. Não encontrei e pedi a um senhor que, ao vê-lo passar, viesse me encontrar no restaurante.
Já estava desesperançado em encontrar alguém para fazer minha caricatura- apesar de já ter ouvido dizerem que eu era uma caricatura de verdade- quando, com uma prancheta rabiscada no braço, um terno cinza bem surrado e um olhar perdido, chega o dito cujo perguntando quem era o “mutiatio” que havia lhe chamado. Antes de responder que tinha sido eu, pensei: o que significa “mutiatio”? Minha ansiedade fez com que eu erguesse o braço sem indagar sobre aquela expressão.
Me mandou que sentasse a sua frente. Sentei. Todos me olhando, fiquei meio sem jeito.
_Espera! Se eu não ficar bonito, não vou pagar!
E ainda acrescentei que o corpo fosse feito com a camisa do Brasil, e a número nove. Só isso.
Me pus acomodado na cadeira novamente, estampei um sorriso falso, que daquela vez não foi assim tão simples como de costume. Os traços que ele fazia geravam risadinhas e cochichos de quem o via desenhar. Porém, o rosto de quem olhava era impassível. Todos riam. Estaria bonito? Engraçadinho? Ou muito feio?
Enfim, ele mostraria. Fez certo suspense, que me deixava cada segundo mais próximo de um ataque de nervos. Todo pimpão e orgulhoso, enfim, ergueu o quadro para que todos pudessem ver. As pessoas aplaudiam minha caricatura.
Ufa... Fiquei lindo na caricatura. Acho que ele temeu não receber. Cada detalhe exatamente como eu sou, só o nariz não foi tão grande, bondade dele. Enfatizou meu sorriso, o que mais gosto em meu rosto. Me deixou com o sorriso do Coringa, olhos fundos, graúdos e marcantes; o cabelo igualzinho. Tudo perfeito. Lindo. Ele é um gênio.
Eu admiro, sim, a feiúra, mas não a minha.


ELDER CORRÊA JUNIOR